"Perfil das mulheres agredidas mudou totalmente", diz delegada Vilma Alves
Segundo delegada, mulheres que nasceram após os anos 80 exigem cobranças e querem ver agressores pagando na justiça pelo que fizeram
Atuando desde o ano de 1991 como delegada da Mulher de Teresina, Vilma Alves, uma das figuras mais famosas da polícia civil do Estado do Piauí, revelou em entrevista ao portal que o perfil da mulher agredida mudou gradativamente ao longo dos anos, e hoje as vítimas se tornaram independentes e encorajadas para denunciarem os agressores, geralmente os companheiros.
"Antes, assim que começamos, as mulheres não denunciavam. Quando vinham eram empurradas por terceiros e ainda ficavam com medo. Tudo isso porque os acusados ameaçavam demais e as deixavam aterrorizadas. Elas pediam inclusive para não prendermos, e choravam muito", destacou.
As mulheres nascidas a partir dos anos 80 vieram com sentimento de independência mais aflorado, segundo Vilma. O principal alvo daquelas que são agredidas é a cobrança por resultados. Ela ressaltou que após agredidas, as vítimas já não sentem-se mais vinculadas ao companheiro e o sentimento entre os dois se extingue.
"Quando são agredidas percebemos que o sentimento que existia entre os dias acaba. Elas agora querem resultado, querem ver é o homem pagando pelas agressões e não se intimidam mais", disse.
Vilma lembra ainda que a maioria dos homens que ainda tratam as mulheres com submissão e que as tem como um objeto, não acompanharam o desenvolvimento da maneira de ver as relações pessoais e sociais firmadas entre um casal.
"É inadmissível em pleno século XXI, termos coisas desse tipo. Os homens querem mandar nas mulheres, e se sentem diminuídos e no direito de agredir só porque são chateados em alguns momentos. Mulher não é mais objeto de homem como víamos antes, existe uma relação social e pessoal entre os dois, e para que isso ocorra deve-se ter o respeito e a compreensão mútua".
De acordo com ela, nenhum homem teria a ameaçado, e a receita para que isso se mantenha é a execução do trabalho de forma digna, sem desrespeitar os acusados. Apesar da grande ocorrência de casos que diariamente chegam até a delegacia da mulher, Vilma diz que Deus é quem a protege.
"Nunca desrespeitei ninguém. Trabalhei toda vida de forma correta, tratando todos com dignidade, e tenho consciência de que faço um trabalho de alto risco, mas Deus me protege sempre. Nunca xinguei ninguém, nem nunca fiz nada contra a lei", revelou.
Apesar do intenso combate no sentido de tentar diminuir as ocorrências de violência envolvendo mulheres, um relatório divulgado pela delegacia da Mulher mostra que entre 01 de janeiro de 2014 e 06 de março de 2015, 2445 casos foram registrados. Dentre eles, as maiores incidências são dos crimes de ameaça, com 961 registros, e injúria com 717 registros, seguido por 323 casos envolvendo lesão corporal.
VEJA OS NÚMEROS ENTRE JAN/2014 E MAR/2015
Abandono de incapaz - 3
Abandono de lar - 6
Aborto provocado por terceiro - 1
Aliciamento de criança - 1
Alteração de limites - 2
Ameaça - 961
Apropriação indébita - 8
Lei Carolina Dieckmann - 1
Invadir dispositivo informático alheio - 1
Perturbação do trabalho ou sossego alheio - 3
Artigo 55 da LCP - 1
Importunação ofensiva ao pudor - 1
Assédio sexual - 6
Ato obsceno - 2
Calúnia - 40
Constrangimento ilegal - 23
Dano - 49
Denúncia caluniosa - 3
Desaparecimento de pessoa - 2
Desobediência - 4
Desobediência a decisão judicial sobre perda ou suspensão de direito - 17
Difamação - 91
Esbulho possessório - 1
Estelionato - 1
Estupro - 19
Extorsão - 1
Falsidade ideológica - 1
Furtos (outros) - 15
Infanticídio - 1
Injúria - 717
Injúria racial - 1
Lesão corporal culposa - 5
Lesão corporal dolosa - 90
Lesão corporal (violência doméstica) - 323
Omissão de socorro - 1
Perda, extravio ou inutilização de documento - 1
Perda, extravio ou inutilização de objeto - 5
Roubo de veículo - 1
Roubo (outros) - 2
Subtração de criança ou adolescente para colocação em lar substituto - 1
Tentativa de estupro - 12
Tentativa de homicídio - 3
Violência de domicílio - 11
Violência arbitrária - 2
Abandono de lar - 6
Aborto provocado por terceiro - 1
Aliciamento de criança - 1
Alteração de limites - 2
Ameaça - 961
Apropriação indébita - 8
Lei Carolina Dieckmann - 1
Invadir dispositivo informático alheio - 1
