Profissionais se reuniram em frente ao HUT, onde a profissional trabalhava. Hospital tem 250 trabalhadores da saúde afastados por serem do grupo de risco.
Após a morte da técnica de enfermagem Solange Mourinho, uma das vítimas mais recentes da covid-19 em Teresina, enfermeiros e técnicos do Hospital de Urgências de Teresina (HUT) se reuniram na manhã de hoje (20) na porta da unidade de saúde em protesto por melhorias nas condições de trabalho e reivindicando os equipamentos de proteção individual (EPI’s) necessários para resguardá-los da doença.
De acordo com os profissionais, o HUT possui uma ala específica para os pacientes com coronavírus e as demais alas para pacientes não-covid. No entanto, os trabalhadores que mais se contaminam são justamente os que atuam nas áreas não-covid porque recebem quem procura atendimento no hospital sem saber se a pessoa está contaminada ou não.
“Até a semana passada, não tínhamos um serviço de triagem. O paciente chegava e a gente não sabia se ele era um paciente positivo para covid ou não. Essa semana foi que a Fundação [Municipal de Saúde] começou a testar todos os pacientes que adentram ao HUT”, denunciaram os profissionais em protesto.
Eles pedem ainda que adicional de 40% por insalubridade seja estendido a todos os profissionais do hospital, independentemente de atuarem na linha de frente da covid-19. Eles alegam que todos os trabalhadores da unidade de saúde, e não só os da ala do coronavírus, têm contato com os pacientes que chegam, porque eles transiam pelo hospital até serem alocados na ala devida.
HUT tem mais de 200 profissionais afastados
Segundo dados solicitados pelo Portal junto ao Hospital de Urgências de Teresina, o HUT possui 250 profissionais atualmente afastados de suas funções por integrarem o grupo de risco para a covid-19. O número corresponde a 13% dos 1.900 profissionais que o hospital possui entre servidores, terceirizados e cedidos.
Vale lembrar que na semana passada, o Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Saúde Pública do Píauí (Sindespi) divulgou um número considerado preocupante: pelo menos 110 profissionais da saúde já haviam sido infectados pelo coronavírus no Estado. A maioria deles (34) estava lotada no Hospital Getúlio Vargas, em Teresina. O HUT não havia entrado na lista.
No protesto de hoje (20), os profissionais da enfermagem destacaram estes números e reiteraram que, embora esteja seja a Semana Nacional da Enfermagem, a categoria não tem o que comemorar.
“Sabemos da atual situação mundial. Sem nem termos condições, nós conseguimos através do nosso cuidado, exercer com excelência nossa atividade. Mas quem cuida também precisa ser cuidado e hoje finalizamos a Semana de Enfermagem com todo o carinho e respeito por aqueles que não estão seguindo mais, aqueles que estão afastados e também com vontade de prosseguirem, mas não podem, porque são fatores de risco”, afirmaram os profissionais.
O outro lado
O Portalodia.com entrou em contato com o HUT. Por meio de nota, o hospital e a Fundação Municipal de Saúde (FMS) asseguraram que realizam aquisição constante de equipamentos de proteção individual (EPIs) para toda sua equipe da área da saúde, ainda que esses itens estejam com alta demanda no mercado mundial devido à pandemia de covid-19.
"Todos profissionais que estão em contato direto com pacientes suspeitos ou confirmados para covid-19 recebem paramentação completa, adequada e segura, de acordo com o que recomenda a Anvisa. Todos os pacientes que dão entrada no HUT, com ou sem suspeita de Covid-19, são submetidos a testes.", diz a nota.
Sobre a insalubridade aos servidores, a FMS garantiu que o adicional de 40% foi pago aos profissionais que estão trabalhando diretamente no enfrentamento à Covid-19, em contato com os pacientes infectados. O pagamento dos servidores foi feito em folha suplementar. Aqueles que, por ventura, não foram contemplados e entenderem que possuem direito à insalubridade, devem protocolar requerimento via sistema SEI nos termos da Portaria 87/2020, de 15 de abril.
"A FMS assegura que os servidores que já recebem insalubridade em valor menor tiveram seu adicional reajustado, para que chegue aos 40%. Essa medida será válida enquanto durar a pandemia em Teresina. Mesmo que a orientação das autoridades em saúde seja de evitar aglomerações para evitar contágio pelo vírus, a FMS e o HUT respeitam o direito de manifestação da categoria e se coloca sempre à disposição para diálogo com seus representantes", finaliza a nota.