Quem buscou atendimento na manhã de hoje (16) nos hospitais públicos da rede estadual em Teresina e no interior encontrou falta de informação e frustração. É que os médicos do Piauí iniciaram hoje a paralisação de suas atividades, reivindicando melhores condições de trabalho e o cumprimento do plano de cargos e salários por parte do Governo.
Como somente os atendimentos de urgência e emergência estão funcionando (30% dos serviços, como prevê a lei para serviços básicos), as consultas que estavam marcadas para esta semana tiveram que ser remarcadas e muitas delas foram agendadas para daqui a 40 dias, ou seja, final de agosto. O pescador Orlando Rodrigues, que veio do interior com sua esposa para marcar a consulta de retorno da sogra, reclamou da demora no atendimento e da falta de informação.
“Tem mais de 30 pessoas na minha frente e de uma para a outra é mais de 15 minutos. Me sinto sendo tratado como um cachorro, porque não temos condição de marcar por um plano particular e o médico quando atende sequer olha na nossa nara. A gente fica sem saber pra onde correr, porque sem dinheiro, não vai conseguir nunca uma cirurgia ou atendimento dignos”, lamenta.
Profissionais da medicina pedem melhores condições de trabalho, reajuste salarial e outras demandas (Foto: Ascom Simepi)
O taxista José Martins também é outro que tinha consulta para marcar, mas encontrou os profissionais parados e os atendimentos reduzidos em mais da metade. Em conversa com a reportagem de O Dia, ele comenta que terá que repetir os exames que fez em maio do ano passado, porque eles já venceram sem que ele conseguisse marcar o retorno médico. “Eu tenho catarata, estou quase cego, minha consulta era para acontecer na quinta-feira, mas com essa greve, não tem como. Eu nem reclamo dos profissionais, porque a culpa é do governo e da política que virou a saúde”, pontuou o taxista.
Entre as reivindicações dos médicos do estado está a concessão do reajuste de 3,43% no piso salarial pelo governo, conforme determinou a Federação Nacional (Fenam) em maio deste ano. Daquele mês até hoje, já é a quarta vez que a categoria cruza os braços no Piauí para chamar atenção das autoridades para a situação da saúde público piauiense. Segundo os profissionais, faltam insumos, medicamentos, equipamentos e até mesmo profissionais para atender à população.
Samuel Rêgo, presidente do Simepi (Foto: Ascom Simepi)
A macrorregião de Picos, que é o segundo maior polo de saúde do Piauí, atendendo a 60 cidades, e é referência para mais de 500 mil habitantes, a situação é definida pelos profissionais como precária. José Almeida Leal, diretor do Simepi na cidade, explica que os casos de média e alta complexidade não podem ser atendidos no interior pela falta de estrutura e que muitos pacientes não conseguem resistir à transferência para Teresina.
“Quem precisa operar de hérnia de disco, varize ou cirurgia ortopédica, tem que vir pra capital para marcar no HGV, mas até esse hospital não aguenta mais a demanda do estado todo. Sofre a população, sem atendimento digno, e sofre o profissional, que não consegue fazer o próprio trabalho e salvar vidas”, destaca José.
Valrian Feitosa, diretor do Simepi, afirma que os hospitais do interior se tornaram um “depósito de pacientes” e criticou o Governo pela falta de diálogo e falta de propostas para melhorar essa situação. Segundo ele, as unidades hospitalares do estado nos demais municípios sofrem com um esvaziamento de médicos especialistas. “A ideia de trazer o paciente na ambulância para cá não funciona mais. Tem que ter atendimento é onde eles estão”, disse.
A paralisação dos médicos continua até a próxima sexta-feira (19). As consultas marcadas para este período terão que ser reagendadas e somente os serviços de urgência e emergência permanecem funcionando normalmente. O Simepi, por meio de seu presidente, o médico Samuel Rêgo, disse que ainda não recebeu nenhum posicionamento do Governo e reiterou que enquanto a situação não for resolvida, os profissionais poderão paralisar outras vezes ainda este ano.
Outro lado
O coordenador de Atenção Primária à Saúde, Herlon Guimarães, disse que a Secretaria de Estado da Saúde (Sesapi) reconhece as reivindicações dos médicos e pontuou que o órgão está em mesas de negociação com a categoria e o governo para sanar a situação. “A gente precisa falar que as melhorias nas condições de trabalho são um processo contínuo e o estado faz isso de forma contínua. Mas precisamos destacar também que ainda temos um impeditivo, que é a LRF [Lei de Responsabilidade Fiscal]”, explicou Herlon.
Segundo, é pelo estado estar no limite prudencial da LRF, que não pode fazer contratações nem conceder reajuste no momento.
fonte www.portalodia.com