CRM prorroga interdição da Maternidade Evangelina Rosa por mais 60 dias
Superlotação e falta de estrutura física adequada motivaram nova interdição ética da unidade, que vem sendo prorrogada desde novembro do ano passado.
O Conselho Regional de Medicina do Piauí (CRM-PI) decidiu prorrogar por mais 60 dias a interdição ética da Maternidade Dona Evangelina Rosa, por conta da superlotação e da falta de estrutura física adequada.
A última interdição médica da maternidade havia sido determinada no último dia 3 de julho, pelo prazo de 30 dias. Depois disso, os médicos conselheiros fizeram uma vistoria de avaliação no dia 26 de julho, quando voltaram a flagrar irregularidades, algumas antigas e outras novas.
Em sessão plenária do Conselho, realizada na noite da última segunda-feira (5), o relatório da vistoria foi analisado e os conselheiros decidiram prorrogar novamente a interdição ética, que passa a vigorar a partir desta quarta-feira (7).
Para a entidade que representa a categoria médica, os problemas são gravíssimos e colocam em risco as vidas de inúmeras gestantes e de seus bebês.
Na ala A, por exemplo, os médicos identificaram uma série de problemas graves: ausência de leitos disponíveis, presença de lodo nos banheiros, chuveiro com vazamento em uma das enfermarias, infiltrações nos tetos já com mofo, mau cheiro, cadeiras com revestimentos rasgados e pisos descolando.
Durante a fiscalização o CRM-PI também encontrou uma paciente com recém-nascido prematuro em uma das enfermarias ao lado de uma paciente em tratamento clínico de infecção.
Nas alas B e C, destinadas ao pós-parto, os médicos conselheiros também identificaram uma série de irregularidades, como a ausência de leitos disponíveis, e a estrutura física e mobiliário apresentando as mesmas avarias observadas na ala A.
Havia, ainda, um banheiro com azulejos quebrados. E várias pessoas denunciaram que as refeições oferecidas às pacientes e acompanhantes são insuficientes e de péssima qualidade. De acordo com o CRM-PI, muitas vezes o lanche consiste em meio copo de suco, e o café servido é meio copo de farinha de milho mal cozida, com leite.
Sobre a lotação na unidade, o Conselho explica que ela é causada, sobretudo, por conta da falta de estrutura em maternidades e demais unidades de saúde de Teresina e de municípios do interior, que acabam encaminhando pacientes grávidas para a MDER mesmo quando os casos são simples, e poderiam ser solucionados na própria unidade de origem.
O CRM-PI explica que, com a interdição ética, a maternidade só pode atender casos de alta complexidade, tendo em vista que a MDER é, em tese, o hospital de referência para esta área na capital piauiense. Mas como há uma grande demanda de pacientes encaminhadas para a unidade, muitas vezes os médicos são obrigados a atender casos de baixa e média complexidade, desrespeitando a interdição ética.
Segundo o CRM, isso pode agravar ainda mais o quadro das mães e bebês que necessitam de atendimentos de alta complexidade.
"No setor de admissão, o CRM-PI presenciou movimento habitual e procura espontânea. Os plantonistas relataram que pacientes são encaminhadas à maternidade com diagnósticos não condizentes com a realidade, falsos trabalhos de parto, idades gestacionais mal calculadas ou apenas para realização de ultrassonografias. No centro obstétrico e centro cirúrgico, os plantonistas relataram a péssima qualidade do instrumental cirúrgico e fios. No repouso masculino não havia chuveiro, devido a um problemas de infiltração, e os lençóis não são trocados regularmente", relata o CRM-PI.
Os conselheiros verificaram que não havia vagas disponíveis no berçário, na Ucinco (Unidade de Cuidado Intermediário Neonatal Convencional), na UTI neonatal e na UTI materna. Eles também encontraram incubadoras e berços aquecidos quebrados num corredor da maternidade.
Atraso na reforma da maternidade piora situação, segundo o CRM-PI
O Conselho Regional de Medicina do Piauí destaca que a reforma dos banheiros e pisos das enfermarias foi anunciada desde novembro do ano passado, quando as interdições começaram a ser impostas. Desde então, segundo a entidade de classe, praticamente nada foi reparado.
Os conselheiros também flagraram uma grande quantidade de entulhos e de poeira. Identificaram que muitos itens importantes estão em falta na maternidade, ou, quando não estão em falta, muitas vezes apresentam péssimas condições.
"Para a assistência neonatal, observa-se material insuficiente, deteriorado e até mesmo contaminado, como sensores de temperatura, máscaras para reanimação, prongas, oxímetros, respiradores manuais, principalmente para prematuros", destaca o CRM-PI.
A fiscalização constatou que havia um número insuficiente de pediatras para atuar nos leitos das unidades Ucinco e Ucinca (Unidade de Cuidado Intermediário Neonatal Canguru), num flagrante descumprimento da Portaria 930/2012 do Ministério da Saúde.
"Frequentemente faltam lençóis, havendo a necessidade de o profissional médico levar de casa para atender as suas necessidades. Também foi registrado número insuficiente de leitos para repouso médico, ficando o médico sem local de repouso no setor. Falta de plantonistas para assistência em enfermaria, conforme Portaria 930/12, sendo a responsabilidade transmitida para o plantonista do centro obstétrico, já sobrecarregado", denuncia o CRM.
O Conselho acrescenta que, por falta de vagas, muitos bebês que deveriam ser internados em leitos da Ucinco ou da UTI neonatal permanecem na sala onde houve o parto, mesmo estando intubados e em ventilação mecânica - problema que estaria ocorrendo com frequência.
Além do número reduzido de médicos, o CRM-PI ainda identificou que há uma carência de profissionais da área assistencial. "Estes pacientes, que aguardam vagas nas salas do complexo, correm diretamente risco de vida, por permanecerem isolados dentro das salas, por falta de assistência e ambiente próprios", pondera a entidade de classe.
O CRM-PI considera que existe uma incapacidade do Governo do Estado e da diretoria da maternidade para resolução dos problemas detectados e espera que assim que notificados os problemas sejam sanados.
Outro lado
O portal O DIA procurou a assessoria da Maternidade Dona Evangelina Rosa, em busca de uma resposta para as denúncias apresentadas pelo CRM-PI, e de uma posição a respeito da prorrogação do prazo da interdição ética na unidade.
Até o final da tarde desta terça-feira a resposta ainda não havia sido enviada à reportagem. Ela será incluída assim que for encaminhada.