O senador piauiense, que é médico, analisou o novo protocolo do Ministério da Saúde para a covid-19 e fez um alerta: “remédio não se toma como água”
O novo protocolo repercutiu tanto no meio científico, quanto no meio político e gerou ainda mais polêmica. É que não existe ainda nenhum estudo comprovando documentalmente a eficácia da cloroquina contra a covid-19, embora haja relatos médicos e de pacientes que conseguiram chegar à cura ou evitar complicações da doença após a administração do medicamento.
Aqui no Piauí, um dos que se manifestaram sobre o protocolo foi o senador Marcelo Castro (MDB). Médico por formação, ele criticou a falta de assinatura na nota técnica do Ministério da Saúde, que ampliou o uso da cloroquina, e disse que, no momento, se está apelando para tudo, já que a covid-19 é uma doença que não possui vacina nem medicação associada.
O senador Marcelo Castro analisou o protocolo do Ministério da Saúde para a covid-19 - Foto: O Dia
“O Ministério não inova, permite que a cloroquina ou hidroxicloroquina ou azitromicina sejam usados na fase inicial da doença, em que a ampla maioria dos médicos e dos hospitais praticam isso aí. Evidentemente que remédio nunca foi feito para se tomar como água, que precisa de um acompanhamento médico, fazendo exames para ver as reações que possam ter”, afirmou o senador.
Mesmo com o alerta, Castro reiterou que, diante de uma doença sobre a qual pouco se sabe ainda, a busca por substâncias que façam efeito já era esperada. “Tudo faz crer que alguma dessas substâncias realmente tenha efeito sobre a evolução da enfermidade, principalmente, dizem alguns cientistas, o anticoagulante e o corticoide para o processo inflamatório, e a hidroxicloroquina e a azitromicina para a fase inicial da doença.
Controvérsias
O que o Ministério da Saúde vem defendendo é justamente a administração da cloroquina na fase inicial da covid-19, porque, segundo relatos de pacientes e médicos que já usaram no tratamento, ela pode ajudar a reduzir a inflamação e evitar complicações posteriores. No entanto, a administração do medicamento não é vista com bons olhos por toda a comunidade científica e médica.
Ontem (20), um grupo de médicos e cientistas brasileiros divulgou uma nota sobre o novo protocolo para tratamento da covid-19 anunciado pelo Ministério da Saúde. O documento se baseia em 71 estudos e pesquisas publicados em renomados institutos no mundo e destaca a falta de evidências científicas que comprovem a eficácia do medicamento contra o coronavírus.
O que os profissionais alertam, é que a liberação de um fármaco para administração em pacientes deve ser feita seguindo protocolos de pesquisa aprovados por comitês de ética em pesquisa e que quem prescrever o medicamento sem comprovação científica e demonstração de riscos colaterais, poderá ir contra os preceitos legais de exercício da profissão.
A nota foi assinada pelos médicos e cientistas: Celso Ferreira Ramos Filho, Cláudio Tadeu Daniel Ribeiro, Daniel Goldberg Tabak, Djane Clarys Baia da Silva, José Gomes Temporão, Marcus Vinícius Guimarães Lacerda, Margareth Pretti Dalcolmo, Mauro Schechter, Natália Pasternak Taschner e Patrícia Brasil.