domingo, 8 de março de 2015

A prazerosa e discriminada profissão feminina de trabalhar nos motéis de Teresina


A prazerosa e discriminada profissão feminina de trabalhar nos motéis de Teresina

O portal  foi conhecer um pouco mais das mulheres que trabalham nos motéis de Teresina. Ouviu histórias, curiosidades e polêmicas dessa profissão

Não há números exatos de quantos motéis e “pousadas” há em Teresina. Estimativas dão conta de que esses estabelecimentos de alta rotatividade em termos de hospedagem passem dos cem na capital do Piauí.
Atividade nos motéis de Teresina é feito quase que totalmente por mulheres. O Olho acompanhou bastidores. Foto: João Brito Jr / O Olho.
Há motéis, ou pousadas (como são identificados alguns dos motéis mais simples) em todas as zonas da cidade. Dos bairros mais ricos até as regiões mais pobres há um motel. Estabelecimentos para todos os gostos e bolsos.
Os mais baratos cobram R$ 8,00 por duas horas de hospedagem para duas pessoas. Mas há suítes por até R$ 300 para hospedagem de três horas para duas pessoas (ou até para três, se for um homem e duas mulheres – dois homens e uma mulher pagam como dois casais, o dobro).
Foi nesse mundo de muitas histórias, de locais que fascinam, instigam a curiosidade e a intimidade de muita gente que a reportagem do portal se aprofundou por uma das profissões que mais envolvem o trabalho de mulheres em Teresina, as profissionais dos motéis.
Motéis povoam imaginário de parte da população. Foto: João Brito Jr. / O Olho.
Foram conhecidas histórias de quem trabalha nesse ramo. Ouviu-se relatos de muita felicidade e prazer em se atuar nesses lugares. Conheceu-se também paradoxos e muitas histórias em estar em um dos lugares em que se mais pratica intimidades. Mas também ouviu-se relatos de discriminação e assédio por parte de clientes mais exaltados.
Foram visitados e conhecidos histórias de motéis simples aos motéis de luxo e nota-se que, de acordo com o tipo de estabelecimento, o nível de felicidade e discriminação sofrido pelas funcionárias muda completamente. O fator sigilo e contato direto ou não com o cliente é crucial na possibilidade das funcionárias serem ou não assediadas.
Ouviu-se muitas trabalhadoras de motel. A maioria não quis se pronunciar diretamente e quase todas sequer deixou-se fotografar ou quis se aprofundar em histórias.
Atualmente, por conta da violência e também pela maior frequência de pessoas comprometidas (principalmente casados e casadas) não há um horário mais frequentado. Dos motéis e pousadas visitados há alguns com movimentação maior durante o dia.
Somente no período da manhã é que a movimentação cai um pouco. Geralmente os clientes passam hospedados de uma a três horas, podendo deixar rastros de muita sujeira ou um quarto praticamente sem ter sido usado.
Não há público definido dos usuários dos motéis de Teresina, mas atualmente aposta-se em nichos específicos como swingers (que gostam de sexo coletivo e troca de casais) e pessoas com deficiência física. Esses e outros públicos já têm quartos específicos para satisfazerem seus prazeres em alguns motéis de Teresina.
PROFISSÃO QUASE TOTALMENTE FEMININA
Aproximadamente 90% das pessoas que trabalham em motéis e pousadas em Teresina são mulheres. Há poucos estabelecimentos em que há o envolvimento de tantas pessoas do sexo feminino.
Marlene Carvalho: deixou emprego em boutique para trabalhar em um motel. Diz gostar do que faz. Foto: João Brito Jr. / O Olho.
Boa parte das mulheres que trabalha nos motéis está recepcionando clientes, atendendo pedidos de chamadas e contas e, principalmente, participando de arrumação e supervisão dos quartos, já que muitos têm uma rotatividade de quase 500 clientes por dia (há motéis com quase cem apartamentos). Os homens geralmente atuam na conservação e segurança. Diretamente com os clientes os contatos é feito quase sempre por mulheres.
“Tenho muito orgulho de trabalhar aqui”, disse Marlene Alves de Carvalho, 34 anos, que trabalha no Motel Afrodite (um dos mais chiques de Teresina).
Enquanto arrumava a suíte destinada para uso coletivo de casais Marlene Carvalho, casada e na profissão há três anos, contou que já trabalhou até em uma boutique, mas que terminou pedindo demissão por valer a pena mais trabalhar em um motel. Entremeio à limpeza de duas das camas da suíte, da banheira em local climatizado e de muitas bebidas e preservativos deixados pelo chão destacou não sofrer discriminação. “Todos da minha família sabem o que faço e nunca ninguém se incomodou com isso”, complementou.
Os salários de quem trabalha nesse tipo de estabelecimento varia muito em Teresina, mas a maioria ganha menos de R$ 1.000,00 por mês para trabalhos em regimes de plantão. São 12 horas de labuta por 36 horas de folga (geralmente em turnos de 7h às 19h e das 19h às 7h).
PRAZER EM TRABALHAR EM MOTÉIS
A simpatia é a marca registrada de três trabalhadoras do Afrodite Motel (localizado na zona Leste de Teresina e também um dos mais caros da cidade).
