sábado, 2 de novembro de 2013

Fernanda Lages: A “morte moral”

Fernanda Lages: A “morte moral”


Por Miguel Dias Pinheiro

Para se descobrir o que realmente ocorreu na morte da jovem Fernanda Lages, tudo valeu à pena! Valeu à pena a indignação! Valeu à pena o destemor de muitos! Pelo menos ficou demonstrado e comprovado que no Piauí temos, sim, pessoas corajosas, indignadas com o descaso das autoridades e sequiosas pela busca da verdade.

No decorrer da semana, uma notícia nos causou outra indignação, de que as pessoas mais próximas e que conviveram com a jovem estudante até hoje não foram ouvidas na autópsia psicológica, apesar da família ter repassado aos peritos uma vasta relação de nomes. O fato, evidentemente, causa temor e desconfiança nas instituições incumbidas de zelar pela seriedade e decência pública. Sobretudo para os operadores do Direito, que entendem juridicamente como se proceder a uma perícia de tal porte. Preocupante a informação, induvidosamente!

Assim ocorrendo, sem a oitiva das pessoas mais próximas da jovem, como amigos, amigas, colegas de trabalho e de escolaridade, qualquer resultado da autópsia será “capenga”, merecendo, pois, a contestação e a impugnação do Ministério Público, que por imperativo legal deve – e deverá – se insurgir contra o mesmo, tendo em vista o interesse público imediato.

A se confirmar a informação de Cassandra Lages, “além da queda, o coice”... A família terá agora uma “morte moral”, porque o laudo tenderá a opinar pela tese esposada pela polícia, identificando que a jovem se suicidou, direcionando o inquérito policial para o arquivamento.

Sem esgotar todos os meandros na investigação psicológica, como denunciado pela família, evidencia-se que naquelas circunstâncias, naquele local e com as informações preliminares que vazaram da própria polícia momentos depois que encontraram o corpo, Fernanda Lages jamais teria se suicidado. Fatos que contra os quais não se tem argumentos!

O suicida, como dizia Alfred Adler, “reclama um poder a todo tempo, não permitindo que a interação dele com o chamado "destino" permeie sua vida. Almeja ser o carrasco de si por não aceitar a submissão a qualquer tipo de evento que fuja de seu domínio”. Como identificar isso, psicologicamente? Somente ouvindo o maior número de pessoas possíveis que desfrutaram do convívio da moça, inclusive desde a fase infantil.

“A essência do período infantil é "sugar" em todos os aspectos; na adolescência a ênfase é no desligamento perante os pais para que supostamente possa ser experimentada a liberdade ou determinados prazeres proibidos na fase anterior; o poder adulto se traduz principalmente na sobrevivência econômica, segurança material e emocional. Todo ser humano avança e retrocede nestes três pólos; e a tarefa da psicologia é simples: verificar quais deles estão inundando o consciente e inconsciente da pessoa” - leciona o psicólogo paulista Antonio Carlos Alves de Araujo.

Com nossa experiência forense, calcada na informação prestada pela tia da jovem, os peritos incumbidos da autópsia psicológica devem concluir que, “...pelas características das lesões sofridas, aliadas ao que consta no laudo do local da morte e alicerçado por todo o seu histórico de vida, Fernanda, infelizmente, pulou para a morte, em busca da ansiada autoeliminação”.

Se isso ocorrer (que me esforço para não acreditar), além do assassinado de Fernanda Lages agora a oficialidade impinge à família a “morte moral”, o sofrimento duplo, o que importará em outra inominável humilhação. A esperança restará apenas em Deus?! Estará tudo consumado?! Para Deus, para nós?! Uma desgraça! Será consumação da vitória dos canalhas?! Uma vergonha para o Estado.

*Miguel Dias Pinheiro é advogado