Foto: Arquivo Pessoal
O pedagogo Luiz Antonio de Moura, 34 anos, procurou o 4º Distrito Policial no Parque Piauí para registrar um boletim de ocorrência contra um casal de vizinho por injúria e difamação. O Pai Luiz, como é conhecido, conversou com o portal e falou que ele e os filhos de santo têm sido vítimas constantemente de intolerância religiosa. A reportagem teve acesso ao BO registrado pelo pai de santo como injúria.
Pai Luiz comanda o Congá de São Sebastião, no bairro Areias, zona Sul, onde 44 filhos de santo frequentam. O centro de umbanda funciona na casa de Luiz Antonio há 8 anos e cerca de quatro anos, ele e os filhos de santos estão sendo vítimas, segundo alegou o Pai Luiz, do casal de vizinhos.
"Quando a gente passa, eles fazem o sinal da cruz, como se fôssemos demônios. Meu filho foi comprar ovo para tomar café e ele ficou jogando piada, dizendo que a gente só comia ovo. Qualquer pessoa que para na frente do congá eles dizem que eu sou mentiroso, charlatão e que ninguém pode mais que Deus, como eu se quisesse ser um deus", relatou o pai de santo.
Durante esses quatro anos, o Pai Luiz não viu necessidade em levar a situação para a Justiça porque, segundo destacou, a religião que ele exerce prega pela paz e ele sempre foi do diálogo. Contudo, no dia 3 de maio a situação saiu do controle.
"Tudo começou por volta das 9h da manhã e durou o dia todo. O vizinho ficou atacando verbalmente as filhas de santo, chamando-as de sapatão, que eram veacas, chamou outros de cafetão", relembrou Luiz ao destacar que o episódio foi o ápice da intolerância. "Queremos Justiça. Não por mim, mas pela minha tradição. Vivemos em um país e estado laico".
A situação foi filmada pelas filhas de santo que estavam no congado no momento dos ataques verbais do vizinho. Luiz Antonio, por não tolerar mais as injúrias e a situação, procurou o Distrito Policial do Parque Piauí por se sentir ameaçado.
"Nem um carro podemos estacionar porque ele ameaça quebrar. E, na terça, ele deixou a entender que tinha arma de fogo. Ficava dizendo para o filho: pega lá o negócio. Ficava me chamando para o meio da rua, que se eu fosse homem, sairia de casa para resolver o problema", afirmou o Pai Luiz.
Uma viatura da Polícia Militar chegou a ser acionada para intermediar a situação, mas, segundo o pai de santo, só apareceu por volta das 19h do mesmo dia.
"Meus filhos de 12 e 8 anos não entendiam o que estava acontecendo. Eu dizia que não era nada, mas eles são espertos. Fiquei nervoso demais. Fui no DP e enquanto eu estava no Distrito as injúrias continuaram. Pedi para as filhas de santo ficarem dentro de casa porque não podemos confiar em uma pessoa que ameaça", pontuou.
Audiência
Na quarta-feira (11/04) acontece uma audiência entre o casal de vizinhos e o Pai Luiz. "Se eles se comprometerem a respeitar nossa religião, não vamos dar queixa na Delegacia de Direitos Humanos. Agora, se percebermos que eles não querem parar, vamos precisar dar prosseguimento. Não queremos guerra. Queremos só o direito de exercer nossas funções litúrgicas", completou o pai de santo.
Outro lado
O portal conversou com um dos filhos dos vizinhos. No entanto, a filha do casal afirmou que não iria comentar o assunto. A reportagem não conseguiu localizar o suspeito, mas o espaço fica aberto para esclarecimentos.