quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Silicone Industrial é caso de polícia”, diz cirurgião plástico


Silicone Industrial é caso de polícia”, diz cirurgião plástico

Prática ilegal matou a jovem Taciane Pires após duas semanas de internação, de infecção generalizada.

A jovem Taciane Pires faleceu ontem (09) no Hospital de Urgências de Teresina vítima de infecção generalizada.  Ela estava há cerca de 10 dias internada na UTI do hospital, após fazer uso de silicone industrial para ganhar medidas. A jovem recebeu aplicações da substância em várias partes do corpo, como pernas, braços e glúteo. Taciane era travesti, e se torna mais uma vítima do uso de silicone industrial em procedimentos estéticos.
O cirurgião plástico Pascoal Correia, membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, é categórico com relação ao tema: “O uso desse silicone industrial é caso de polícia.”, comenta o médico. Ele disse que há um comercio ilegal do serviço de aplicação da substância. “A pessoa nem pode denunciar um caso desses para o CRM [Conselho Regional de Medicina], pois geralmente é feito por não-médicos”, disse. O procedimento ocorre em local sem qualquer preparação higiênica, muitas vezes na casa do próprio “cliente”.
Dr. Pascoal explica que o silicone industrial é um subproduto do silicone usado em cirurgias plásticas. “É um produto que você usa para limpar painel do carro, lustrar pneus. E baratíssimo, e se você pesquisar na internet encontra para vender facilmente”, comenta. Segundo ele, a substância ainda é misturada a óleos minerais e até alguns usados em veículos.
Taciane Pires morreu após sofrer infecção generalizada por aplicação de silicone industrial (Foto: Reprodução/Facebook)
Os riscos do uso de silicone industrial são muitos, e a chance de morte começa na aplicação. “As vezes, na hora de injetar, a agulha pega na veia e a pessoa morre na hora, por embolia. Se não, pode morrer um pouco mais tarde, como o caso dessa jovem, em uma infecção generalizada”, alerta o cirurgião plástico.
Além do risco de morte, o silicone não é absorvido pelo organismo, e com o passar do tempo se desloca pelo corpo. No caso de uma aplicação no glúteo, por exemplo, a substância pode causar deformações nas pernas e nos tornozelos. O processo causa dores fortes, e depois de injetado o silicone industrial torna-se impossível de sair, o que obriga os médicos a retirar partes do corpo dos pacientes.
O dr. Pascoal comenta que não são apenas travestis que fazem uso do silicone industrial. “O travesti é estigmatizado. Eu já tive oportunidade de atender mulheres, homens que fizeram uso desse silicone”, disse. Segundo ele, casos como o de Taciane acontecem com uma certa frequência no Piauí. “As pessoas veem um amigo fazendo e dando certo, e acham que pode dar. Mas a grande chance é de dar errado”.
Conscientização
Membro da Associação de Travestis, Transexuais e Transgêneros do Piauí (Atrapi), Maria Laura dos Reis afirma que a instituição trabalha para conscientizar as travestis contra o uso do silicone industrial. “A gente procura orientar quanto aos perigos. Embora elas sejam livres, a gente tenta inibir essa prática, que é um tabu entre a gente”, conta.
Maria Laura explica que a substância é usada para modelar o corpo, torna-lo mais feminino ou mais masculino. As pessoas que trabalham ilegalmente administrando o silicone industrial nas pessoas são conhecidas como “bombadeiras”.
“As meninas são bem conscientes dos riscos, mas muitas se arriscam assim mesmo.”, disse Maria Laura.

fonte portal o dia