FOLHA DE SP: 220 aguardam o Bolsa Família em Guaribas
CIDADE SÍMBOLO DO FOME ZERO convive ainda com a pobreza e estagnação do programa
A cidade considerada o marco zero do programa Fome Zero, lançado em fevereiro de 2003 pelo ex-presidente Lula,foi visitada pela reportagem da Folha de São Paulo. Assim como já havia mostrado o 180graus, o lugar continua jogado ao esquecimento, e mesmo sendo símbolo do maior programa social do governo PT, muitas famílias ainda amargam a miséria.
Fabiano Maisonnave entrevistou famílias da cidade, e junto ao serviço de atendimento social, descobriu que cerca de 220 famílias ainda aguardam para receber o benefício do Bolsa Família.
São famílias como a de Claudiana Trindade, que mesmo dentro do perfil do programa, e com seu cadastro preenchido há 7 meses, nunca recebeu o cartão que lhe dá direito ao benefício. No final da segunda gravidez, ela diz: "A minha filha chega da escola e às vezes chora e diz: 'Mãe, porque todo mundo tem Bolsa Família e a gente não tem?'."
A família vive de "bico". Além do pouco que ganha o marido, Claudiana recebe ajuda dos avós aposentados, que ganham R$ 200, e de R$ 170 do Garantia Safra, que passa a receber este mês. "Não dá pra nada", lamenta a dona de casa.
As 220 famílias cadastradas no Cras (Centro de Referência da Assistência Social) de Guaribas, tem renda per capita mensal de até R$ 154, mesmo assim, não recebem o dinheiro. O problema seria a contagem feita pelo Ministério do Desenvolvimento Social, que usa como parâmetro de contagem o Censo do IBGE de 2010,que contou somente 742 famílias dentro do perfil do Bolsa Família.
Sem oportunidade, estas famílias não tem previsão de quando vão receber o benefício. Sem plano de expansão do programa no município, será preciso que famílias deixem de receber o dinheiro para que outra seja beneficiada. Ou esperar que alguma família seja excluida após a aposentadoria.
E para não deixar que uma família passasse fome, após o descadastramento de uma família, a funcionária do Cras deu a chance de cadastro à família que vivia de feijão com farinha. "A mãe estava grávida e o pai não tinha emprego. A casa não tinha nem reboco...", contou a funcionária pedindo anonimato.