Entrevista concedida a Allisson Paixão, Francisco Magalhães e Vitor Sousa.
Texto: Vitor Sousa
O Olho inicia com o jornalista Amadeu Campos, uma série de entrevistas com os principais pré-candidatos a prefeito de Teresina e alguns políticos que terão influência direta nas eleições de 2016. Em debate, estarão sempre assuntos pessoais, políticos e propostas para um possível governo.
Uma candidatura inesperada, “uma vida” como jornalista – são 30 anos apenas na emissora Cidade Verde – e alguns obstáculos a serem vencidos. Amadeu Campos, aos 51 anos de idade, decidiu que é a hora de dar sua “contribuição para a política”, como ele mesmo falou. A missão, de início, já não era muito fácil – abafar os boatos de que o senador Elmano Férrer, disputaria as eleições deste ano – e mesmo ciente dos desafios, garante estar pronto para “chuvas e trovoadas”.
Amadeu Campos, jornalista e pré-candidato do PTB a prefeito de Teresina (Foto: Christyan Carvalho / O Olho)
O primeiro convite para encabeçar a chapa do Partido Trabalhista Brasileiro nas eleições para prefeito de Teresina aconteceu ao vivo, durante uma entrevista ao próprio Elmano Férrer. Amadeu garante que a ideia não ficou na cabeça, até o pedido ser formalizado e hoje diz que não sua pré-candidatura é irreversível.
Homem público que já era como jornalista, antes de entrar para o meio político, teve fatos de sua vida expostos que geraram polêmicas, como o acidente que o deixou paraplégico, em 2011. De lá para cá, sua vida mudou, como ele mesmo enfatizou alguma vezes durante a entrevista.
Numa mesa redonda – literalmente – de frente para três jornalistas, os olhos atentos, quase “arregalados”, pareciam tentar entregar um pouco do desconforto de se ver na posição inversa do que praticou por quase 11 mil dias, em todos os seus anos de experiência. Dono de uma oratória afinada, todas as respostas pareciam estar na ponta da língua, sempre colocadas a fora com muito cuidado, como quem sabe que uma palavra fora do lugar, pode colocar muita coisa a perder.
Em meio a crise política que se vive no país, por tanto se falar em renovação, é por esse assunto que a conversa começou, sobre seus projetos para Teresina, caso eleito.
Amadeu Campos, em pré-campanha, visita o projeto MP3, em Teresina (Foto: Divulgação)
UMA GESTÃO DE AMADEU
O Olho – Que motivo teria um teresinense para votar em você para prefeito?
É da história de quem é teresinense, querer o bem da cidade e acho que um dos motivos para o Teresinense votar em mim é esse, eu quero muito bem a minha cidade. A circunstância apareceu, para eu ingressar no mundo político eleitoral, que é novo para mim. Eu tenho experiência na política de vivência profissional, e mesmo antes, da profissão, ensinado por meu pai, a gostar do Alberto Silva, quando criança, então sempre vi a política como um ato fundamental, aliás o Papa Francisco diz que a política é um ato de caridade, e eu concordo, é um momento que um cidadão sai da sua profissão para se doar aos outros, a uma causa.
O Olho – Hoje a grande preocupação do teresinense, apontada por pesquisa, é a segurança. O que o pré-candidato Amadeu Campos tem a dizer sobre isso?
Amadeu Campos – Já há cidade do Brasil, especialmente na região Sul, aonde existem secretarias municipais de Segurança. E a Guarda Municipal, que foi uma promessa do senhor Firmino [atual prefeito de Teresina], quando ele foi candidato a prefeito pela primeira vez, está sendo criada esse ano, 20 anos depois, e tímida, com 50 homens, apenas.
Acho que Teresina precisa, e estamos elaborando um Plano Municipal de Segurança Pública, e uma das ideias é a criação de um gabinete de gestão integrada de segurança. A gente vai a partir da prefeitura, do comando do município, reunir nesse gabinete, as forças todas, de segurança pública. Guarda Municipal, que nós vamos querer como no mínimo 300 homens, ao longo do mandato, Strans, que são agentes de trânsito, mas também de segurança, Polícia Civil e Militar e os Federais, PRF e PF.
Esse gabinete de gestão integrada, que não é ideia nova, já existe no estado de Santa Catarina, e ele funciona definindo estratégias de segurança a partir do olhar do município, porque hoje a Polícia Militar tem [seu planejamento] para Piauí todo, da mesma forma a Civil. A gente quer buscar esse olhar e ativar essas forças que já existem.
