Juíza decreta prisão de Moaci: “Pouco senso de responsabilidade”
Moaci Moura, acusado de provocar o acidente, não compareceu á audiência. Ele enviou um requerimento para não participar e somente o seu advogado está presente
Ao final da audiência de instrução sobre o acidente envolvendo membros do Coletivo Salve Rainha, a Juíza Maria Zilnar decretou a prisão preventiva de Moaci Moura, acusado de provocar a tragédia que matou os dois irmãos Bruno e Júnior Araújo e feriou gravemente Jader Damasceno.
A ausência do réu na audiência desta sexta-feira (21) foi uma das motivações para a decisão da juíza. “Ele demonstrou ter pouco senso de responsabilidade e não ter respeito pela justiça”, afirmou Maria Zilnar, que decretou a prisão sem que ninguém tivesse formalizado o pedido.
Fotos: Assis Fernandes/ODIA
Na primeira vez em que foi preso, Moaci assinou um termo se comprometendo a comparecer sempre que fosse intimado para alguma audiência. Ele também não poderia sair de casa depois das 21h e nem sair de Teresina, além de ter entregue a carteira de habilitação à justiça.
Segundo Carol Magalhães, advogada e membro do Coletivo Salve Rainha, todo réu é obrigado a comparecer nas audiências de instrução. “Ele poderia ter ido e não ter se pronunciado, mas não poderia faltar. A juíza entendeu como um deboche a ausência hoje”, afirmou a advogada.
Terminou por volta das 13h a oitiva das testemunhas de defesa e de acusação arroladas na audiência sobre o acidente envolvendo membros do Coletivo Salve Rainha. Ao todo, 12 pessoas foram ouvidas, sendo sete testemunhas de acusação, quatro de defesa e um informante.
Ao final da audiência, o advogado Eduardo Faustino Lima pediu um prazo para se pronunciar, o que foi concedido pela juíza Maria Zilnar. O promotor Ubiraci Rocha e algumas pessoas presentes, incluindo Jader Damasceno, protestaram. Eles alegam que isso iria beneficiar Moaci Moura. A juíza destacou, no entanto, que era direito da defesa e concedeu cinco dias.
As últimas pessoas ouvidas foram as quatro testemunhas arroladas pelo advogado de Moaci. Algumas estavam no bar Pernambuco com o motorista, antes do acidente, ou o viram no local, onde acontecia um arraiá. Outras duas testemunhas foram dispensadas pelo advogado. Um homem, identificado com Edelson, também foi ouvido na qualidade de informante.
Todas as testemunhas de defesa alegaram que Moaci não tinha bebido antes do acidente, pois afirmou que iria acordar cedo no dia seguinte. Também afirmaram que ele era uma pessoa boa e calma.
Já Edelson, que é parente do pai de Moaci, afirmou que estava passando pelo local do acidente por acaso e reconheceu o carro do motorista. “Eu vi que ele desceu segurando o braço esquerdo e cambaleante, certamente por conta da colisão”, disse o informante.
Ele negou que tenha sido a pessoa que falou com os policiais para “ajeitarem” Moaci e também afirmou que não havia outra pessoa da família no local, como havia sido dito por outras testemunhas.
Três policiais militares foram arrolados como testemunhas na audiência de instrução. José da Costa Sepúlveda, Sérgio Roberto de Souza e Raimundo Pereira estavam próximos ao local do acidente e chegaram logo em seguida. Eles confirmaram que Moaci Moura estava embriagado e que tentou intimidá-los dizendo ter parentes influentes.
Segundo Raimundo Pereira, Moaci teria afirmado que estava bebendo com um delegado no bar Pernambuco. “Depois descobrimos que era um agente da Polícia Civil. Esse mesmo chegou lá depois, pedindo que a gente ajeitasse o amigo, pois tratava-se de uma pessoa boa. Eu respondi que não tinha o que ajeitar, o caso já tinha ocorrido”, relatou o policial em depoimento.
