“Manifestações podem ganhar força e tornar impeachment viável”, diz advogada
Possibilidade de um impeachment divide os especialistas que analisam se existiria embasamento legal para a retirada de Dilma do poder
As manifestações do último domingo (15/03), contra a presidente Dilma Rousseff (PT) e o governo do PT, tem gerado grande repercussão no meio político, econômico e social do país. A possibilidade de um impeachment divide os especialistas que analisam se existiria embasamento legal para a retirada de Dilma do poder, encerando o ciclo de mais de 12 anos do governo petista à frente da presidência do país.

De acordo com a advogada eleitoral Georgia Nunes, uma manifestação com menos de 2 milhões de brasileiros não teria força para provocar um impeachment. Mas segundo ela, o movimento tem se articulado e se a pressão da sociedade civil for cada vez maior, o Congresso poderá levar adiante um novo pedido de abertura do processo contra a presidente. Desde 2012 até agora, pelo menos 12 pedidos de impeachment já foram impetrados contra Dilma.

Para que o Congresso aceite o pedido de impeachment contra Dilma Roussef, é preciso comprovar que a presidente tenha praticado atos como crime de responsabilidade ou corrupção. É necessário contar ainda com a ampla vontade política da maioria para que Dilma deixe a presidência.
“Até esse momento não foi provada a participação da presidente em nenhum desses crimes previstos na lei. Mas a vontade popular tem crescido. Menos de 2 milhões de pessoas nas ruas não é capaz de levar ao impeachment da presidente. Mas o número aproximado de 1 milhão de pessoas que foram as ruas no domingo poderá aumentar. Se isso ocorrer o movimento pode ganhar força”, destacou.
IMPEACHMENT NÃO LEVA A NOVA ELEIÇÃO
Ao mesmo tempo em que o pedido de impeachment tem ganhado força no país, é visível a desinformação e as dúvidas sobre o tema. Ao contrário do que muitas pessoas ainda acreditam, a concretização do pedido de impeachment da presidenta Dilma Roussef (PT) não leva a realização de uma segunda eleição no país.

Com a possibilidade da saída de Dilma, o posto de presidente do país será assumido pelo vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB). Ele foi eleito na mesma coligação que elegeu a petista e representa os interesses políticos do grupo que está no poder.
De acordo com a legislação, caso Michel temer não possa assumir o cargo por algum tipo de impedimento, a presidência seria assumida pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB). Se ele também estiver impedido, viria o presidente do Senado Federal, Renan Calheiros (PMDB), e por último o presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski.
Para que Aécio Neves pudesse tomar posse, haveria a necessidade da cassação da chapa completa que elegeu a presidente no segundo turno das eleições de 2014. Mesmo que ocorra o impeachment, os eleitores do tucano terão que esperar até o processo eleitoral de 2018.
FATORES POLÍTICOS E ECONÔMICOS
O professor de Ciências Políticas da Universidade Federal do Piauí (UFPI) explica que o movimento que pede o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), seria motivado por fatores políticos, mas também, econômicos. Segundo ele, as manifestações do domingo (15/03) seriam continuidade das passeatas de 2013.
Vitor Sandes afirma que a crise do governo Dilma se acirrou com as denúncias de corrupção na Petrobras e a abertura da operação Lava Jato pela Polícia Federal. Mas segundo ele, o estopim da crise foi o pacote econômico anunciado que afetou diretamente a classe média.
“A corrupção na Petrobras envolve políticos ligados diretamente ao governo Federal. Isso ampliou a força do movimento oposicionista disperso na classe média tradicional, porém sem lideranças claras. O estopim foi o pacote econômico que provocou o aumento do preço dos combustíveis e da energia elétrica, o que possibilita um aumento em cascata em diversos produtos e serviços”, destacou.

DISCURSO DE GOLPE VISA DESARTICULAR MOVIMENTO
O professor Vitor Sandes afirma que as manifestações são legítimas. Segundo ele, o discurso de golpe político seria uma forma de “deslegitimar” o movimento anti-Dilma. “Não acredito que este seja o discurso oficial do governo. No entanto, é a visão de muitos militantes e apoiadores do governo federal. Acredito que é uma forma de deslegitimar o movimento anti-Dilma, já que esse tem bases sociais principalmente na classe média tradicional do país”, disse.
Sobre a possibilidade do impeachment desencadear o retorno do país ao período de ditadura militar, Vitor Sandes afirma que a possibilidade é muito pequena. “O risco ainda é baixo. A classe política entende que o impeachment pode jogar todos os partidos para a vala comum, ampliando os riscos da imprevisibilidade, o que aumentaria as chances do surgimento de políticos outsiders. Político é um sujeito racional e ainda mais liderança política, que possui recursos a seu dispor, em muito pelo trânsito que possui junto ao governo federal. O custo político do impeachment é muito alto ainda, mas é uma possibilidade real, caso o diálogo não seja reestabelecido e um modelo de consenso adotado”, destacou.