Em julgamento do Velho Zeza, promotor chama pivô de homicídio de "musa do tráfico"
Adriana Siqueira é considerada a pivô do assassinato do empresário Daniel Barbosa (Fotos: Wilson Filho)
A suposta pivô do assassinato do empresário Daniel Barbosa da Silva, em abril de 2013, Adriana Siqueira Neres, prestou depoimento na manhã desta quarta-feira (26), durante o julgamento de João Alves, conhecido como Velho Zeza, acusado de ser o mentor do homicídio. O promotor João Malato questionou Adriana quanto aos seus depoimentos à Polícia Federal, à época da Operação Pioneiros, que prendeu João Alves. Malato citou ainda que Adriana é chamada de "musa do tráfico" e assumiu funções de chefia quando Velho Zeza foi preso.
Segundo o promotor, Adriana disse à PF que logo após a morte de Daniel, ligou para Velho Zeza. Desligado, ela ligou para Odair e quem atendeu foi o Velho Zeza. "A senhora então teria reagido com ofensas, palavras de baixo calão, porque nesse momento sabia que ele era o mandante do crime". Questionada, ela disse apenas não lembrar-se desse depoimento.
Sobre outros depoimentos, à Polícia Civil, ela afirmou no julgamento que foi coagida a depor, acusando Velho Zeza de ser o mandante. A motivação para o crime teria sido passional, uma vez que, o empresário tinha uma relação com Adriana Siqueira Neto, que também mantinha um relacionamento amoroso com Velho Zeza.
Sobre outros depoimentos, à Polícia Civil, ela afirmou no julgamento que foi coagida a depor, acusando Velho Zeza de ser o mandante. A motivação para o crime teria sido passional, uma vez que, o empresário tinha uma relação com Adriana Siqueira Neto, que também mantinha um relacionamento amoroso com Velho Zeza.
"Ele [Velho Zeza] me pagava e eu saía com ele", disse Adriana. O juiz Antônio Noleto questionou se ela mantinha relacionamento concomitante com Daniel, a vítima. "Tive com ele [Daniel] e com outros também. Eles me pagavam, ia para o motel, e acabava ali".
O juiz questionou ainda se João Alves, suspeito de ser o mandante, tinha ciúmes de Adriana. "Nos autos constam que ele tinha ciúme da senhora e por isso mandou matar Daniel", disse o juiz. Ela disse que Velho Zeza nunca demonstrou sentir ciúmes. Com ele, ela afirmou ter mantido uma relação por cerca de 2 anos. Com Daniel, durante sete meses.
"Ele não tinha ciúme de mim, minha relação com ele era de ir para o motel e só isso mesmo", disse Adriana.
Por medo, testemunha pede que Velho Zeza deixe julgamento para prestar depoimento mais tranquilo
Defesa
Bruno Martins, advogado de João Alves, nega a autoria do crime. Marcelo Lima, advogado de Odair, também alega inocência de seu cliente. Em depoimento, Velho Zeza negou qualquer envolvimento no crime, disse não sentir ciúmes de Adriana e declarou sequer conhecer Daniel.
"Deus está ouvindo e vendo, que nunca na minha vida eu nem pensei em fazer uma coisas dessas, eu nem conhecia esse rapaz, não tenho nada a ver com isso. Não matei, não mandei matar ninguém", disse em depoimento.
O promotor destacou que há ligações telefônicas entre João Alves e Odair, em que João questiona, logo após o crime, quantos tiros foram disparados e se Daniel havia "viajado" - termo utilizado para se referir à morte de alguém.
Além disso, a acusação destacou que João é apontado também como mandante do assassinato de Jorgiano de Araújo, que foi morto dois meses antes de Daniel. Jorgiano é pai de um dos filhos de Adriana e morou com ela durante cerca de sete anos. Em depoimento, João preferiu não se pronunciar sobre a acusação.
Embora tenha dito que mantinha apenas uma relação de encontros esporádicos com Adriana, o promotor apresentou no julgamento a informação de que quando foi preso, João deixou sob os cuidados de Adriana a quantia de R$ 30 mil.
"Eu não era íntimo dela, apenas confiava nela, porque a mãe dela trabalhava para mim", explicou ele no julgamento. A mãe dela
Ele teria ainda pago R$ 20 mil de honorários advocatícios para que ela fosse solta, quando foi presa por tráfico meses antes de Daniel ser morto. Conta ainda nos autos que Adriana possui uma caminhonete e uma motocicleta que seriam presentes de João.
Família da vítima
Os familiares de Daniel afirmam estar confiantes da condenação de João e Odair, porque acreditam que as provas que constam no processo são capazes de esclarecer o caso. A mãe de Daniel, Irami Silva, falou sobre o sofrimento de esperar tanto tempo por justiça.
"Estou revivendo toda a dor, como se estivesse perdendo meu filho novamente. Mas creio que será feita a justiça, há áudios e gravações telefônicas relacionando eles com o crime", disse.
Francisco Lima, tio de Daniel, afirmou ainda que acredita que Adriana tem participação no crime. "Logo após o crime, liguei para o telefone dele e quem atendeu foi ela. Ela sabia pelo menos que havia a ameaça, acho sim que ela tem envolvimento nisso", disse.
Primeira testemunha
O autônomo Claudio Roberto Alves, que mora no bairro Lourival Parente, na zona Sul de Teresina, conta que no dia do crime, 08 de abril de 2013, a vitima foi até o seu local de trabalho, uma barraca de venda de cachorro-quente, consumiu alguns produtos e, minutos depois de Daniel deixar a barraca, Cláudio ouviu disparos de arma de fogo. Ao se aproximar do local de aglomeração de pessoas, reconheceu Daniel - já morto - como a mesma pessoa que havia estado em seu estabelecimento.
Cláudio conta que também reconheceu Adriana, considerada o pivô do crime, no local da morte. Durante o depoimento, ele, que está bastante nervoso no julgamento, contou que após ver o rapaz morto, recolheu o seu material de trabalho e foi para casa com a esposa.
Ele também revelou que está temeroso pela sua segurança e pediu que o Velho Zeza se retirasse do local para que pudesse terminar o seu depoimento com mais tranquilidade.
Cláudio disse não saber da "fama" do Velho Zeza como mandante de crimes na região e nem o suspeito de atirar efetivamente em Daniel, identificado com Odair.
O Ministério Público foi bastante incisivo nos questionamentos para a testemunha na tentativa de relacionar Velho Zeza ao crime, mas a testemunha foi bastante evasiva e disse não conhecer os dois. Ele disse somente que no dia do crime chegou apenas a ir até o local e olhou pro rosto da vítima, lembrando que ele havia estado no seu local de trabalho.
Durante julgamento, a defesa questionou o motivo do promotor Benigno Filho ter abandonado a acusação do caso. O promotor João Malato disse que o motivo do abandono é de foro íntimo.