Motorista por aplicativo sofre abordagem truculenta de policiais à paisana
Com receio de estar sendo alvo de bandidos, motorista tentou fugir e foi perseguida pelos policiais, que estavam num carro descaracterizado.
Uma mulher que trabalha como motorista de transporte privado individual por aplicativo foi abordada na noite da última segunda-feira (6) de forma truculenta por policiais à paisana.
Segundo a motorista, que pediu para não ter a identidade revelada, ela começou a ser perseguida por um veículo descaracterizado modelo Gol de cor branca e sem placa, no qual estariam os policiais à paisana.
Tudo ocorreu por volta das 23 horas, quando a mulher estava trafegando pela Rua Dr. Josué Moura Santos, na altura do Residencial Nova Teresina, na região da Grande Santa Maria, zona norte da capital.
A motorista relata que pensou que os homens que estavam no Gol seriam bandidos e, por esta razão, passou por uma rotatória três vezes seguidas, para tentar despistá-los.
Perseguição a motorista por aplicativo teve início em rotatória situada próximo ao Residencial Nova Teresina (Imagem: Google Maps)
Logo após, os policiais à paisana efetuaram um disparo, possivelmente por terem suspeitado que no carro da motorista havia criminosos, não uma trabalhadora.
Assustada com o disparo, a motorista começou a trafegar em alta velocidade, e a pedir ajuda para outros motoristas de aplicativo. Um deles, inclusive, estava nas imediações no momento do incidente, e começou a acompanhar a colega, quando eles ainda suspeitavam que havia bandidos dentro do Gol branco.
Os policiais à paisana iniciaram, então, uma perseguição aos dois motoristas, que se estendeu por cerca de oito quilômetros, e só teve fim no bairro Poti Velho, quando os motoristas encontraram uma equipe do Batalhão de Rondas Ostensivas de Natureza Especial (BPRone), esta sim num veículo caracterizado da Polícia Militar.
No trajeto entre o Residencial Nova Teresina e o bairro Poti Velho os dois motoristas por aplicativo, bem como os policiais que os perseguiram no carro descaracterizado, chegaram a trafegar acima dos 100 km/hora. Todo o trajeto foi percorrido em menos de dez minutos.
Depois de pararem seus carros, a mulher e seu colega identificaram-se como motoristas de aplicativo e, mesmo assim, receberam ordens dos policiais da BPRone para se deitarem ao chão com as mãos para trás.
A motorista relata que os policiais que estavam no carro descaracterizado ainda efetuaram um segundo disparo, que atingiu um dos pneus do seu veículo.
"Nós pensávamos que eles eram bandidos e eles pensavam que nós éramos bandidos. Mas nada justifica a forma como eles nos abordaram. Quando encontramos a outra viatura, do BPRone, achávamos que seríamos auxiliados, mas fizeram foi mandar que deitássemos no chão, mesmo depois de termos nos identificado como motoristas de aplicativo. É como irmos a um hospital porque estamos doentes e, em vez de receber cuidados, sermos agredidos", afirma a motorista, que diz estar com medo de continuar trabalhando neste tipo de serviço. "Quem é para nos proteger, ameaça!", acrescenta.
A motorista considera que a abordagem feita pelos policiais foi completamente equivocada. Ela afirma que qualquer pessoa teria medo ao trafegar numa região isolada e perceber que está sendo seguida por um veículo com vários homens em seu interior. "Eu, sozinha dentro do carro, ainda mais sendo mulher, claro que só pensei em fugir. E a sorte é que havia um colega por perto, senão meu pânico teria sido maior", afirma a trabalhadora, acrescentando que seu pavor aumentou depois que os policiais efetuaram um disparo.
Anthero Nunes, que é diretor da Associação dos Motoristas Autônomos para Transporte Privado Individual e Passageiros no Piauí (Amatepi), pondera que em casos como este os trabalhadores só podem recorrer à imprensa e á própria sociedade. "Como nós vamos registrar queixa na Polícia contra a própria Polícia?", questiona.
Policiais à paisana deixaram local sem pedir desculpas
A mulher revela que, depois de terem constatado que ela e seu colega não eram criminosos, os policiais à paisana deixaram rapidamente o local, sem sequer pedir desculpas pela abordagem inapropriada que fizeram.
A motorista afirma que um motorista da equipe do BPRone foi quem trocou se pneu, que havia sido furado pelo disparo efetuado por um dos policiais à paisana. "Ao final de tudo, um dos policiais da Rone pediu desculpas, me cumprimentou, apertando minha mão, e foram embora", conclui.