O PM contou também que havia duas garrafas de cachaça no carro de Moaci, mas elas desapareceram algum tempo depois. “Levamos o motorista até a Central de Flagrantes e lá recebemos a orientação de voltar para pegar as garrafas. Quando retornamos, por volta de 1h da madrugada, o pai do Moaci e esse agente de polícia estavam lá. As garrafas tinham desaparecido”, contou Raimundo Pereira.
O motorista também teria informado que a carteira de habilitação estaria dentro do porta-luvas do carro, mas somente foi encontrado pelos policiais o documento. “Somente depois o pai dele chegou com o CNH, mas ela estava vencida”, destacou o PM.
José da Costa Sepúlveda afirmou que os policiais chegaram a ouvir o impacto do acidente e que pareceu com o barulho de um caixa eletrônico sendo arrombado. “Nós encontramos o Moaci querendo fugir e o colocamos dentro da viatura. Ele não reagiu, mas tentava sair de dentro do carro, assustado”, contou o policial.
Sérgio Roberto disse que o motorista já estava a cerca de 30 metros do local do acidente quando foi encontrado pelos policiais. “Ele ainda disse que estava sentindo uma dor no braço, mas quando levamos para o HUT, ele não quis ser atendido”, relata Sérgio.
Diante dos depoimentos das testemunhas, a juíza Maria Zilnar irá decidir se o crime é culposo - quando não há intenção de matar - ou doloso, quando há essa intenção. Se a justiça julgar como doloso, Moaci Moura irá a júri popular.
Três testemunhas de acusação já foram ouvidas na audiência de instrução que está acontecendo no Tribunal do Júri, sobre o acidente de trânsito envolvendo membros do coletivo Salve Rainha. Ao todo, 12 pessoas serão ouvidas pelo promotor Ubiraci Rocha e pela juíza Maria Zilnar.
Moaci Moura, acusado de provocar a morte dos irmãos Bruno Araújo e Júnior Araújo, não compareceu á audiência. Ele enviou um requerimento para não participar e somente o seu advogado está presente. Este também poderá fazer perguntas às testemunhas.
Nesta manhã, o único sobrevivente da tragédia, Jader Damascendo, relatou sobre o que viveu no dia do acidente e o que ainda sofre. “É muito doloroso relembrar tudo isso. Somente agora tenho pequenos flashs do que aconteceu e de algumas coisas que vi, como o sangue, os ferros do carro”, conta Jader.
A respeito do sentimento em relação ao Moacir, a vítima diz que é uma mistura de raiva e pena. “Mesmo depois de tudo que ele já tinha se envolvido, ainda continuou sendo imprudente. Mesmo assim eu tenho pena, inclusive da mãe dele. Não quero vingança, quero a justiça, principalmente pelo pai do Júnior e do Bruno”, declarou Jader. Francisco das Chagas, que perdeu os dois filhos no acidente, acompanha a audiência.
Ele disse que agora tenta reconstruir a vida e conta que montou um ateliê de arte. “O que estou produzindo tem relação com meu processo de recuperação e com tudo que aconteceu após o acidente”, relata.
Testemunhas
Além de Jader, mais três testemunhas oculares foram ouvidas na audiência de instrução. José Elton da Silva, João Cunha Neto e Leonardo Diniz estavam dentro do carro que seguia logo atrás do Fusca, no qual estavam as vítimas do acidente. Os três confirmaram que Moaci estava em alta velocidade e que tentou sair do local.
João Cunha conta que ele e as outras pessoas que estavam no carro tentaram desligar o motor do Fusca batendo com o extintor de incêndio. “Moaci chegou a olhar a cena e começou a se afastar. Estava cambaleante”, relatou Cunha. O promotor chegou a questionar se a testemunha percebeu que o motorista estava bêbado, mas ela disse que não era possível afirmar.
Ele relatou ainda que Junior, Bruno e Jader pareciam estar mortos, mas quando chegou o socorro, Junior e Jader começaram a reagir. “Eles faziam um grande esforço para respirar. O Bruno era visível que não tinha resistido”, lembra João Cunha.