Casa Abrigo fecha devido estrutura precária e promotor custeia vítimas
Segundo a delegada Vilma Alves, o local responsável por atender mulheres agredidas não tem água nem energia. "Situação é lamentável", diz
Na manhã desta sexta-feira (06/03) a delegada Vilma Alves informou que a Casa Abrigo, local destinado para receber mulheres vítimas de agressão, e que fica localizado no bairro Saci, zona Sul de Teresina, anunciou a paralização das atividades devido à falta mínima de estrutura.
Segundo a delegada, o local recebia pouco mais de três mulheres por dia. Geralmente são mulheres vítimas de agressões domésticas, e que ficam impedidas de voltar para casa devido ameaças feitas pelo agressor.
"Precisamos urgente de uma casa para receber essas mulheres. Pelo menos uma casa de passagem. Faz tempo que estou indo atrás disso com a prefeitura, com o governo, mas ninguém me escuta quando digo isso", revelou.
No momento em que a reportagem esteve dentro da delegacia da mulher, no Centro de Teresina, mais uma vítima registrou boletim de ocorrência.
Trata-se de Kelly Cristina Martins Cardoso, de 20 anos, natural do município de Ribeirão Preto, em São Paulo. A vítima que mora em Teresina desde o mês passado, revelou que o marido estava agredindo-a desde os últimos quatro meses. Com ela, estava o filho de iniciais P.H.S, de 11 meses. Febril, o bebê fora atendido no hospital do Parque Piauí, por volta das 6h, após uma nova sessão de agressões provocadas pelo marido.
"Depois que chegamos no Piauí ele começou a me agredir. Me tratando mal e me batendo todos os dias. Hoje pela manhã quando estava tomando banho ele partiu pra cima de mim e me espancou, estava me enforcando. Tudo isso só porque ele pedi pra ele levar nosso filho ao hospital, pois que ele estava doente, com febre e com a garganta irritada", relatou.
O casal que atualmente morava no Parque Sul, zona Sul de Teresina, estava cuidando também de um outro filho. Este sendo filho apenas de Bruno Borges de Almeida Garcez, o agressor. A delegada Vilma Alves assim que tomou conhecimento do caso afirma que pediu a prisão preventiva do acusado.
"Ela relata que o marido a fez tomar remédio durante a gravidez para ela e o filho morrerem. Não aceito mais esse tipo de situação em pleno século XXI. O pior é que eu iria mandar a vítima para a Casa Abrigo, mas aí me informaram que paralisaram o atendimento lá porque nem energia nem água está tendo", disse.
ÓRGÃOS PÚBLICOS NÃO SOLUCIONAM DESTINO DE MULHER E CRIANÇA AGREDIDAS
Durante pouco mais de três horas em que a reportagem do O Olho esteve na delegacia, Vilma Alves entrou em contato com diversos órgãos públicos para tentar resolver a situação da jovem e lhe dar um destino, onde pudesse cuidar do bebê.
Tanto a Secretaria Municipal do Trabalho, Cidadania e Assistência Social (Semtcas), a Secretaria Assistência Social e Cidadania (SASC), como outros órgãos da prefeitura e do Estado, não conseguiram disponibilizar um espaço para atender a demanda.
"Agora sim, foi bom porque esse jornalista está vendo como é a situação em que a gente fica submetido em ocasiões como esta. Tento falar com todo mundo, mas não consigo. É lamentável", afirmou.
PROMOTOR CUSTEIA DO PRÓPRIO BOLSO IDA DE VÍTIMA À CASA ABRIGO
Após insistir com as autoridades públicas, a delegada ligou e conversou com um amigo pessoal, o promotor de Justiça Francisco de Jesus, que aceitou levar a vítima para sua residência. "Não temos muito o que fazer nesses casos, mas também não podemos deixar a jovem na rua e ainda mais com uma criança de 11 meses", disse Vilma.
Logo em seguida o promotor revelou que não iria levá-la para sua residência, mas sim custear sua permanência dentro da Casa Abrigo. "Já que eles não estão recebendo ninguém, vou custear tudo no local até a segunda-feira, quando ela deverá seguir para São Paulo, sua terra natal", disse Francisco de Jesus.
Até o fechamento da matéria a equipe de policiais seguia em diligências na zona Sul, no sentido de capturar o acusado. A vítima informou que não tem mais condições de voltar a ter qualquer tipo de relacionamento com o marido.