A disputa pelas duas vagas ao Senado Federal em 2026 já provoca fortes tensões no cenário político do Piauí e coloca em choque pragmatismo eleitoral e disciplina partidária. No centro do impasse está o senador Ciro Nogueira (PP), que, mesmo na oposição aos governos estadual e federal, mantém amplo apoio de prefeitos, inclusive do PT, desafiando abertamente a exigência de fidelidade partidária imposta pela direção estadual da sigla.
O presidente do PT no Piauí, deputado estadual Fábio Novo, declarou publicamente que o partido exigirá alinhamento integral de seus filiados, determinando que prefeitos, vereadores e lideranças petistas apoiem exclusivamente os candidatos da base governista ao Senado. A diretriz, no entanto, encontra forte resistência no interior do estado. Prefeitos do PT têm afirmado, nos bastidores e de forma cada vez mais pública, que manterão apoio a Ciro Nogueira, independentemente de possíveis sanções partidárias. A frase “vou votar no Ciro, se o partido quiser expulsar, pode expulsar” sintetiza o grau de enfrentamento instalado dentro da legenda.
Ciro Nogueira, que tentará a reeleição em 2026, ocupa hoje as fileiras da oposição e é uma das principais lideranças políticas do estado. Ex-ministro da Casa Civil do governo Jair Bolsonaro, o senador construiu uma base sólida junto aos municípios a partir da destinação de emendas parlamentares e do apoio direto à execução de obras. Para muitos prefeitos, inclusive petistas, a relação com Ciro se consolidou menos por alinhamento ideológico e mais por resultados concretos, o que tem pesado na decisão eleitoral.
Enquanto isso, o senador Marcelo Castro (MDB), aliado histórico do campo governista e também candidato à reeleição, enfrenta um cenário mais adverso. Avaliações feitas por gestores de diferentes partidos indicam que, no último mandato, Marcelo teve menor protagonismo na relação com os municípios quando comparado aos seus concorrentes diretos, fator que amplia as dificuldades de sua campanha, sobretudo em um contexto em que o apoio dos prefeitos tende a ser decisivo.
É nesse ambiente de tensão a pré-candidatura do deputado federal Júlio César (PSD) ao Senado desponta. Principal liderança do PSD no Piauí e deputado mais votado do estado na última eleição, Júlio César (PSD) entrou na disputa com o aval explícito do governador Rafael Fonteles (PT) e da base governista. Com forte atuação municipalista, especialmente na região de Picos, ele se apresenta como um nome competitivo, com trânsito no interior e capacidade de dialogar com prefeitos de diferentes campos políticos.
Diante da dificuldade de conter o apoio de prefeitos do PT a Ciro Nogueira e do risco real de o senador da oposição conquistar uma das vagas, o presidente Lula decidiu entrar diretamente nas articulações. Em reunião no Palácio do Planalto, na terça-feira (16), Lula sinalizou apoio à candidatura de Júlio César ao Senado, em uma articulação construída junto à direção nacional do PSD.
O presidente nacional do partido, Gilberto Kassab, já declarou apoio à reeleição do governador Rafael Fonteles e atua para consolidar a aliança entre PSD e PT no Piauí. Na prática, o desenho defendido pela cúpula governista prevê uma chapa com duas candidaturas alinhadas ao governo federal e estadual: a reeleição de Marcelo Castro e a entrada de Júlio César.
Aliados do deputado avaliam que o apoio de Lula cumpre dupla função: fortalecer a base governista no estado e enfrentar um adversário estratégico no cenário nacional. Ciro Nogueira é visto pelo Planalto como uma das principais lideranças da oposição no Congresso, e sua força no Piauí tornou-se um obstáculo direto à estratégia de unificação da base.
fonte www.portalr10.com