Amadeu garante estar preparado para “chuvas e trovoadas”, durante a corrida eleitoral (Foto: Christyan Carvalho / O Olho)
O Olho – Isso faz parte do seu plano de governo?
Amadeu Campos – PMT (Plano de Modernização de Teresina), baseado em três estruturas básicas. Primeiro, participação e compartilhamento, que é uma herança do prefeito Elmano, onde as decisões não eram de cima para baixo, do gabinete para fora. Elas são com secretários, diretores, associações, conselhos, entidades.
O segundo é inovação. A gente precisa requalificar as ações do poder público. Não é gastar mais dinheiro, é gastar melhor. E para isso a gente tem que inovar. Dei aqui no caso da segurança, uma ideia do que é inovação, é você pegar instrumentos que já existem e fazê-los convergir para uma coisa só.
O terceiro é a inclusão. E quando eu falo inclusão, não estou só falando da inclusão de pessoa com deficiência, que é meu caso, que sou paraplégico, é a inclusão de quem hoje não é abraçado pelo poder público, de quem hoje não tem acesso aos mecanismos de proteção que o poder público tem. A gente quer fazer esse trabalho de aproximar o poder público das pessoas.
O Olho – Dê um exemplo.
Amadeu Campos – Todo mundo fala de mobilidade urbana. Nós trataremos de mobilidade humana, aí isso casa com a administração. Hoje você tem as SDUs [Superintendência de Desenvolvimento Urbano], que são quatro. Nós vamos modificar esse conceito, requalificar, ao invés de SDUs, nós teremos subprefeituras. Não serão quatro, serão cinco. A subprefeitura sudeste e leste continuam, agora a centro-norte, nós vamos desmembrar, haverá apenas a centro, que geograficamente ficará entre o Rio Poti e o Getúlio Vargas. A norte vai ficar na Santa Maria da Codipe e a sul sai da ‘Barão’ e vai para o Lourival Parente.
A subprefeitura é o que a SDU faz hoje, mas além disso vamos dar acesso a outros serviços do município, como por exemplo finanças. Hoje qualquer coisa da secretaria de finanças, você sai [por exemplo]da Irmã Dulce para ir no centro resolver. E também buscaremos parcerias do Governo do Estado, para serem casas de cidadania. Dentro da estrutura da subprefeitura [terá] Agespisa, Detran, Eletrobrás… é aí que está a mobilidade humana que eu falo, a gente quer reduzir os grandes deslocamentos.
Para a criação da quinta subprefeitura, nós desativaríamos a Senduh [Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano e Habitação], que é um órgão criado para gerir as SDUs.
Senador Elmano Férrer e secretário de Segurança Fábio Abreu com Amadeu Campos: candidatura foi novidade no PTB (Foto: Divulgação)
O Olho – Você tem uma proposta com relação a Saúde, que será o contrário dessa questão das SDUs, vai centralizá-la, como era antes. É isso?
Amadeu Campos – O prefeito Firmino, quando assumiu esse mandato, fez o desmembramento, com a Fundação de Saúde, Fundação Hospitalar e Secretaria de Saúde. Eu acho que não deu certo. Acredito que ele não vai admitir, mas claramente não deu certo, porque se você prestar atenção, e o prefeito tem razão nisso, Teresina gasta quase 40% de seus recursos com Saúde. Gasta muito, mas pegue uma pesquisa com qual é o item que a população mais tem reclamação, primeiro é Segurança e segundo, empatado tecnicamente, é Saúde.
Eu quero unificar a Secretaria de Saúde, e esse recurso que nós vamos economizar aqui, vamos colocar nos hospitais de bairro, que esses é que precisam funcionar. E vou dar um exemplo para vocês. Quatro hospitais que Teresina tem hoje, não têm resolutividade e terão, caso a gente consiga alcançar nosso objetivo. São eles: Hospital do Buenos Aires, Hospital do Satélite, Hospital do Promorar e Hospital do Dirceu. Nesses locai dá para fazer cirurgias de baixa complexidade, centro cirúrgico já tem, mas hoje se um cidadão quebra um braço, ele tem que ir pro HUT.
Amadeu Campos (Foto: Christyan Carvalho / O Olho)
O Olho – Essa resolutividade seria feita com os recursos que já são investidos, não precisaria de mais investimento?
Amadeu Campos – Hoje, qualquer gestor público tem que pensar isso, não é possível se gastar mais um tostão com administração. Não dá mais, o gasto está exaurido. O que você tem é que requalificar os gastos, tirar de um lugar, botar em outro, é fazer melhor, economizar oferecendo o serviço.
