Depois de panelaço, Dilma é vaiada
Expositores da feira organizaram um coro de vaias à petista. Na sequência, entoaram gritos de "Fora PT"
Dois dias depois do panelaço que marcou seu pronunciamento em rede nacional de rádio e televisão, a presidente Dilma Rousseff foi recebida nesta terça-feira com vaias em São Paulo. Ela visitou o Salão Internacional da Construção no Pavilhão do Anhembi e, antes mesmo da entrada da presidente, expositores da feira organizaram um coro de vaias à petista. Na sequência, entoaram gritos de "Fora PT". Ao falar no evento, porém, Dilma sequer fez menção ao ocorrido. E insistiu em um discurso baseado no seu pronunciamento de domingo, negando a realidade e repetindo frases que os brasileiros, como fica cada vez mais claro, já estão cansados de ouvir.
O protesto teve início quando os expositores perceberam a movimentação de fotógrafos e cinegrafistas que se deslocavam para registrar a comitiva presidencial. Dilma entrou pelos fundos e, depois das vaias, alterou seu trajeto. O ministro da Comunicação Social, Thomas Traumann, chegou a se aproximar do local por onde Dilma deveria caminhar para medir a extensão da manifestação. E decidiu, então, mudar o roteiro para blindar a presidente do protesto. As vaias, contudo, acompanharam Dilma ao longo dos estandes. Por esse motivo, a presidente encurtou a visita à feira, e seguiu rapidamente para um espaço fechado no evento, onde discursará. Alguns expositores mais exaltados chegaram a se referir a Dilma como "ladra".
Discurso - Ao discursar na cerimônia de abertura da feira, Dilma mais uma vez deu mostras de seu isolamento - e ignorou as vaias que tinha ouvido a poucos minutos. Também não fez referências aos desdobramentos da Operação Lava Jato, que atingiu as principais construtoras do país e mergulhou seu governo na maior crise política desde o mensalão. Antes de dar a palavra a Dilma, o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Material de Construção, Walter Cover, cobrou que o país encontre uma solução para não paralisar o setor, impactado pelas investigações.
"Estamos entre os que acham que, sem deixar de punir quem cometeu malfeitos, é preciso encontrar uma solução institucional para que as pequenas e médias empresas não fiquem paralisadas. Elas deixaram de vender por falta de confiança no recebimento", disse Cover.
Por cerca de 30 minutos, Dilma repetiu os principais pontos de seu pronunciamento na TV por ocasião do Dia Internacional da Mulher. Enumerou o crescimento do setor da construção desde o governo Lula por meio de estímulos ao crédito, de subsídios para casa própria e obras de infraestrutura e defendeu o ajuste fiscal com corte de gastos, sem impactar programas sociais e obras já contratadas.
"O Brasil fez de obras públicas um fator de expansão da economia. Nós fizemos uma primeira etapa do ajuste protegendo emprego, desonerando e subsidiando pesadamente governos estaduais e investimento. Nós vamos ter de ajustar. Não estou dizendo que vamos acabar com toda a concepção política. Por exemplo, o Minha Casa Minha Vida permanece intacto. Bolsa Família permanece intacto. Mas outros programas, não é que vamos acabar com eles, é preciso fazer uma distinção."
Dilma confirmou, porém, a necessidade de reajustes na desoneração da folha de pagamento e no programa de sustentação de investimentos do IBGE. "Nós não podemos manter a desoneração da folha. É preciso um reajuste nas tarifas. Nós mantivemos o subsídio, só que em níveis menores". Ela repetiu, por diversas vezes, que "é verdade que o momento do país é mais difícil" e que o "problema é conjuntural". No fim do discurso, ela fez um apelo aos empresários.
"Não deixem que as incertezas conjunturais determinem sua visão de futuro do Brasil. Nossa economia tem fundamentos sólidos. Nós temos todas as condições de passar a uma nova etapa". A presidente fez também acenos ao setor. Prometeu lançar a terceira fase dos programas Minha Casa Minha Vida (contratar 3 milhões de moradias até 2018) e PAC, além de novas concessões e PPPs para aeroportos, hidrovias, rodovias, portos e ferrovias.