quinta-feira, 16 de julho de 2015

Quadrilha internacional comprava combustível via e-mail em Teresina


Quadrilha internacional comprava combustível via e-mail em Teresina

Seis acusados foram presos após queda de aeronave em Assunção do Piauí. Polícia Civil do PI diz que esse é um dos maiores esquemas de tráfico do Brasil

A Delegacia Especializada de Prevenção e Repressão a Entorpecentes (Depre), através dos delegado Menandro Pedro e Matheus Zanatta, em parceria com o delegado Gustavo Jung da 5ª Regional de Campo Maior, concederam entrevista coletiva na manhã desta quinta-feira (16/07), na sede da Delegacia Geral, em Teresina, e detalharam como se deu a prisão dos traficantes e as investigações a respeito da queda do Cessna 210 em Assunção do Piauí, no último dia 10 de Abril.
Delegado Gustavo Jung, Menandro Pedro e Matheus Zanatta durante coletiva (Foto: Manoel José/O Olho)
Ao longo das investigações a Polícia Civil conseguiu apreender um bilhete que estava junto com um dos traficantes e continha o login e a senha de um email. Os dados utilizados eramfazendariogrande@hotmail.com e a senha brasil0987654321.
De acordo com o delegado Matheus Zanatta, os acusados compravam combustível em Teresina para abasteceram as aeronaves e voarem com a droga para o interior do Piauí e os demais estados do Nordeste. O foco principal eram Fortaleza, capital do Ceará e municípios do interior do Ceará e do Piauí.
O nome da empresa não foi divulgado pela polícia. Segundo o delegado não há ligação alguma entre a empresa, os empresários proprietários do posto e os traficantes.
“Eles compravam o combustível nesse posto e em seguida abasteciam as aeronaves. Algumas compram eram feitas através desse e-mail, mas é importante destacar que a polícia até o momento não acessou tudo que há nessa conta”, garante Zanatta.
Bilhete com endereço e senha de e-mail utilizado para comprar os tanques de combustível 
O ACIDENTE
A queda do monomotor Cessna 210 aconteceu na noite da sexta-feira (10/04) na zona rural de Assunção do Piauí. O local fica no povoado Lajeiro Branco. A Polícia Civil durante as investigações encontrou uma pista de pouso clandestina nas imediações de acidente, mais precisamente à uma distância de quase 2 Km. A pista foi feita no povoado Palmeira de Cima.
Local do acidente (Foto: Google Maps)
De acordo com o delegado Zanatta, a polícia conseguiu prender seis pessoas poucas horas depois do acidente. Na ocasião, foram apreendidos 20 tabletes prensados de cocaína, além de caminhonetes, caminhões, equipamentos eletroeletrônicos, documentos, sendo que alguns deles eram falsificados.
“Esse é um local bastante esmo e que não conta com uma fiscalização intensiva da polícia, o que facilita a ação desses traficantes”, disse o delegado Gustavo Jung.
ACUSADOS
A Polícia Civil do Piauí traçou o perfil e puxou a ficha de cada um dos seis acusados que foram presos no dia do crime. Todos eles já são conhecidos da Justiça é de naturalidade diferente, o que acabou configurando uma associação criminosa formada por pessoas de diversos locais do país.
Cléber dos Santos: é o chefe da quadrilha e já tem vários antecedentes criminais confirmados nos autos por meio de certidões. Entre as acusações, ele já respondeu por roubo e moeda falsa no Estado do Paraná e agora por tráfico de drogas no Estado do Piauí.
Robson Daivid: Já possui antecedentes pela Polícia Federal. Foi preso por tráfico de drogas no Estado de Minas Gerais.
Tiago Costa: entre os presos é o que mais possui passagens pela polícia. Possui passagens pela Polícia Federal e Polícia Civil dos estados de São Paulo, Ceará e Piauí. Foi preso em 2013 pela PF com 101 Kg de cocaína, uma pistola 9mm, uma Land Rover e R$ 300 mil em espécie.
Vagner da Silva: Já tem passagens pela Polícia Civil de Roraima, acusado de tráfico de entorpecentes.
Ronaldo Torres: Possui passagens pela Polícia Civil do Ceará. Foi preso durante operação de desarmamento realizada no Estado.
VÍNCULO ENTRE OS ACUSADOS
Dois dos presos tentaram ludibriar a polícia utilizando documentos falsos. Duas Carteiras Nacional de Habilitação (CNH) expedidas pelo Departamento Nacional de Trânsito do Estado do Paraná (Detran-PR). A polícia no ato do flagrante conseguiu identificar que os acusados estavam mentindo sobre suas identificações.
Os documentos estavam nos nomes de Ricardo Francisco Siqueira Florêncio e Olair Wandscheer. Inicialmente os dois teriam se identificado com outros nomes, mas a polícia conseguiu ainda no local da prisão desmentir os acusados.
Documentação falsificada foi apreendida com os acusados
“O local do emitente dos próprios apesar de serem nomes diferentes seriam a mesma falsificação. De fato, quando consultamos alguns dados sigilosos da parte de informática da Polícia Civil constatamos que seria a fonte falsa, e que aquele que produziu foram os mesmos. Ambos também foram autuados por portarem documentos falsos”, disse o delegado Gustavo Junger.
