Rodrigo Martins critica Polícia Civil por pirotecnia ao prender 'Palestino'
Deputado disse que não defende 'transgressor', mas condenou os exageros da operação
Por Rômulo Rocha - De Brasília
Posicionamento/Opinião
Posicionamento/Opinião
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REPERCUSSÃO NA CÂMARA FEDERAL- Não se trata de uma inversão de valores, mas da busca pelo cumprimento da lei, do tratamento digno e igual por parte da Polícia Civil, que não investiga corruptos
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POLÍCIA CIVIL SÓ EXPÕE POBRESÉ importante destacar que em um rápido e ainda recente discurso, o deputado federal Rodrigo Martins (PSB) condenou a “pirotecnia” da Polícia Civil quando da prisão do pichador conhecido por Palestino, que depois foi apresentado à sociedade, e foi obrigado a expor na altura do peito uma faixa que teria sido pichada por ele próprio, onde trazia escrito: "DEPRE". Uma referência ao nome da delegacia que o prendeu.
Na época, um posicionamento do Blog Bastidores, contrário à forma como foi feita a exposição [VEJA AQUI: Pichador Palestino precisa declinar nomes dos policiais que o humilharam], fez acender a virilidade daqueles a quem Umberto Eco chamou de “imbecis” que ficam atrás de uma rede social. Alguns chegaram a questionar até como o 180 tinha coragem de pagar o jornalista titular do blog. O mesmo posicionamento de políticos corruptos alvos de denúncias.
E isso tudo, mesmo dias antes, o próprio blog tenha cobrado uma posição das autoridades para com os pichadores e tenha exposto - também antes da "pirotecnia" da Policia Civil - a foto da pichação de Palestino, feita no Cemitério São José [O que a Prefeitura de Teresina vai fazer contra os pichadores da capital?], cobrando providências. Mas veja bem: cobrando providências e não mais possíveis transgressões, ainda mais advindas do aparelho estatal.
Mal sabem, os críticos (a grande maioria ignorantes), que quando forem a bola da vez, ou os seus filhos forem a bola da vez (talvez até por conta de um erro policial - é possível), essas mesmas pessoas estarão a procurar setores livres da imprensa para denunciarem o cerceamento de direitos previstos na própria Constituição Federal. Não se combate o crime com o vilipêndio desses direitos.
_Uma imagem que choca e que merece figurar em relatórios dos órgãos internacionais de proteção aos Direitos Humanos. Jovem teria sido obrigado a pichar o nome "DEPRE" para ser exposto para a imprensa...OAB precisa ajudar a impor um limite à exposição de pobres pela Polícia Civil, que não investiga corruptos de colarinho branco.
PODER SIM, MAS NÃO ILIMITADO
Aprovar a operação policial da forma como foi feita, por uma polícia que não investiga corruptos (a causa de muitos males), é reforçar o teor do poema "No Caminho com Maikóvscki", de Eduardo Alves da Costa: “na primeira noite (...) eles roubam uma flor do nosso jardim. E não dizemos nada (...). Na segunda noite já não se escondem (...). Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa (...). E já não podemos dizer mais nada".
Aprovar a operação policial da forma como foi feita, por uma polícia que não investiga corruptos (a causa de muitos males), é reforçar o teor do poema "No Caminho com Maikóvscki", de Eduardo Alves da Costa: “na primeira noite (...) eles roubam uma flor do nosso jardim. E não dizemos nada (...). Na segunda noite já não se escondem (...). Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa (...). E já não podemos dizer mais nada".
É extremamente perigoso descortinar o império das leis para se ver livre de um suposto criminoso. Não à toa, em seu discurso, o deputado federal Rodrigo Martins disse esperar que “esta mesma pirotecnia fosse dada em resposta à sociedade pela criminalização que lá (no Piauí) se está vivendo, principalmente, com o número de assaltos a bancos e feminicídios que têm acontecido ultimamente”.
O deputado poderia ter incluído em seu discurso a ausência de combate a um dos maiores dos males, a corrupção, que surrupia, por exemplo, dinheiro da maior esperança material e moral de uma nação: a Educação.
É risível isso não ocorrer - o combate à corrupção - em território piauiense, por parte da Polícia Civil, simplesmente porque segundo o Secretário de Segurança Pública Fábio Abreu, vejam só, no Piauí a polícia não faz operação para prender corruptos porque só roubam dinheiro público federal. M-E-U D-E-U-S D-O C-É-U, PARA O MUNDO...!!! Fazer o quê? Como o secretário sabe que só roubam dinheiro público federal é outra história. Vai ver é trabalho do Setor de Inteligência da Polícia Civil. Nunca se sabe.