Perturbação do trabalho ou sossego alheio - 3
Artigo 55 da LCP - 1
Importunação ofensiva ao pudor - 1
Assédio sexual - 6
Ato obsceno - 2
Calúnia - 40
Constrangimento ilegal - 23
Dano - 49
Denúncia caluniosa - 3
Desaparecimento de pessoa - 2
Desobediência - 4
Desobediência a decisão judicial sobre perda ou suspensão de direito - 17
Difamação - 91
Esbulho possessório - 1
Estelionato - 1
Estupro - 19
Extorsão - 1
Falsidade ideológica - 1
Furtos (outros) - 15
Infanticídio - 1
Injúria - 717
Injúria racial - 1
Lesão corporal culposa - 5
Lesão corporal dolosa - 90
Lesão corporal (violência doméstica) - 323
Omissão de socorro - 1
Perda, extravio ou inutilização de documento - 1
Perda, extravio ou inutilização de objeto - 5
Roubo de veículo - 1
Roubo (outros) - 2
Subtração de criança ou adolescente para colocação em lar substituto - 1
Tentativa de estupro - 12
Tentativa de homicídio - 3
Violência de domicílio - 11
Violência arbitrária - 2
Os números assustam. Em pouco mais de um ano, 2445 ocorrências delituosas contra as mulheres foram registradas em Teresina. Vilma lembra que antes os dados eram piores, e diz querer lutar para garantir o direito a igualdade e a independência das mulheres. "Não aceito mais isso. Esses números nos assustam. Não podemos mais conviver com esse tipo de situação, as mulheres podem, devem e merecem ser tratadas com igualdade na nossa sociedade", desabafa.
VILMA ALVES: A MULHER DELEGADA
Formada em Direito pela Universidade Federal do Piauí (UFPI) e mestra pela Universidade Estadual do Piauí (UESPI), Vilma é mãe do advogado Tiago Marcos Alves da Silva, de Virna Maria Alves da Silva, professora de Direito da Faculdade Santo Agostinho, e da estudante de Direito, Ivna Pedrina Alves da Silva.
Entre outras formações, Vilma Alves é especialista em Direito processual pela Ordem dos Advogados do Brasil Seccional Piauí (OAB-PI), e foi a 1º delegada Mulher da Polícia Militar do Estado do Piauí.
Em 1987 foi delegada da Delegacia do Menor Infrator de Teresina e também atuou como delegada do 8º e 5º distrito policial.
Uma das funções que mais sentiu-se privilegiada em exercer, foi a de corregedora. "Fui a primeira corregedora do sexo feminino atuando no Estado do Piauí", lembrou.
OUTROS CARGOS OCUPADOS
Diretora da Polícia Militar do Piauí;
Ouvidora do município de Teresina;
Vereadora de Teresina pelo PSDB;
Subsecretária da Secretaria Municipal do Trabalho, Cidadania e Assistência Social de Teresina (Semtcas), durante a primeira gestão do prefeito Firmino Filho;
Professora da UESPI do curso de Direito;
Professora da rede pública estadual e municipal;
Diretora de escola da rede pública estadual e municipal;
Supervisora de ensino em escolas públicas do Estado e município;
Coordenadora pedagógica de ensino em escolas públicas do estado e município.
Ouvidora do município de Teresina;
Vereadora de Teresina pelo PSDB;
Subsecretária da Secretaria Municipal do Trabalho, Cidadania e Assistência Social de Teresina (Semtcas), durante a primeira gestão do prefeito Firmino Filho;
Professora da UESPI do curso de Direito;
Professora da rede pública estadual e municipal;
Diretora de escola da rede pública estadual e municipal;
Supervisora de ensino em escolas públicas do Estado e município;
Coordenadora pedagógica de ensino em escolas públicas do estado e município.
DELEGADA LEVA ENSINAMENTOS PIAUÍ A FORA
Após atingir o sucesso no posto de delegada, ela passou a ser requisitada por diversos órgãos para ministrar palestras e encontros que tratam sobre a segurança pública. Nos últimos meses, Vilma tem ministrado palestras para universidades públicas e privadas, creches e escolas do município e do interior do Estado, além de outras instituições fora do Piauí.
Só em 2015 ela já palestrou em várias creches do município, durante encontros nos bairros Piçarreira, Vila do Avião, no hospital Getúlio Vargas e no município de Altos. Em todos esses encontros o foco principal é esclarecer sobre a Lei Maria da Penha.
"Já palestrei na secretaria estadual de administração, em Florianópolis (SC), Isaías Coelho (PI), Piripiri (PI), Esperantina (PI) e Beneditinos (PI), tudo neste final de ano. Fomos tão destacados na aplicação da Lei Maria da Penha que o núcleo da mulher do Ministério Público nos colocou no banco de dados", finalizou.