O médico cirurgião Antônio Dib Tajra, que faleceu, ontem, em Teresina, aos 78 anos, entrou para a história da Medicina do Piauí como um de seus expoentes. Em 50 anos de profissão, ele participou de grandes marcos da trajetória da saúde no Estado, como a criação dos Hospitais Casamater e Santa Maria, e também da fundação da Faculdade de Medicina do Piauí.
Em meio século de exercício da medicina, o Dr. Dib realizou mais de 19.000 cirurgias, entre médias e grandes. Foi uma presença ativa também no meio científico, com 193 participações em congressos, quatro livros editados e 38 trabalhos publicados em livros e revistas científicas. Era membro da Academia Nacional de Medicina e da Academia Piauiense de Medicina.
Foi ainda líder em seu seguimento. Por muitos anos, presidiu o Sindicato dos Hospitais e das Clínicas do Piauí.
A vocação - Antônio Dib Tajara sentiu as primeiras manifestações de sua vocação profissional ainda na adolescência, inspirando-se na própria família: “Minha vocação pra ser médico era sentida desde a época em que eu fazia o ginásio em Teresina, no Colégio Leão XIII. Nós já tínhamos alguns médicos na nossa família, como a Dra. Rosa Amélia Tajra, primeira médica mulher do Piauí, dr. João França Filho, esposo dela, e minha tia Maria Teresa Tajra Cortelazzi. Eu via neles um espelho. Eram pessoas que trabalhavam fazendo o bem para a população. Ela era pediatra e ele cirurgião geral e também tinha um primo, João Elias Tajra, que era médico.” Os médicos da família já chegam a 13, incluindo seus filhos e netos.
Com ideia de cursar medicina, mudou-se nos anos 50 para Fortaleza, onde fez o ensino médio e o pré-vestibular. Aprovado para a Faculdade de Medicina do Ceará, fez com louvor os seis anos da graduação. Na faculdade, também foi líder estudantil, chegando a presidir o Diretório Acadêmico. Na formatura, foi o orador da turma.
Ele contou que antes mesmo de se formar, já tinha decidido pela clínica cirúrgica. “Além disso, na Universidade do Ceará havia um excelente gabinete de anatomia, no qual dispúnhamos de muitos cadáveres para estudar. Meu grupo da turma participava muito de autópsias e dissecações, o que nos possibilitou vivenciar a cirurgia desde o início do curso, já que é dessas técnicas de onde vem a maioria do conhecimento no campo da cirurgia”, relatou.
Já formado, voltou para Teresina em 1962, para trabalhar no Hospital Getúlio Vargas: “Fui o médico de número 173 do Piauí. Naquela época, havia poucos médicos. Consequentemente, as oportunidades de trabalho eram muito grandes. Fiquei trabalhando no serviço de urgência do HGV durante 20 anos.”
Um caso especial - Em entrevista, o Dr. Dib relatou um caso que repercutiu por muitos anos no meio médico e na sociedade teresinense: “No HGV, fomos os primeiros cirurgiões do Piauí a recuperar uma ferida cardíaca: um paciente com facadas no coração. Nesse período, conseguimos também recuperar 12 pacientes com feridas cardíacas, salvando-os. Fomos os primeiros a conseguir reanimar um paciente com parada cardíaca transoperatória. Ele sofreu a parada durante a cirurgia. Fizemos massagem externa, depois interna, diretamente no coração, e conseguimos recuperá-lo, sem sequelas.”
O jornalista, publicitário e poeta Durvalino Couto Filho, em post no Facebook em homenagem ao Dr. Dib, relatou os detalhes do atendimento que ele prestou a um paciente esfaqueado no coração, salvando a sua vida:
Poeta relata intervenção que salvou a vida de seu pai
Hospital Santa Maria, um marco na medicina
O Hospital Santa Maria está associado ao nome do Dr. Dib Tajra, que foi um de seus fundadores, em 1973. O médico ficou na direção do hospital até 2013, contribuindo significativamente para a transformação de Teresina em pólo regional de saúde.
