'Até agora, provar que foi homicídio, ninguém', diz Benigno Filho em livro
Ele diz que o processo já deveria estar repousando em cartório, 'ou com algum parecer definitivo'
- "E eu disse que não acreditava em homicídio"
- "Depois desta reconstituição feira, eu lhe mostro como eu afirmo que foi um acidente"
- "O corpo está ali inerte. Ele não diz para você: 'Olha, eu me suicidei' ou 'fulano me matou", porque aí era mais fácil
- "Não existe no cenário nenhum indício de lutas corporais"
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Mesmo após ter sido afastado das investigações sobre a morte da estudante Fernanda Lages, ocorrida em 2011, o promotor Benigno Filho fez questão de acompanhar parte do andamento dos trabalhos, e esteve presente na reconstituição realizada pela polícia como "curioso" e "estudioso". Em sua entrevista ao livro "O Boato - Verdade e Reparação no Caso Fernanda Lages", de Eneas Barros, ele menciona acreditar em acidente, "embora muita gente discorde".
"Depois dessa reconstituição toda feita, eu lhe mostro como eu afirmo que foi um acidente, pela dinâmica como foi feita a reconstituição, como a pessoa que interpretou, que fez a figura da vítima no acidente, como ela subiu na mureta, como foram encontrados os fragmentos de pele no arame da torre de raio. E pela dinâmica em que caiu o corpo, que o corpo repousou no solo, eu afirmo que foi um acidente, embora muita gente discorde. Mas até agora, para provar que foi homicídio, ninguém provou", explica.
Apesar de desconhecer a situação atual das investigações, que ainda são conduzidas pelo Ministério Público, Benigno diz que o processo já deveria estar repousando em cartório, "ou com algum parecer definitivo ou com algum pedido de diligência", e se pergunta: "Qual diligência que tem sido feita até agora?"
Sobre como a história de homicídio se sustentou, o promotor lembra que é um vício dos profissionais da área verem um corpo sem vida e logo relacionarem com um crime, ocorrência de um homicídio. "É um instinto que leva o ser humano a dizer. Nós nunca temos a preocupação, e isso agora eu estou me policiando (...) Pode ser suicídio, pode ser homicídio, ninguém sabe ainda. O corpo está ali inerte. Ele não diz para você: 'Olha, eu me suicidei' ou 'fulano me matou', porque aí era mais fácil", disse Benigno ao escritor.
Em relação ao local do crime, o representante do Ministério Público considera que a movimentação antes da chegada da polícia não interferiu nas investigações. "Não existe no cenário nenhum indício de lutas corporais ou de luta corporal. O corpo estava lá, repousando, sem nenhum indício de que alguém tivesse travado uma luta com aquela jovem, para ali matá-la (...) O que apresentava aquele corpo repousado no chão? Um esmagamento. O corpo estava todo esmagado. Quando foi feita a necrópsia, que o corpo foi aberto, todos os órgãos internos estavam partidos, baço, fígado, rins, bexiga. Foi o impacto do corpo no momento do repouso, do quinto andar. O peso do corpo no momento do repouso, do quinto andar", conta.
Ainda sobre a entrevista do promotor Benigno Filho, você vai poder ver na próxima matéria:
- "Olha, eu vou passar a vocês o que eu fiz até agora"
- "Abri a televisão e já estava um dos promotores dando entrevista"
- "Sete e meia e nada dos outros dois promotores aparecerem"
- "Disseram que os Procuradores Federais não acreditavam no meu trabalho"