sábado, 23 de setembro de 2017

Criança é vítima de ataques racistas e de intolerância religiosa em escola de Teresina

Criança é vítima de ataques racistas e de intolerância religiosa em escola de Teresina

Ela é chamada de "cabelo de bucha e de macumbeira" pelos colegas de classe

“A chamam de cabelo de bucha e de macumbeira por causa da cor da pele e de sua religião”, relata, em entrevista ao Portal AZ, a coordenadora do Grupo Ijexá e mãe de Santo, Gardene de Carvalho. A vítima das ofensas mencionadas nesta matéria é uma criança de 11 anos, a qual vem sofrendo ataques racistas e de intolerância religiosa por parte dos próprios colegas da instituição de ensino onde estuda: a Escola Municipal Irmã Dulce, localizada na comunidade Vila São Francisco, zona sul de Teresina.
Foto ilustrativa
Foto ilustrativa
Segundo Gardene, a menina é constantemente agredida pelos colegas de classe e, recentemente, também pela professora, pois sem justificativas, a educadora da menina teria rasgado uma prova e jogado contra o corpo da aluna, durante a aplicação do teste. Além disso, ela diz ainda que a direção da unidade escolar “está omissa ao caso”, e que retiraram a criança do Programa Mais Educação promovido na instituição por a considerarem “briguenta”.
“Apesar de todos os ataques sofridos, ela não se cala e se defende. Ela não aceita que falem mal do cabelo dela e a direção da escola com os educadores a retiraram do Programa Novo Mais Educação dizendo que ela provocava briga, sendo que ela só se defendia. Na última segunda-feira, na hora da aplicação da prova, a professora rasgou a avalização da menina e jogou no rosto dela. Ela é educadora e essa atitude não foi positiva, e a direção nem procurou ouvir a denúncia da criança. Não se trabalha essa intolerância dentro da escola e a professora, ainda tenta justificar a atitude de um dos coleguinhas, autor das ofensas, dizendo que ele só tocou no ‘ponto fraco da menina’, que no caso seria o cabelo”, relatou a coordenadora do Grupo Ijexá que também é tia da criança.
Gardene atua no movimento negro há muitos anos e afirma que a sobrinha participa dos encontros para discussões sobre o enfrentamento ao racismo no Grupo Ijexá e também é praticante da religião Umbandista.
“Ela não aceita preconceito. É uma criança empoderada e sabe seus direitos. O Ijexa existe há 13 anos e não é só musica e dança, atuamos também no enfretamento ao preconceito. Fazemos um trabalho social e educativo em defesa das crianças e adolescentes. E a minha sobrinha faz parte do nosso grupo e sabe que tem o direito de expressar a cultura dela onde quer que esteja. A escola não abre espaço para se falar da intolerância religiosa, racismo, ou das políticas voltadas para a questão negra. Já tentamos inúmeras vezes porque a minha filha que também estudou lá, já passou pelos mesmos ataques e se formos pesquisar, outras crianças também foram ou estão sendo vítimas disso”, declarou.
Na próxima segunda-feira (25), o caso será denunciado junto à Secretaria Municipal de Educação de Teresina. 

Outro lado

A direção da Escola Municipal Irmã Dulce informou ao Portal AZ que tem conhecimento do caso e que já se reuniu diversas vezes com a mãe da aluna para discutir a situação relatada por ela. Destacou que apesar das denúncias de ofensas proferidas pelos colegas da aluna, a administração da unidade de ensino não identificou tais atitudes por parte dos alunos, mas que está vigilante para que não ocorram. Afirmou ainda que a criança não foi retirada do Programa Novo Mais Educação, e que sim, ela não se enquadrava no projeto por ele ser destinado a alunos com dificuldades em disciplinas. No caso, a aluna em questão, apresenta habilidades suficientes para o nível de ensino do quarto ano o qual ela está cursando. Porém, ultimamente, tem apresentado baixa em seu nível escolar.
A respeito da prova que havia sido rasgada, a direção afirma que a aluna não quis responder a avaliação e teria amassado o papel. A professora, então, pediu para que ela levasse para casa para que fosse respondida como uma atividade de rotina, mas a criança não fez o exercício e ela própria (a aluna) teria arremessado o papel contra a professora.
De acordo com a direção da Escola Municipal Irmã Dulce o caso será discutido através de palestras com os alunos e os familiares para que haja uma maior aproximação entre a comunidade escolar. As atividades deverão ocorrer ao final do mês de outubro.

fonte www.portalaz.com.br