Mais de 170 mil piauienses desistiram de procurar emprego
Como resultado da falta de confiança em conseguir um emprego, muita gente desiste de sequer tentar uma colocação no mercado.
O mercado de trabalho vem apresentando uma lenta trajetória de recuperação, refletindo o baixo dinamismo da economia brasileira. É o que aponta o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Neste sentido, apenas no Piauí, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estima que existam mais de 170 mil desalentados, ou seja, trabalhadores que desistiram de procurar uma colocação no mercado de trabalho. Em todo o país, esta categoria soma 4,8 milhões de pessoas, um recorde na série histórica.
“Por algum motivo, ele [o trabalhador] deixou de procurar emprego, mesmo tendo disponibilidade e interesse em trabalhar. Isto se deve, muitas vezes, ao fato de achar que não vai encontrar emprego. O momento atual de crise aponta que ele vai se achar muito novo ou inexperiente para assumir o emprego ou que não vai encontrar. Por conta disso, deixa de procurar”, explica Leonardo Santana, chefe da Unidade do IBGE no Piauí.
Entre os desalentados, a maioria está na região Nordeste, o que corresponde a 60% do total. Outro dado que merece atenção é a parcela da população que aparece em destaque na categoria: mulheres (54,7% de desalentadas entre a População Economicamente Ativa) e jovens de 18 a 24 anos (25,3% dos desalentados). “É como se a conjuntura atual apontasse para uma situação em que ele [o desalentado] se acha incapaz de encontrar um emprego e, por isso, deixa de procurar”, reforça.
Em consequência do cenário econômico, trabalhadores recorrem à informalidade. Foto: O DIA
Conforme Leonardo Santana explica, esses números trazem consequências para a economia piauiense e do país como um todo. “Hoje, no mercado de trabalho, existe um nível de desocupação muito grande. São menos pessoas contribuindo para a economia do país. Isso afeta de um modo geral o PIB [Produto Interno Bruto] nacional e o PIB dos estados também”, conclui.
Trabalho autônomo é saída para o desalento
Hoje o mercado de trabalho é composto por muitos autônomos. Incluem-se nesta categoria desde um advogado ou um dentista até pessoas que trabalham na informalidade, vendendo quentinhas ou sorvetes, por exemplo. No mercado de trabalho piauiense existem, aproximadamente, 378 mil pessoas trabalhando por conta própria. Isso representa 30% da força de trabalho. Para Santana, trabalhar por conta própria é uma saída para o desalento. “É um número expressivo de pessoas que estão procurando, de alguma forma, ter uma renda e enfrentar esse momento delicado de crise no país”, afirma.
José Airton é um exemplo. Vendedor ambulante, ele não conseguiu um emprego com carteira assinada e, há dez anos, vende salada de frutas nas ruas de Teresina. Desse trabalho, ele tira o sustento de toda a família.
“Eu tive necessidade [de trabalhar informalmente]. Antes, eu tinha um trailer de sorvetes no Detran, mas os bandidos arrombaram e eu fiquei sem nada. Depois comecei a vender picolé caseiro e um colega meu me chamou para vender salada, que era melhor. Ele me incentivou, me ensinou e vendeu a bicicletinha pra mim. Hoje estou aqui há dez anos e não quero trabalhar mais pra ninguém não. Quero ficar aqui até a me aposentar”, conta.