O motel de luxo é gerenciado pela mais que simpática, paciente e dedicada Josirene Nogueira de Araújo Oliveira, 44 anos, casada, nove trabalhando em motéis. Responsável pelo gerenciamento de 43 funcionários, sendo 34 mulheres, fez questão de dizer e provar que tem prazer em trabalhar nesse tipo de estabelecimento.
Josirene, Helena e Nerinda: contaram as curiosidades, histórias e provaram que têm prazer no que fazem. Foto: João Brito Jr. / O Olho.
Acompanhada das também simpáticas, bem-humoradas e brincalhonas Nerinda de Moura Carvalho, 45 anos, casada, 14 anos de motel e, segundo ela, usuária assídua desse tipo de estabelecimento, e Helena Sousa Lima, 33 anos, casada e quatro anos de motel, mostraram que é uma profissão cercada de mistérios, histórias de respeito e com muitas curiosidades.
Todas fizeram questão de dizer que os maridos e suas famílias aceitam, sem problemas ou discriminação, suas atividades. Nerinda Carvalho diz que passa a noite ajudando a fazer a alegria das pessoas. “Para quê mais felicidade”, indaga.
Josirene Oliveira destaca que ao falar que trabalha em um motel, seja no lugar que for e para quem for, sempre é indagada sobre como é e o que há de diferente em atuar nesse tipo de lugar. “Aqui é um lugar que as pessoas vêm para amar. Cliente que não ´bagunça´ o quarto não usou, a gente gosta é de trabalhar e arrumar tudo”, falou enquanto conferia milimetricamente os resultados de mais uma arrumação.
Detalhe: realmente estava tudo muito brilhante.
“Aqui todo mundo é tratado por senhor ou senhora, levamos esse respeito até para nossas casas”, disse Helena Lima.
Outro ponto destacado é a questão do sigilo. “Aqui não vemos ninguém e não há contato com os clientes. Algumas vezes alguns querem até nos ver, mas fazemos questão de não nos mostrar. É uma política do motel”, relatou Josirene Oliveira.
OS ASSÉDIOS
Constatou-se que o sistema de contato com clientes é comum nos motéis de Teresina. No caso dos motéis tops como Afrodite e Garden desde que se entra até quando se sai realmente não há o mínimo contato com atendentes.
Para uns um cenário de intimidade, para algumas é cenário de trabalho. Foto: João Brito Jr. / O Olho
Mas na maioria dos outros estabelecimentos da cidade, ao menos no momento do pagamento da conta e na entrada e saída há um mínimo contato visual.
Na maior rede de motéis da cidade, pertencentes ao Grupo Franly (com mais de dez unidades na região) há contato visual direto das atendentes com quem entra nos estabelecimentos.
São esses momentos em que podem ocorrer assédio de clientes, atualmente um dos principais empecilhos e motivos de reclamação para quem trabalha nos motéis de Teresina.
“De vez enquanto aparece um mal educado. Alguém que não quer pagar, alguém que não tem dinheiro e nos agride verbalmente”, relatou M.R.P.S, 29 anos, solteira e há sete anos trabalhando em motel.
M.R.P.S., que trabalha em uma “pousada” no bairro Todos os Santos (zona Sudeste) diz que é feliz com o que faz mas que é esse assédio que muitas vezes torna a profissão um pouco ingrata.
“Às vezes aparece alguém bagunçando porque bebe. Mas sempre procuramos contornar a situação”, relatou Isenilde Alves, 45 anos, 18 anos de motel, e atualmente supervisora do Maitê, no bairro São Joaquim (zona Norte de Teresina).
DE JOVENS A SENHORAS APOSENTADAS, PASSANDO POR EVANGÉLICAS. ELAS ESTÃO LÁ 24 HORAS POR DIA E 365 DIAS POR ANO
Arrumação dos quartos de motel de Teresina: feita por mulheres de 18 a 60 anos. Foto: João Brito Jr. / O Olho.
Isenilde Alves, que começou na profissão como arrumadeira e foi ascendendo até a área de supervisão, diz que trabalhar em motel é uma profissão como qualquer outra. “Aqui é um local de trabalho como qualquer outro”.
Sobre os contatos com os clientes, Isenilde Alves conta que alguns querem ver quem está do outro lado e muitas vezes fazem questão de ver a arrumadeira. “O cliente só se mostra se quiser. Alguns querem até conversar”.
“Aqui no motel todas as funcionárias são casadas ou separadas, algumas são até evangélicas. Temos uma aposentada, que tem mais de 60 anos de idade. Nunca ouvi histórias de discriminação. Até as evangélicas não sofrem preconceito em suas igrejas”.
“NÃO ARRUMO NAMORADO POR TRABALHAR EM MOTEL”
M.R.P.S, 29 anos, que atualmente trabalha como “faz tudo” de uma pousada na zona Sudeste de Teresina, disse que sofre preconceitos dos homens por trabalhar em um motel.
“Quando perguntam em que local trabalho, as pessoas ficam muito curiosas, querem sempre saber de histórias”, relatou.
Ao ser indagada se o fato de estar solteira é porque trabalha em um estabelecimento do tipo ela disse que sim. “O povo tem preconceito. Tão logo eu digo que trabalho em uma ´pousada´ alguns homens já se afastam de mim, é preconceito”, destacou.
M.R.P.S., apesar das discriminações, disse que gosta no que faz, já tendo atuado como recepcionista, arrumadeira e garçonete. “Mas não é isso que quero para toda minha vida”, contou. Indagada sobre o futuro disse que quer ser enfermeira. Enquanto isso reza para os santos católicos para em cada um dos seus plantões de 12 horas não se deparar com clientes mal educados.

fonte portal o olho