No dia em que foram presos e passaram a ser interrogados pela Polícia Civil, todos os envolvidos garantiram que não se conheciam e que não havia relacionamento algum entre eles. Segundo o delegado Gustavo, eles estariam juntos apenas por uma ocasião.
Em seu depoimento, Cleber dos Santos, chefe do bando, informou que um dia antes de ser preso estava em Fortaleza (CE) e que havia se dirigido até Teresina para tratar sobre questões referentes ao transporte de caminhões. Antes de ser preso, ele teria passado três dias em Teresina e em seguida retornado para Fortaleza onde pegaria um voo comercial e iria para sua residência, no Estado do Paraná.
“A partir dessas informações que eles nos deu, realizamos um levantamento e um histórico, uma espécie de mapeamento sobre as passagens dele e confirmamos que era inverídico o depoimento dele. No dia anterior a prisão do bando, percebemos que Cleber está em um supermercado no Ceará na companhia do Tiago, outro que foi preso”, relata.
Na ocasião, imagens do circuito interno de segurança do supermercado Cosmos flagraram o momento em que os dois entram no local, realizam compras e saem em seguida com o material.
Tudo que foi comprado a polícia conseguiu apreender no local da queda do avião. Trata-se de mantimentos que estavam e seriam consumidos pelos traficantes. O veículo utilizado para irem ao supermercado, também foi identificado nas imagens e apreendido no dia do crime. A roupa dos acusados também era a mesma.
USO DO E-MAIL FALSO
Outro ponto que fez com que a Polícia Civil assegurasse que os acusados se conheciam, diz respeito ao uso de um e-mail falso criado por eles. Nas mensagens investigadas pela polícia, foi possível identificar que os acusados negociavam a compra de tanques de combustível aéreo com algumas funcionárias do estabelecimento comercial.
Segundo o delegado Matheus Zanatta, a polícia conseguiu identificar todas as funcionárias que negociavam com o dono da conta no e-mail, que na verdade seria o traficante Vagner. No dia das prisões, os policiais apreenderam o bilhete em posse de Cleber. Isso foi o bastante para confirmar o vínculo entre os acusados.
“O Vagner esteve no local tentando efetuar a compra dos tanques de combustível. Identificamos todas as vendedoras que negociaram e elas a reconheceram. Em seguida confrontamos com a informação de que o bilhete foi apreendido com o Cleber, aí não teve como eles desmentirem”, explicou Zanatta.
Delegado Gustavo Jung (Foto: Manoel José/O Olho)
Antes de interrogarem as funcionárias do centro comercial, a polícia realizou um levantamento dos locais onde esse material é comercializado. Tanques de combustível aéreo são um material de difícil acesso e que não podem ser comercializados com qualquer comprador.
“Explicamos a situação para as vendedoras e elas disseram que havia um comprador que frequentemente estava no local realizando a aquisição desses tanques, e que inclusive se utilizava desse e-mail se passando por Fazenda Rio Grande e efetuava a comercialização da mesma maneira”, completou Gustavo Jung.
SOLTURA DO CHEFE DA QUADRILHA
Após ser preso em flagrante quando iria resgatar a droga que caiu com o avião em Assunção do Piauí, o traficante Cleber dos Santos que é o líder da quadrilha e considerado um dos maiores traficantes do país, foi solto após apresentação de habeas corpus.
Alvará de soltura de Cleber dos Santos
A Justiça entendeu que o mesmo seria réu primário e concedeu sua liberdade. A polícia então passou a levantar informações e comprovou que o mesmo não era réu primário. A partir de então, a Justiça, através do juiz Robert Rogério Marinho Arouche, titular da Comarca de São Miguel do Tapuio (PI).
Desde então a polícia passou a monitorar o acusado e efetuou sua prisão dentro de uma aeronave no Distrito Federal. Junto com ele, foram apreendidos 17 aparelhos celulares.
Dias depois o acusado foi preso novamente no Distrito Federal
PISTAS DE POUSO SÃO INVESTIGADAS
Outra condicionante que está sendo investigada pela Polícia Civil diz respeito a existência de pistas de pousos que seriam irregulares e utilizadas para fins dessa natureza. A informação é de que existem dezenas dessas pistas espalhadas no Norte do Piauí onde essas aeronaves de pequeno porte pousam e distribuem drogas.
Pista de 2 Km de extensão será destruída ainda esta semana 
Sobre as investigações, o delegado Gustavo Jung disse que existe uma fiscalização no sentido de identificar todas essas pistas para posteriormente os proprietários serem questionados.
“Essa de São Miguel do Tapuio nós vamos destruir na próxima semana, estamos apenas aguardando a autorização do juiz da comarca. Certamente todas essas pistas são usadas para fins dessa natureza”, explicou.
Já em relação a incineração das drogas, o delegado Gustavo Jung disse que poderá demorar um pouco mais. A Polícia ainda aguarda uma decisão do Poder Judiciário. 

fonte portal o olho