A senadora Regina Sousa (PT-PI) foi a 36ª oradora a subir na tribuna do Senado Federal durante a sessão para votação do relatório da Comissão Especial do Impeachment sobre a admissibilidade do processo contra Dilma Rousseff. Em defesa da presidente, a petista foi aplaudida ao pedir votos de Ciro Nogueira (PP) e Elmano Férrer (PTB), colegas de bancada, e arrancou risadas ao comparar o caso da presidente com a fábula do lobo e o cordeiro.
Ela abriu seu discurso informando que uma delegada do Piauí foi agredida durante uma manifestação que acontece do lado de fora do Congresso Nacional. O ato violento teria, segundo a senadora, partido da polícia. "Uma delegada do meu estado, Elizângela, foi para o hospital com suspeita de fratura na perna. Já fizemos manifestações imensas neste local com grupos de lados opostos e sem conflito. Será que este já é o jeito Temer de tratar as manifestações?".
Abrindo para a defesa da presidente, Regina disse que sua intenção não é tratar de pedaladas, "se houve crime ou não".
— Vou falar de política. Foi a política que decidiu que a presidente não governaria. Depois de apontar a criminosa, partiu-se para achar o crime. Este país já passou por várias crises graves, inflação, taxa de juros... Esqueceram ou estavam em outro país — diz ao citar os motivos de critica à presidente.
Regina mencionou que durante o processo "valia tudo para derrubar Dilma". Foi acusada de não poder tratar de ajuste fiscal, não poderia ter discurso sindicalista, cita a senadora, lembrando ainda que o pacote anticorrupção enviado pela presidente ao Congresso sequer foi lido, bem como o boicote no orçamento no final de 2014, que foi empurrado para 2015. Ela menciona ainda que os escândalos de corrupção foram usados contra a presidente.
Fotos: Marcos Oliveira/Agência Senado
— Aproveitaram-se da Operação Lava Jato com apoio do Judiciário, Ministério Público, da Polícia Federal, de uma rede de TV [Globo], jornais e revistas golpistas. Acabou-se o segredo de justiça, tudo estava na Rede Globo. Grampeou-se um ex-presidente, a presidente da República, mas ninguém quis saber da CPI do HSBC, do Listão da Odebrecht ou Panama Papers. Não vem ao caso, Lula não está lá — diz a senadora completando que o juiz Sérgio Moro, que coordena as investigações da Lava Jato, é "encegueirado" no Lula.
No seu discurso a petista aproveitou ainda para alfinetar o deputado federal Heráclito Fortes (PSB), a quem ela chamou de um dos "mentores da conspiração" pelo "golpe" contra Dilma, processo que segundo ela começou logo depois da posse. Acusou ainda Janaina Paschoal, uma das autoras da denúncia contra a presidente que resultou no processo de impeachment, de ter recebido R$ 45 mil para elaborar o documento.
— Talvez seja por isso que vá ser ministro da Educação — afirma a senadora sobre Heráclito.
Esse grupo conspirador, segundo Regina Sousa, teve o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, Nelson Jobim, como um dos agentes jurídicos.
— Logo, logo vai ficar claro quem vai pagar o pato. Os negros, indígenas, mulheres, população LGBT, religiões de matriz africana, política de cotas, Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida e Luz para Todos. Aguardem —, alertou Regina.
Perto de finalizar seu discurso, a senadora relembrou a votação na Câmara Federal, fato que ela qualificou como "espetáculo dantesco.
— O voto não foi pelo país, foi pelos filhos e filhas, parente e aderentes. Só faltou o voto pelo direito da cachorrinha comer ração do exterior. Foram momentos de deboche. Sem falar no componente sexista desta questão — disse, seguindo com a narração da fábula do Lobo e o Cordeiro, arrancando risos dos senadores.
A piauiense seguiu dando sua previsão de que a Operação Lava Jato, que investiga corrupção na Petrobrás, vai acabar para alguns, mas continuar para "tirar Lula do jogo", mas ressalta que "uma hora a população vai cobrar imparcialidade".
Regina repetiu o discurso que nos 180 dias em que a presidente deverá ser afastada, o PT seguirá na oposição, "lutando para colocar as coisas no lugar.
— Aprendemos que deslealdade e traição não tem perdão. Dilma estará conosco nos dando força com seu coração valente — defendeu.
Encerrando a leitura de seu discurso, Regina aproveitou os minutos restantes para pedir os votos dos seus dois colegas de bancada, os senadores Ciro e Elmano.
— Quero me dirigir ao Ciro, que foi meu aluno, a quem dei muita nota 10. Quero lhe dar outra nota 10, por favor, vote com a gente. E Veim [Elmano], quero continuar caminheira com o senhor, por muito tempo, espero seu voto — finalizou.
fonte 180graus.com