Algemado, acusado de abusar sexualmente de um adolescente de 15 anos, o padre Fabiano Santos Gonzaga falou com exclusividade a VEJA. Ele está preso na unidade prisional de Caldas Novas, será indiciado por estupro de vulnerável (Artigo 217 do Código Penal) e poderá pegar até 15 anos de cadeia. Segundo diz em sua defesa, o jovem teria inventado essa história por ter sido rejeitado pelo sacerdote dentro da sauna e por ter transtorno mental. Aparentando tranquilidade, o religioso se diz vítima de uma grande injustiça e sonha em voltar a celebrar missas em sua paróquia, no município de Frutal (MG); pede aos seus fiéis que orem por ele.
Você é padre e é acusado de estuprar um adolescente vulnerável de 15 anos. Tem receio de apodrecer na cadeia?
Nem cheguei a pensar nisso.
Como você se defende dessa acusação?
Não tinha como eu praticar sexo oral no garoto e ainda ejacular em sua boca uma vez que a sauna estava aberta ao público e sem tranca na porta.
Quando entrou na sauna, o garoto já estava lá?
Sim. Estavam ele e um senhor de mais ou menos 60 anos. O senhor saiu logo em seguida e o garoto me cumprimentou com os olhos. Eu perguntei o seu nome e se estava tudo bem. Ele me disse que estava hospedado na casa de um tio em Caldas Novas. Depois ele ficou parado me olhando. Achei ele estranho por não interagir e saí da sauna. Não fiquei lá dentro nem cinco minutos.
O que houve depois?
Estava sentando com os meus amigos e uma senhora loira me abordou dizendo: "seu nego safado. Não tem vergonha não?". O menino veio em seguida com duas amigas da mãe. Ela gritava dizendo que o filho dela é doente e que eu não podia ter feito aquilo. Não entendi nada naquele momento. Fomos levados para a delegacia e o menino disse que eu tinha ejaculado na boca dele. Me senti constrangido e sem entender muito a história.
Quando tentou conversar com o garoto, percebeu que ele tinha algum tipo de deficiência?
Não. Eu só reparei que ele não me respondeu. Mas não deu para perceber nada.
Você se diz vítima de injustiça, mas tem cinco pessoas acusando você e a juíza não quis soltá-lo. Afinal, como você se meteu nessa confusão?
Tentando pensar sobre isso, cheguei à conclusão que o menino ficou interessado em mim. Mas, como eu não correspondi, ele acabou inventando toda essa história por ter um retardo mental. A mãe tomou a história como verdadeira e já veio me acusando por eu ser minoria.
O que agravou a sua situação?
O fato de ser padre me complicou, pois há o estereótipo de que todo padre é tarado, pedófilo e gosta de criancinha.
A rigor, uma pessoa que está presa acusada injustamente de estuprar um menor vulnerável ficaria desesperada, mas percebo que você está se defendendo tranquilamente. Essa sua postura não levanta uma dúvida sobre a veracidade da história que você conta?
Na hora, eu não me desesperei porque não sabia direito o que estava acontecendo. Fui conduzido sem saber o motivo. Quando fui preso, aí sim, eu me desesperei.
O que você está sentindo nesse momento?
Injustiçado pela situação e pela mídia. Humilhado porque as testemunhas estão faltando com a verdade e preocupado porque tenho família.
Consegue imaginar o que vai acontecer com você daqui para frente?
Não. Mas tenho que provar a minha inocência. Não sei como isso vai acontecer.
Quando você resolveu ser padre?
Desde pequeno. Quando era criança, ia à missa com uma prima e sentia um encantamento. Em seguida, virei coroinha e sacristão. Aos 18 anos entrei no seminário e fui ordenado padre aos 25.
Será que a sua carreira de padre acabou com esse escândalo sexual?
Não, até porque vou provar a minha inocência. Agora, fica difícil recuperar a ferida moral.
Diante de uma acusação tão grave como essa, é possível recuperar o respeito dos fiéis?
Sim, até porque a minha vida religiosa na paróquia mostra o contrário de tudo isso que estão me acusando.
Como você processa essa situação no campo religioso?
Acho que é uma provação. Um momento triste, doído e dolorido.
Se o tempo voltasse atrás, o que você faria diferente?
Eu não estaria naquele clube.
Que mensagem você quer mandar aos seus fiéis?
Orem por mim.
POLÍCIA TEM OUTRA VERSÃOO padre Fabiano teve o celular apreendido pela polícia. O aparelho registra conversas eróticas com mais de cinquenta homens desde outubro de 2014. Muitas incluem trocas de nudes, inclusive do padre, que, no mesmo período, marcou encontros com 38 homens. A delegada Sabrina Leles Miranda, responsável pelo inquérito, define o caso com precisão: "Ser homossexual não incrimina ninguém. Mas, nesse caso, o padre está acobertando sua verdadeira orientação sexual para se livrar de uma acusação grave". Ou seja: a homossexualidade de um padre só é problema para a Igreja Católica, que proíbe tal orientação sexual entre seus pares, mas o abuso sexual de um menor de idade é um problema para toda a sociedade. É um crime.