Permissionários da Ceapi são acusados de uso indevido de agrotóxico em frutas
Prática “comum” no Brasil estaria sendo feita por permissionários da Central de Abastecimento do Piauí para acelerar amadurecimento do produto e aumentar sua durabilidade
Foto: Redação O Olho (Imagem ilustrativa)
Rica em vários nutrientes e causadora de muitos benefícios como regulação de hipertensão arterial e combate a anemia, a banana, que é um dos produtos mais vendidos da Central de Abastecimento do Piauí (CEAPI), pode levar até oito dias para ficar no ponto ideal para ser comercializada, após colhida. Entretanto, uma denúncia apurada pelo portal acusa alguns permissionários da Ceapi de usarem na própria central, um agrotóxico para acelerar esse processo de amadurecimento e aumentar seu tempo de prateleira.
Popularizada no meio agropecuário como Ethrel, a substância tem como princípio ativo o Etefom, e variações como o Cottonquik e o Zaz. Segundo o engenheiro agrônomo e fiscal agropecuário da Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Piauí (ADAPI), Demerval Martins, o órgão recebeu denúncias de que a substância estaria sendo usada de forma inapropriada. “O Ethrel é um regulador de crescimento, que é utilizado em outras culturas, ele não é registrado para essa finalidade, que no caso é padronizar a maturação da banana e dar mais poder de prateleira a ela”, explica.
Francisco de Assis, gerente de defesa ambienta da Adapi (Agência de Defesa Agropecuária do Piauí), disse que a instituição já se reuniu em outras ocasiões com a gestão passada da Ceapi para tratar de assuntos da defesa ambiental. A respeito da prática não recomendada de mergulhar as frutas em Ethrel, a Adapi admite conhecer o assunto mas ainda não foi tomada nenhuma providência para evitar a continuidade da irregularidade.
“Por conta de o ano passado ter sido um pouco conturbado, não conseguimos efetivar essa parceria com a diretoria da Ceapi, no sentido de regularizar essa prática. Nós estamos com os levantamentos realizados, estou de licença, mas quando eu retornar vamos tratar de fato desse assunto”. A intenção é reunir a nova diretoria e os permissionários para regularizar a situação.
Cada agrotóxico tem sua finalidade específica e quem faz essa avaliação é o Ministério da Agricultura. Todos os agrotóxicos vendidos no Piauí são registrados pela Adapi. O Ethrel pode ser usado por exemplo, no cultivo das seringueiras para estimular a produção látex, no plantio de algodão, que atua como maturador e desfolhante e na produção de cana de açúcar usado com a finalidade de acelerar a maturação, sendo feito o uso de até 1,5 litros por hectare, no período de 70 a 90 dias antes do corte.
A Adapi é o órgão responsável pela fiscalização do uso correto dos agrotóxicos. E ainda de acordo com o engenheiro agrônomo Demerval Martins, todos os permissionários são conhecedores da proibição, e em caso de fiscalização, se comprovada a utilização indevida, eles podem ser punidos por desvio de finalidade, de acordo com a legislação. “A multa dada seria de 5.100 Unidades Fiscais de Referência do Estado do Piauí (UFRPI). Cada UFRPI equivale a R$ 2,71, a multa pela infração considerada gravíssima, no total, seria de R$ 13.821”.
SUBSTÂNCIA É SUSPEITA DE CAUSAR CÂNCER
Apenas no mês de janeiro deste ano, a Ceapi comercializou mais de 4 mil toneladas de bananas, e a principal preocupação é por conta da suspeita de que o Ethrel possa causar câncer nos consumidores. “Qualquer agrotóxico que for consumido, traz consequências para a saúde, como por exemplo, aparecimento de tumores no organismo, que podem desencadear um câncer. Os resíduos vão se acumulando nas vísceras e com um tempo podem gerar um tumor, onde foi atacado. Isso é uma coisa que acontece lentamente, com o uso continuo”, explica o engenheiro agrônomo.
Um das alegações feitas para o uso do produto na banana seria por conta da fruta ter uma casca grossa, que protege a poupa de ser atingida pelo agrotóxico, que em algumas análises feitas, não teria sido encontrado resíduo da substância. Mas a preocupação do gerente de defesa ambiental da Adapi, é que essa prática esteja se estendendo para outros produtos, e em outros mercados fora da central.
“A defesa daqueles que dizem que o produto não faz nenhum mal não é muito consistente, porque não se apresenta nenhum laudo laboratorial. Como esse aspecto vai envolver a secretaria de Saúde, teremos que fazer uma parceria com a Diretoria de Vigilância Sanitária do Estado, a Ceapi e a Adapi”. O gerente diz ainda que pode até ser que com a aplicação do produto na fruta, não fiquem resíduos acima da quantidade permitida, mas é preciso que haja as análises, e de toda forma esse produto não se destina a essa prática.
Outra preocupação dos órgãos é com a questão social, pois muitos permissionários têm seu sustento familiar conseguido exclusivamente através dessa comercialização. O objetivo é definir uma estratégia de atuação visando cuidar desde a colheita, para que não seja feita precocemente, até a venda. Francisco de Assis alerta ainda que a prática não é exclusiva do Piauí.
ADMINISTRAÇÃO DA CEAPI NEGA CONHECIMENTO DA PRÁTICA E DIZ QUE IRÁ INVESTIGAR AÇÃO
Através de seu gerente de mercado, Capitão Edmar, a Central de Abastecimento do Piauí, informou que não tem nenhum tipo de conhecimento sobre o assunto. “Não temos conhecimento de que isso tenha acontecido, senão já teríamos colocado pessoas para ficarem mais atentas a essas coisas. É uma novidade, vamos tentar resolver, se realmente estiver acontecendo vamos trabalhar para identificar e acabar de uma vez por todas com isso”.
A assessoria da Ceapi informou ao portal que a fiscalização dessa prática é de competência da Adapi, mas que está a disposição para ajudar a identificar e combater a ação.