Ministério Público repudia atos de policial no Café Del Mar
Promotora diz que tomará as medidas cabíveis para coibir atos considerados machistas
O Ministério Público Estadual, através de nota do Núcleo de Promotorias de Justiça de Defesa da Mulher Vítima de Violência Doméstica e Familiar, se manifestou nesta segunda-feira (21/03) sobre o incidente ocorrido no último dia 19 no “Café Del Mar”, envolvendo um policial e mulheres que frequentavam o pub localizado na zona Leste de Teresina.
Os relatos postados em redes sociais dão conta de que, após investidas com várias mulheres, seguidas de negativas, o policial sacou a arma que portava dentro do estabelecimento e ameaçou um grupo, e teria agredido uma das mulheres.
As testemunhas do ocorrido relatam que, mesmo após ter sacado a arma, foi permitida a permanência do policial dentro do estabelecimento. “O agressor não foi expulso do local da festa (as meninas da recepção me disseram que ele n foi expulso pois estava armado, era policial e poderia atirar e atingir um inocente) [sic]”, postou uma jovem que estava na festa e disse ter presenciado tudo. Ela conta ainda que chegou a acionar o gerente da casa, mas nada foi feito.
No dia seguinte, através de seu perfil no Instagram, a casa se manifestou sobre o ocorrido, dando a versão dos fatos pela ótica da administração. Dizendo repudiar todo e qualquer tipo de agressão, o Café Del Mar anunciou que tomará todas as medidas cabíveis contra o policial militar, que “estava armado e alcoolizado”. A administração diz que o melhor a fazer foi “acalmar os ânimos, chamar a polícia e cuidar para que não houvesse mais nenhum incidente”.
Prometeu ainda que “qualquer pessoa que venha a cometer atos de violência contra qualquer um dos nossos clientes, sobretudo com mulheres, será sempre retirado da casa”. Os comentários, porém não foram suficientes para o público, nem mesmo para as mulheres que se sentiram agredidas.
E foi em nome das mulheres agredidas que o MP decidiu se manifestar. “Mais uma vez a sociedade teresinense assistiu a culpabilização da vítima, pois, de acordo com o relato das testemunhas em diversas redes sociais, o acusado de agredir o grupo de mulheres não foi retirado do local. E, por medo, as vítimas se retiraram do local, já que não se sentiram mais seguras e não tiveram apoio dos responsáveis pelo espaço”, abre a nota assinada pela promotora Amparo Sousa Paz.
Ela reforça que o “lamentável ocorrido” só reforça o “sexismo e o machismo exacerbado existente na sociedade”, ainda carregado de “características patriarcais e enxerga a mulher como mero objeto sexual”. “A busca pela efetivação dos direitos humanos das mulheres tem como imperativo o enfrentamento a todas as manifestações que legitimam, naturalizam ou justificam a violência de gênero. Assim, assediar e agredir uma mulher que se nega a manter qualquer tipo de contato é um desrespeito incalculável e transmite a toda a sociedade que a mulher não é sujeito de direitos, mas sim um objeto que existe para satisfazer as vontades masculinas”, segue a promotora.
Amparo Sousa cita a Convenção de Belém do Pará, que em seu artigo 6º, indica que “é direito de toda mulher ser valorizada e educada, livre de padrões estereotipados de comportamento e costumes sociais e culturais baseados em conceitos de inferioridade e subordinação”, princípios estes feridos no ocorrido na casa de shows em Teresina, desvalorizando a figura da mulher.
O Ministério Público então repudia o ocorrido no “Café Del Mar”, prometendo tomar as medidas administrativas e judiciais cabíveis para coibir atitudes machistas.