Outra coisa que é fundamental para a gente fazer em Teresina é reabrir o HGV [Hospital Getúlio Vargas] e abrir o HU [Hospital Universitário] para urgência e emergência. Os dois não são do município, mas os dois são do Sistema Único de saúde e o Piauí tem uma Dívida com Teresina, porque o que o HUT recebe é gente de Luiz Correia [extremo norte do estado] a Cristalândia [extremo sul do estado], então por que o Estado não tem que dar sua contribuição para a urgência e emergência?
No caso do HU, sempre recebemos gente do Maranhão e de outros estados, e cobramos essa compensação dos gastos, então é hora da União dar sua contribuição também.
O Olho – Nós temos uma ‘cidade invisível’, que é a zona rural de Teresina . O que você tem a dizer para essa ‘cidade invisível’, que tem os mesmo problemas, de saúde, educação…?
Amadeu Campos – Teresina é a capital brasileira que tem a maior zona rural. E por que não se produz nada? Eu estou buscando as soluções, e sabe qual é uma delas? A merenda escolar do município, hoje tem um percentual ínfimo de produtos comprados aqui na nossa região, então nós vamos estabelecer de que ele seja de 30%. Ou seja, nós vamos criar um mercado para eles [da zona rural] produzirem.
Vamos incentivar a criação de cooperativas e associações para que eles possam prestar contas com a prefeitura, que às vezes individualmente é complicado.
O Olho – Teresina é uma cidade muito jovem e nós temos um problema desde a fundação, que chama-se esgotamento sanitário, nós temos 17% de esgotamento sanitário. Claro que em uma gestão não dá para resolver, mas qual ideia que você tem para dar um ‘empurrão’ nessa área?
Amadeu Campos – Você sabe que o município não tem recurso para fazer. Nós vamos criar um comitê gestor dos nossos rios, aí entra a questão do saneamento, que hoje ainda estamos jogando in natura no rio. Se eu chegar a prefeitura, é obrigação minha, chamar a secretaria de Meio Ambiente do Estado, o Ibama, Ministério do Meio Ambiente, Ama, juntar todos e fazer [uma ação concreta].
Para melhorar o rio, tem que melhorar o saneamento. Isso é imediato. Temos que forçar politicamente que todos possam dar sua contribuição, efetiva, não é de palavra, para investir no saneamento.
Amadeu Campos e Firmino Filho: prefeito e apresentador podem ser adversários nas eleições 2016 em Teresina / Foto: Divulgação Cidade Verde
ALIANÇA COM O PT
Com sua pré-candidatura estabelecida, Amadeu busca, junto com o PTB, fortalecer sua chapa através de coligações com outros partidos para entrar na disputa com o atual prefeito da capital, Firmino Filho, que buscará a reeleição. Entre os partidos de grande expressão, com representação no estado, apenas o Partido dos Trabalhadores (PT) ainda não se decidiu sobre qual caminho seguir no pleito deste ano.
A legenda ainda vive a dúvida de
colocar um nome para ter uma candidatura própria, ou declarar apoio a outro partido, com um nome já posto. Caso decida pela segunda opção, o desejo de parte da legenda é apoiar Amadeu Campos, no entanto, essa aliança ficou complicada depois que as mulheres da sigla iniciaram uma manifestação interna dizendo que “Amadeu não as representa”.
Socorrinha do PT (Foto: Divulgação)
O coro foi puxado, em público, pela militante Socorrinha do PT, no programa Bancada Piauí, da TV Antena 10, no dia 06 deste mês. “A trajetória do Amadeu não condiz com o que nós, mulheres organizadas dentro do PT, pensamos. Ele se envolveu em questões sexuais envolvendo mulheres que cabe a ele responder na Justiça. Basta botar no Google que aparece isso tudo que estou falando”, foi o que ela disse, durante sua entrevista na TV.
Durante a visita ao O Olho, Amadeu entregou um documento comprovando sua inocência na investigação de um caso a qual se referia a integrante do PT. O temperamento calmo se manteve até mesmo a tratar sobre o assunto, um tanto mais polêmico.
O Olho – Você esperava, ou se preparou para o que fez, por exemplo, a Socorrinha do PT?
Amadeu Campos – Eu sabia que sempre que vem alguma coisa nova na política, há imediatamente aquele desejo de se tentar descaracterizar, descontruir. Então eu sabia que nesse caminho, muitos obstáculos iam surgir, e eu te digo que estou preparado, até porque quem não deve, não teme.
