TV Globo mostra o drama da falta de água em Jaicós e Padre Marcos; famílias passando sede e represas secas
Uma reportagem produzida pela TV Clube, afiliada da TV Globo no Piauí, mostrou o drama de agricultores que sofrem com a falta de água nos municípios de Jaicós e Padre Marcos.
Em Jaicós, o repórter Vinícius Vainner mostrou a força tarefa montada pelo Exército Brasileiro para levar água às famílias residentes na zona rural em caminhões pipa, após a paralisação de pipeiros contratados pela Operação Pipa. A meta do Exército é distribuir 390 carradas de água por mês em 134 localidades rurais.
A reportagem acompanhou a distribuição da água nas cisternas e registrou o sofrimento dos moradores. A agricultora Rosa da Conceição mostrou uma garrafa com apenas meio litro de água na geladeira, água para ser consumida por toda a família. “É o jeito se virar. Um bebe um pingo, outro bebe o outro. […] Rapaz, em dia que a gente passa até fome. As vezes tem a comida e não tem a água”, disse. Sem água, o esposo de Rosa, o agricultor José Ramos, relatou que está há uma semana sem tomar banho.
Para não passar sede, famílias tem gasto suas economias na compra de água. Quem não pode pagar tem que esperar pelo Exército. A cisterna de dona Aldenora Norberta secou há dias. “É esperar eles vir botar. Se demorar muito nós vamos morrer tudo de sede, porque só Jesus na vida nossa”, disse.
Segundo o prefeito do município, Ogilvan da Silva Oliveira, o Neném de Edite, além de castigar a população residente na zona rural, a seca trouxe prejuízos também para outros setores da economia, pois o homem do campo tem deixado de comprar alimentos e outros objetos para comprar água, pagando 120 reais numa carrada de água. O gestor relata que o volume de água distribuído pelo Exército é insuficiente para atender a população.
A reportagem mostrou o resultado da estiagem no município de Padre Marcos. O açude do Caboclo, situado na divisa entre os municípios de Belém do Piauí e Padre Marcos, que por muitos anos abasteceu as duas cidades, hoje está com menos de 3% de sua capacidade.
A barragem do Estreito, uma das maiores do interior do Piauí, nunca mais atingiu sua capacidade máxima. Após seis anos de seca, a represa está com 18% de sua capacidade. A obra gigantesca não está servindo para quase nada. A barragem, de acordo com o projeto, deveria abastecer mais de dez cidades da região, mas atende apenas às cidades de Padre Marcos e Belém do Piauí.
O agricultor Anfrísio Carvalho também colhe os prejuízos da seca. Sem chuvas, a plantação de milho se perdeu. Ele relata que a situação de quem vive da plantação e do criatório de animais, a situação é triste. Para ter o que comer em casa, a mulher do agricultor, Luíza Macedo, teve uma ideia um pouco arriscada. Com a cisterna seca, a pequena plantação de banana recebe, agora, água que vem do esgoto da casa. Ela reconhece o risco de contaminação, mas disse não ter outra opção.
Difícil também está sendo para o agricultor aposentado, Alexandre de Carvalho. Ele reside na zona rural de Padre Marcos há quase 70 anos, e pela primeira vez viu o açude da comunidade completamente vazio. O lugar onde ele costumava nadar virou chão batido, castigado pela maior seca dos últimos anos. “Nós aqui vamos acabar com o que tem tudo. Não tem pasto, não tem água. Não tem rumo de botar água aqui. Eu acho que vai ficar sem nada”, disse. A seca tem tirado o sono do chefe de família.