Polícia cumpre mandado de despejo em residencial na zona Sul
Famílias que invadiram afirmam que não sairão do local.
Após serem despejadas, as famílias que ocupavam o residencial Torquato Neto invadiram uma grande propriedade privada que fica por trás dos apartamentos. Eles arrancaram a cerca e tocaram fogo no terreno para iniciar a limpeza e a delimitação da área. "O dono cedeu o terreno pra gente lotear e ficar aqui, já que fomos despejado. Vamos limpar e mandar as coisas para cá", disse Francisco de Assis.
Segundo Valéria Honório, serão montadas barracas e em seguida construídas casas de taipa. “Não temos onde deixar nossas coisas. Vamos trazer todas pra cá e ficaremos acampados aqui”, garante Valéria.
Fotos: Assis Fernandes/ODIA
A polícia não interferiu nessa nova ocupação. Segundo o tenente Misael, da Companhia do Promorar, o foco era a desocupação dos apartamentos. “Agora o proprietário deste terreno terá que entrar com um processo de reintegração de posse, nós não vamos intervir porque nossa função é acompanhar a desocupação”, explicou o policial.
A ordem expedida ordena que as famílias se retirem, dando prioridade às pessoas com deficiência, idosos e mães solteiras. Mas, segundo Rosemary Araújo, todo mundo está sendo despejado. " Não tem ninguém da Prefeitura, ninguém que venha nos ajudar. Eu sou mãe solteira e mesmo assim estou sendo colocada para fora, é absurdo", afirma.
"Eu sou de Palmeirais e moro aqui há dois meses e estou só aguardando a ordem de despejo. Moro com duas filhas e minha avó de oitenta anos que é cadeirante. Não acredito nessa prioridade que eles dizem", relata Alessandra Rafaela, que tem uma filha com hiperativismo.
Os ocupantes do Residencial não resistiram a intervenção da polícia no momento de revista e desapropriação. Até o momento nenhum conflito foi gerado entre moradores e polícia. Vários blocos já foram totalmente desocupados e os ocupantes aguardam nas calçadas um lugar para ir com a família. " Estou esperando meu marido voltar, ele foi tentar achar um lugar para a gente ir com as nossas filhas", relata Laíres Amorim.
Os policiais começaram a chegar no Residencial Torquato Neto, por volta das seis horas da manhã desta terça-feira (16), para dar início à desocupação dos apartamentos do Programa Minha Casa Minha Vida da região. O forte aparato para cumprir a ordem de despejo conta com armamento pesado dos policiais da Força Nacional e da Polícia Federal, com apoio do Ciptran, do Bope, da Tropa de Choque e da PRF. O helicóptero da Polícia Militar também está sendo utilizado.
De acordo com a dona de casa Kleide Sousa, desde cedo policiais interditam o local. "Nós estamos sem poder sair ou entrar. Eles estão fazendo vistorias em alguns apartamentos e fecharam a entrada", disse. Um policial faz a guarda em cada bloco que é vistoriado, mas até o momento nenhuma substância proibida, como drogas, foi encontrada nos apartamentos.
A coronel Júlia Beatriz, comandante de Gerenciamento de Crises da Polícia Militar, disse que não há tumulto. "Algumas famílias já deixaram as casas e existem caminhões que vão auxiliar na remoção", alegou a coronel. A resistência dos moradores foi dificultada devido à grande quantidade de policiais e armamentos.
Mesmo assim, alguns moradores dizem que vão resistir e reclamam o descumprimento de acordos feitos anteriormente. Érico Luiz, declarou que não foi disponibilizada a assistência social e nem os representantes dos direitos humanos, como havia sido prometido. "A polícia está invadindo. Ao invés de trazerem os caminhões para mudança, mandaram caçambas", disse Érico, um dos líderes do movimento.
Cristiane Carneiro, outra moradora, reclama que os deficientes físicos também estão sendo expulsos. "Se eles insistirem em tirar a gente daqui, vamos acampar em frente a prefeitura", ameaça.
Ruberval Vieira está ocupando um apartamento há dois meses e alega que não tem para onde ir. Ele morava na casa dos pais. "Eu soube da desocupação através dos vizinhos. É uma grande covardia o que estão fazendo e nós vamos resistir. Vamos ocupar a BR-316 novamente", disse o morador.
A maior preocupação das famílias despejadas é com os móveis que estão retirados dos apartamentos e sendo colocados em caçambas. Ele alegam que não sabem para onde serão levados seus pertences. De acordo com a coronel Júlia, foi dado um prazo para que todos os moradores se organizassem. "Os caminhões vão levar os móveis para onde os ocupantes indicarem. Mas se não tiver um lugar, teremos que deixar tudo do lado de fora do residencial. O prazo foi dado e a ordem tem que ser cumprida", disse a coronel.
Em nota, a Caixa Econômica Federal informou que, em conjunto com os demais órgãos envolvidos, está dando o suporte necessário às famílias ocupantes. "A CAIXA ressalta que, após a retomada dos empreendimentos, as unidades serão vistoriadas e recuperadas. Após isso, os imóveis serão direcionados às famílias devidamente selecionadas pelo poder público. A Caixa Econômica Federal informa ainda que entrou com pedido de reintegração de posse das unidades do residencial que foi acatada pela Justiça Federal. A medida teve o objetivo de garantir o direito dos reais beneficiários selecionados de acordo com as regras do programa do governo federal", diz a nota.