Eu entendo as críticas dela até como uma coisa boa para mim, porque é uma oportunidade de esclarecer. Não tem nada para ser escondido. Um homem público eu sempre fui, pela minha profissão, que tenho uma exposição na televisão, e quem é figura pública está sujeito a chuvas e trovoadas, e sabia que o ingresso na política iria atrair mais ainda.
Em 2011, quando sofri o acidente, foi um divisor de águas na minha vida. Existe o Amadeu antes de 2011 e o Amadeu depois. Se fosse o Amadeu de antes, talvez até teria outra reação, mas o Amadeu de hoje, só o que pede é que Deus dê entendimento, compreensão, de que o mundo é assim, a vida é assim.
“TENHO FÉ QUE VOLTAREI A CAMINHAR”
O Olho – O que de fato mudou do Amadeu Campos depois do acidente, e por que?
Amadeu Campos – Fisicamente está a vista de todos, a paraplegia, estou convivendo com ela, apesar de ter fé em Deus que um dia vou voltar a caminhar. Agora espiritualmente, hoje sou um homem muito mais completo, meus valores são outros, minhas fontes de felicidade são outras.
Claro que quem tem um acidente como eu tive, fiquei 48 horas entre a vida e a morte, o primeiro momento é de queda, é de depressão, mas aí você busca em Deus e se reforça no espirito.
A TV Cidade Verde registrou imagens do veículo do jornalista Amadeu Campos virado após o acidente (Foto: Reprodução)
O Olho – Sua visão política e social, mudou quando deixou de ser apresentador de um telejornal para ser pré-candidato?
Amadeu Campos – Nós jornalistas, temos uma sensibilidade aguçada. Jornalista é a profissão nobre que da voz a quem não tem vez, então a gente sempre é demandado por um problema, por uma reclamação. Eu entendo que nessa minha caminhada, desde o dia 14 de março, o que tem crescido em mim é o respeito as pessoas, cada vez que ando respeito mais as pessoas de Teresina.
É claro que sempre haverá aquele que quer fazer a campanha com olhos de proveito próprio. Eu já fui abordado assim, por gente que vem para pedir as coisas, mas graças a Deus, a grande maioria tem procurado para expressar reclamações, insatisfações com o dia a dia, e para dar sugestões. Eu tenho recebido e acolhido muitas sugestões de coisas para melhorar a cidade.
Aniversário de Amadeu Campos no dia 25 de abril de 2015 (Foto: Benonias Cardoso/Piauí Imagens)
O Olho – Existe outro Amadeu além do político e jornalista, ou não tem como separar a vida profissional da pessoal? Se sim, como que ele é?
Amadeu Campos – Meu pensamento é assim: o que você é na sua casa, você leva para a sua atividade profissional. Esse comportamento da minha profissão, eu trouxe da minha casa e penso que na política, é esse mesmíssimo comportamento que eu estou levando. Os valores são os mesmos.
O Olho – Você falou que não queria entrar na lama que é a política. Por que essa sua decisão, qual foi a sacada para ser pré-candidato?
Amadeu Campos – São dois motivos. Um foi o convite do senador Elmano e do deputado Fábio Abreu. O convite que ele me fez ao vivo, foi um despertar, depois ele me disse que ia a Brasília e que quando voltasse queria falar comigo. Depois [que me convidou de fato] conversei com minha empresa e com minha família, pesei os prós e os contras, imaginei tudo que eu ia passar e estou passando, e julguei que era hora da minha contribuição.
Foram esses os dois motivos, primeiro, para defender a gestão e o legado do prefeito Elmano, segundo, dar minha contribuição.
O Olho – Você está preparada para uma vitória? Qual é a primeira coisa, que o homem, não o político, Amadeu, vai fazer, se for eleito, ou se não for eleito?
Amadeu Campos – Agradecer a Deus pela jornada, nas duas situações. Agradecer a caminhada. E espero cjegar lá, nas duas situações, do mesmo jeitinho que entrei.
PROMESSA
A última promessa que Amadeu fez, antes de acabar a entrevista, não dizia respeito a nenhum plano de governo ou benefício para a cidade e sua população, mas sim a sua primeira prestação de contas, caso seja eleito para o Palácio da Cidade. Será no dia da posse, declarando diante dos jornalistas, todos os seus bens materiais.
fonte http://noticias.oolho.com.br/