Defesa também comemora decisão da justiça que determinou que ex-casal seja submetido a júri popular em Teresina
A família de Marly Ribeiro conversou com a TV Antena 10, nesta quarta-feira (20), sobre a decisão do Tribunal de Justiça do Piauí (TJ-PI), que determinou que o influenciador Pedro Lopes Lima Neto, conhecido como Lokinho, e seu ex-companheiro Stanlley Gabryell Ferreira de Sousa sejam levados a julgamento pelo Tribunal do Júri, sob acusação de homicídio doloso, na modalidade de dolo eventual, além de lesão corporal grave.
A irmã de Marly, Luzinete Ribeiro, falou sobre o sentimento diante da nova decisão. "A gente sempre acreditou na justiça de Deus e a gente sabendo que a verdade sempre prevalece. Sabíamos que Deus ia tocar o coração dos juízes e reverter essa decisão porque existem muitas provas que mostram o acidente, ele jogando o carro pra cima das vítimas. Agradeci a Deus a noticia que recebemos ontem. Minha irmã foi tirada da gente de uma forma brutal", disse à TV Antena 10.
Luzinete também fez críticas ao comportamento do influenciador, afirmando que o mesmo teria debochado de sua família e do trágico ocorrido. "Esperamos a pena máxima. O que mais chateava a gente da família era o deboche em redes sociais, críticas contra a gente e a gente sabendo o sofrimento de ter perdido nossa irmã. Era um deboche, uma chacota e é muito dolorido", disse Luzinete Ribeiro.
A irmã da vítima também denunciou a falta de apoio financeiro às famílias, especialmente à filha de Kassandra de Sousa Oliveira, que ficou com sequelas graves.
"Até hoje não recebemos nada. Tem 10 meses que minha irmã faleceu e até hoje não recebemos nenhuma quantia. Pra filha da Kassandra [segunda vítima fatal do acidente] teve um valor que depositaram depois dele estar nas redes sociais dizendo que está ajudando as famílias. Ele foi desmascarado e mandaram o valor de 1000 reais. Em julho foi lançado uma rifa solidária e arrecadado mais 1000 reais. Só foram esses dois valores que chegaram pra filha da Kassandra, que ainda hoje está sem caminhar, sem falar, está invalida", contou.
Luzinete relatou o sofrimento da filha de Kassandra, que ficou com sequelas e enfrenta limitações no dia a dia. "A filha da Kassandra me disse: tia, eu queria sair, eu queria ir pra uma festa junina e não posso; eu falei que a gente sempre ia na casa dela, ia manter unidas as três crianças que perderam a mãe. Ela chora, sente falta de sair, era uma criança sadia e alegre e hoje nem estudar ela não pode", relatou.
"Eu queria minha filha aqui pra criar a filha dela, estar com a gente, mas ela não teve essa oportunidade. A Justiça tarda mas não falha. Esperamos a pena máxima, sei que não vai trazer minha filha de volta, mas queremos isso. Peço a Justiça que lute por isso, para a justiça seja feita", falou Luzia Ribeiro, mae de Marly.
Kassandra deixou duas filhas, sendo uma bebê e outra que, após o acidente, está acamada e com sequelas graves. Marly deixou uma filha de 10 anos.
"A justiça tarda, mas não falha", diz defesa de famílias de mulheres mortas em acidente
O advogado Josélio Oliveira, que representa as famílias das duas mulheres mortas e das crianças feridas em um acidente de carro, comentou sobre as penas esperadas para Lokinho e seu ex-companheiro. Ele destacou que a reversão da decisão é uma vitória para a família. Anteriormente, a juíza Maria Zilnar Coutinho Leal, titular da 2ª Vara do Tribunal Popular do Júri da Comarca de Teresina, havia decidido que não existiam provas suficientes para levar o influenciador e seu ex-companheiro a julgamento pelo júri popular, decisão que foi derrubada.
“O TJ-PI entendeu que este crime é de competência do Tribunal do Júri, do Conselho de Sentença. É uma vitória para nós. Ocorreu o julgamento no 1º grau e o Tribunal, através de uma Câmara Especializada, entendeu que essa sentença deveria ser reformada, e foi reformada na íntegra. Vamos esperar a publicação desse acórdão, pode haver recurso por parte da defesa. A justiça pode tardar, mas não falha. Tanto o Pedro Lopes quanto o Stanlley vão ser submetidos ao Tribunal do Júri. É muito difícil daqui para frente haver a reversão desse acórdão, porque no 1º grau é apenas um juiz, e no 2º são três. Os dois vão ser responsabilizados por esse crime”, comemorou.
“Os dois foram denunciados e agora pronunciados, mantida a reversão da decisão de 1º grau. Então, homicídio doloso consumado e lesão corporal de natureza grave. Se foi quem emprestou o carro ou quem prevaleceu no volante como condutor, não interessa. O que interessa é que o Conselho de Sentença vai analisar e decidir, no plenário, se foi homicídio consumado ou se foi culposo. As teses vão permanecer em plenário daqui pra frente. As provas foram vistas ponto a ponto no 2º grau e agora vamos aguardar esse julgamento”, explicou o advogado.
Josélio destacou ainda que é cedo para falar em tempo de prisão, mas ressaltou que tanto a acusação quanto a defesa sustentam a tipificação de homicídio doloso, o que implicaria penas iguais para Lokinho e Stanlley.
“Nós vamos sustentar a nossa tese junto com o Ministério Público, que é o dolo eventual. Quem vai confirmar essa pena é o Conselho de Sentença, baseado na tipificação legal que existe no próprio código. Homicídio doloso consumado significa que eles pegam a mesma pena. A redução vai depender muito das circunstâncias do próprio julgamento. Não há diferença de um menor ou de um maior, porque os dois foram pronunciados na mesma pena”, afirmou.
Entenda
O Ministério Público do Piauí (MP-PI) havia recorrido da decisão da juíza Maria Zilnar Coutinho Leal, da 2ª Vara do Tribunal do Júri de Teresina, que desclassificava o crime para homicídio culposo na direção de veículo automotor, o que transferiria o caso para a Vara Criminal comum.
Na terça-feira (19), o Tribunal de Justiça do Piauí acatou o Recurso em Sentido Estrito do MP-PI e determinou que Pedro Lopes (Lokinho) e Stanlley Gabryell sejam submetidos a julgamento pelo Tribunal do Júri, sob acusação de homicídio com dolo eventual, quando se assume o risco de causar a morte, e lesão corporal grave. Ainda não há data definida para o julgamento.
O acidente
O então namorado do influencer “Lokinho”, identificado como Stanlley Gabryell, é acusado de matar duas pessoas e deixar outras duas feridas após acidente na BR-316, nas proximidades da Casa de Custódia, na zona Sul de Teresina. Equipes da Polícia Rodoviária Federal e do Corpo de Bombeiros atenderam a ocorrência. Uma terceira pessoa foi morta no local após uma briga entre um suposto segurança do influencer e um homem que tentou intervir na situação.
O acidente aconteceu em outubro de 2024 e Stanlley Gabryell foi preso logo em seguida. Cinco meses depois, em março deste ano, o desembargador José Vidal de Freitas Filho do Tribunal de Justiça do Piauí determinou a soltura de Stanlley após a juíza Maria Zilnar Coutinho Leal entender que os crimes imputados a eles não devem ser considerados como dolosos.
Fonte: Portal A10+