Recentemente, a instituição Polícia Civil, em um daqueles atos únicos e milenares, como as causas naturais que extinguiram os dinossauros da face do Planeta Terra, prendeu um defensor público acusado de corrupção, que depois foi perdoado pelo Palácio de Karnak - mesmo com a Defensoria Pública pedindo a condenação máxima.
Tratava-se de Adriano Moretti. Em nenhum momento ele foi exposto como o foi Palestino, ainda mais da forma vexatória como o pichador foi apresentado. Moretti era acusado de cobrar de pobres para realizar um serviço pelo qual já recebia do Estado. Lesava os mais humildes, segundo as investigações. Mesmo assim a Polícia Civil não o expôs. Moretti vinha de uma linhagem diferente da de Palestino. Teve seus direitos assegurados. Podia pagar advogados caros.
NÃO SE TRATA DE UMA DEFESA DO CRIME
Em seu discurso na Câmara Federal e em tom de ponderação, Rodrigo Martins disse que não estava “defendendo nenhum transgressor ou criminoso”. Assertivo.
Em seu discurso na Câmara Federal e em tom de ponderação, Rodrigo Martins disse que não estava “defendendo nenhum transgressor ou criminoso”. Assertivo.
O deputado também cobrou o uso da “pirotecnia” em outros tipos de caso, como os assaltos a bancos.
É lógico que existem os indignados com suas casas e comércios pichados, mas é extremamente perigoso que a população – cujos muitos dos seus integrantes, por vezes, formam nas redes sociais uma espécie de Tribunal do Senso Comum – aplauda esse tipo de operação policial em sua totalidade, porque muito provavelmente, os que usam as redes sociais para assacar jornalistas e aplaudir a virulência policial, talvez sejam os maiores propensos a serem um dia expostos, sem que seus direitos individuais sejam respeitados.
E mal sabem os integrantes da base piramidal da sociedade que em momentos como esses estão a perder tempo consigo mesmos, agradando em muitas das vezes aos que estão no topo da pirâmide, que ao olharem um povo alienado, brigando entre si, passam a distribuir tranquilamente, em meio a comidas e bebidas refinadas, o produto proveniente do que tiraram da massa não pensante e não reivindicante. É preciso reivindicar não só migalhas do poder público e se contentar com isso.
Há momentos na vida em que alimentamos o monstro que um dia vai nos devorar e nem imaginamos. Dar poder demais a instituições sem vigiá-las... é um risco.
_Foto exposta pelo Blog Bastidores antes da Operação Policial. O respectivo blog cobrava uma posição das autoridades, não o possível desrespeito a leis.
A ÍNTEGRA DO DISCURSO DO DEPUTADO RODRIGO MARTINS__________
“Sr. Presidente, Deputado Carlos Manato, trago aqui um tema polêmico para a cidade de Teresina, Estado do Piauí.
Recentemente, Teresina estava ficando inteiramente suja devido a pichações por parte de uma única pessoa. Eu não estou aqui defendendo nenhum transgressor ou criminoso, mas foi feita uma verdadeira pirotecnia durante a prisão desse elemento, que depois foi apresentado à sociedade.
Nós esperávamos que esta mesma pirotecnia fosse dada em resposta à sociedade pela criminalização que lá se está vivendo, principalmente com o número de assaltos a bancos e feminicídios que têm acontecido ultimamente.
Aqui eu deixo a nossa crítica ao que lá ocorreu. Este é um tema polêmico que recentemente foi abordado em São Paulo. Fica aqui o registro, para que a segurança pública possa dar maior atenção à população e uma resposta de fato aos crimes existentes”.
Recentemente, Teresina estava ficando inteiramente suja devido a pichações por parte de uma única pessoa. Eu não estou aqui defendendo nenhum transgressor ou criminoso, mas foi feita uma verdadeira pirotecnia durante a prisão desse elemento, que depois foi apresentado à sociedade.
Nós esperávamos que esta mesma pirotecnia fosse dada em resposta à sociedade pela criminalização que lá se está vivendo, principalmente com o número de assaltos a bancos e feminicídios que têm acontecido ultimamente.
Aqui eu deixo a nossa crítica ao que lá ocorreu. Este é um tema polêmico que recentemente foi abordado em São Paulo. Fica aqui o registro, para que a segurança pública possa dar maior atenção à população e uma resposta de fato aos crimes existentes”.