O HSM esteve na vanguarda de muitas iniciativas relacionadas ao processo de evolução dos serviços médicos oferecidos no Piauí. O hospital implantou, por exemplo, a primeira UTI da cidade e realizou cirurgias pioneiras, como as de transplantes renal e cardíaco, além de ser um centro formador de novos cirurgiões, através da residência médica.
O Dr. Dib contou como se deu a fundação do hospital: “Era um grupo de médicos amigos e unidos. Dr. Antônio Moreira Mendes, pneumologista; Dr. Lucídio Portela, radiologista, o cirurgião geral Dr. David Cortelazzi, Dr. Reginaldo Rêgo e eu. Cada um já tinha seus consultórios, próximos uns dos outros. Eu já fazia cirurgia torácica e havia feito cursos de cirurgia pulmonar em São Paulo e no Rio de Janeiro, quando fui convidado por Dr. Lucídio para abrirmos uma clínica de pneumologia junto com nossos três amigos. Daí decidimos criar a Clínica de Doenças Torácicas de Teresina, que hoje é o Hospital Santa Maria, e que seria voltado principalmente para doenças pulmonares e cirurgias gerais. Não havia um serviço desse tipo na época.”
Homenagem no Hospital Santa Maria
O Santa Maria, segundo o seu fundador, foi o primeiro hospital projetado e planejado do Piauí por uma equipe de administradores hospitalares, coordenada pelo Dr. Geraldo Magalhães, que havia sido seu professor em Fortaleza.
O hospital começou com 27 leitos e implantou a primeira UTI do Estado, com 4 leitos, além dos 60 leitos para clínica médica e cirurgia. Depois, evoluiu e chegou a ter 250 leitos e 27 leitos para UTI, sete deles de UTI pediátrica, também pioneiro no Estado.
Com a criação do Hospital Santa Maria, houve aprimoramento e especialização em cirurgias. “O primeiro marcapasso cardíaco no Piauí foi implantado por mim, juntamente com os doutores Benício Sampaio Parente e Moacir Godoy, no Hospital Santa Maria”, relatou.
No discurso de posse na Academia, uma revelação
O Dr. Dib Tajra tomou posse na Academia Piauiense de Medicina no final do ano passado. Um acadêmico tardio, pois ele foi um dos fundadores da instituição, em 1974, conforme revelou em seu breve discurso de posse:
“Sinto-me honrado e envaidecido pelas homenagens que me são prestadas pelos meus parentes, médicos e amigos, ao ingressar na Academia Piauiense de medicina.
A Academia Piauiense de Medicina foi discutida e criada no meu consultório e do Dr. David Cortellazzi, no Hospital Santa Maria, teve como presidente o Dr. Natham Portela que não aceitou meu ingresso devido a minha grande amizade com o Dr. Lucidio Portela que continua a mesma, mesmo depois de sua morte, até hoje. Faço este relato para que os nossos amigos saibam desta verdade.
Posse na Academia Piauiense de Medicina
Quero homenagear nesta oportunidade a minha querida Esposa, Cândida Maria da Costa Almeida, pelo apoio que sempre me ofereceu e aos meus filhos, Dib Filho, Luis Carlos, Haroldo, Carlos Eduardo, Sanmya, aos netos: Rodrigo, Rafael, Carol, Gabriel, Tatiana, Felipe, Ana Lidia, Marcel, Daniel, Ana Cálida e minha enteada, Bruna Almeida de Mendonça Clark.
Quero homenagear e agradecer esta homenagem aos meus amigos e colegas médicos, Gisleno Feitosa e Itamar Costa.
Tem este ágape o sentido inequívoco e uma festa de amizade e harmonia.
Sentimo-nos envaidecidos como os soldados que trazem os loiros das vitórias, dos campos de batalha.
Realizei aproximadamente 19.000 (dezenove mil) cirurgias de média e grande complexidade, durante 50 (cinquenta) anos de medicina e cirurgia.
Escrevi e publiquei quatro livros, sendo um deles “Procedimentos de Cirurgia”, que foi publicado e vendido pela própria editora, em todos os países de língua portuguesa.”
Zózimo Tavares
(Com informações de “O Piauí no Século 20”, “Aspimed: 70 anos” e medplan.com.br)
fonte cidadeverde.com