Mulheres realizam ato contra o feminicídio e pedem justiça para Camilla Abreu
Em protesto, as manifestantes pediram mais respeito e justiça para as mulheres vítimas de feminicídio no Piauí.
Um grupo de mulheres se reuniu em um ato público organizado, no final da tarde desta quarta-feira (01), na Avenida Frei Serafim, para se posicionar contra os casos de feminicídio no Piauí. A mobilização é uma resposta dos coletivos de mulheres contra os diversos tipos de violência às quais as mulheres piauienses estão submetidas no dia-a-dia. De mãos dadas, as mulheres fizeram um apelo por mais respeito e por justiça às mulheres assassinadas no estado, em especial para a estudante Camilla Abreu.
Em uma performance silenciosa, as manifestantes dispuseram velas e se deitaram no chão para simbolizar os corpos das vítimas de feminicídio. Entre gritos de “Justiça por Camilla” e “Nenhuma a menos” as mulheres pediram às autoridades para que o namorado de Camilla Abreu, que confessou ter assassinado a estudante, cujo corpo foi encontrado ontem (31) à tarde em um matagal no povoado Mucuim, na zona Rural de Teresina, seja punido na forma da lei e não receba regalias por ser militar.
Em uma performance silenciosa, as manifestantes dispuseram velas e se deitaram no chão para simbolizar os corpos das vítimas de feminicídio. (Foto: Jailson Soares/O Dia)
Além da performance, as mulheres se reuniram em uma roda para relatar os recentes casos de violência contra a mulher em Teresina e pedir celeridade nos casos de feminicídio que ainda não foram julgados. “Todas nós mulheres estamos com um grito preso na garganta. Todo dia uma companheira nossa é morta, é violentada e não podemos mais aceitar isso. Precisamos acabar com o machismo e somos nós que temos que nos organizar, temos que nos multiplicar”, afirmou a servidora pública Madalena Nunes, uma das mulheres a participar do protesto.
A policial militar, major Elizete Lima, também esteve presente durante o ato. Segundo ela, é importante que a sociedade não estigmatize a profissão, que recentemente esteve atrelada ao fato do acusado de ter cometido o crime contra Camilla Abreu ser um capitão da corporação. “Nós policiais militares somos os defensores da sociedade e de repente nós vemos um defensor se tornar um agressor. Então, eu me sinto responsável e me sinto obrigada a engrossar as fileiras dessa manifestação para que a gente tenha voz e para que a mulher se sinta encorajada a denunciar, a tomar uma atitude”, afirma.
Para a major Elizete Lima é importante que a sociedade não estigmatize a profissão de policial militar. (Foto: Jailson Soares/O Dia)
Além disso, a policial militar destaca a importância da denúncia e de reconhecer os sinais que caracterizam um relacionamento abusivo, que muitas vezes começa com outros tipos de violência, como a violência verbal e a violência psicológica. “O feminicídio não começa com o homicídio, ele começa com um olhar, depois passa para outra forma de agressão, como um beliscão, depois para um empurrão, até chegar ao homicídio. Por isso, nós precisamos encorajá-las a denunciarem, porque quando o medo supera a coragem muitas vezes leva a esse fim trágico. Nós não queremos assistir a outros casos como o de Camilla”, declara.
Contexto de violência
Dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) revelam que o Piauí é o terceiro estado brasileiro com a maior proporção de casos de feminicídio, ou seja, de mortes provocadas por violência de gênero. A taxa é de 11,1 processos para cada 100 mil mulheres no ano de 2016. De janeiro até outubro de 2017, foram registrados 46 Crimes Violentos Leais e Intencionais (CVLI) contra mulheres no estado, sendo 18 feminicídios.
Feminicídio
O feminicídio é o assassinato intencional e violento de mulheres em decorrência de seu sexo. Segundo a lei, os homicídios envolvendo mulheres são considerados feminicídios quando o crime envolve violência doméstica e familiar e menosprezo ou discriminação à condição de mulher. As motivações do feminicídio mais usuais são o ódio, o desprezo ou o sentimento de perda do controle e da propriedade do homem sobre a vítima do gênero feminino.
Caso Camilla Abreu
A estudante de Direito Camilla Abreu de apenas 21 anos foi assassinada com um tiro na cabeça na última semana em Teresina. Segundo a Polícia Civil, o crime teria sido cometido pelo seu namorado e capitão da Polícia Militar, Alisson Wattson durante a madrugada de quinta-feira (26). A jovem foi dada como desaparecida pela família e o seu corpo foi encontrado na tarde de ontem (31), após o namorado ter confessado o crime e informado à polícia onde o corpo havia sido ocultado.
Veja fotos do protesto: