terça-feira, 11 de novembro de 2014

POLÍCIA falha no caso do assassinato do pai de jornalista


POLÍCIA falha no caso do assassinato do pai de jornalista

DESAPARELHAMENTO DIFICULTA buscas, enquanto esposa do acusado encoberta fuga

A jovem jornalista do Sistema Integrado Meio Norte de Comunicação, Karolyne Marques, não poderá nunca mais entregar ao seu pai o presente de aniversário que comprou no último sábado, 8. Saiu cedo de casa para fazer isso. Era o tipo de filha que, quando criança, achava que o pai a abandonara se chegasse 10 minutos atrasado para pegá-la. Hélio Cortez completaria 57 anos de idade próximo dia 13 de novembro.

Marques sentiu antes da confirmação - no caso dela, constatação - de que o pai morrera, e por volta das 00h30 da madrugada de segunda-feira (10) resolveu não mais esperar. Motivada pelo ápice de pressentimentos que a seguiram durante todo o dia, foi no HUT e no IML. O encontrou neste último. “Meu pai está morto. Mataram meu pai. Eu encontrei ele no IML”, dizia, como se estivesse confirmando o que prevera. Era mais uma vítima da violência que assola o estado. Um estado que não tem sequer gasolina para por nas viaturas para que as diligências sejam feitas.

Pior do que isso foi constatar que a polícia foi incapaz de prender em flagrante um bandido de quinta categoria. Um homem de conhecida natureza explosiva e agressiva, e que por isso deve viver à margem da sociedade. Membros da polícia dizem que a imprensa gosta de mostrar seus erros somente, e quando acertam não são elogiados. Não é bem assim. É a polícia que não gosta quando a imprensa mostra seus defeitos, querem somente os elogios. O fato é que polícia não respondeu à altura até agora envolvendo esse caso.

A Polícia Militar não pode, é claro, em seu trabalho ostensivo, ser acusada de ter sido negligente neste ponto – e talvez até pode, porque ao que tudo indica havia um PM lá, no bar ... armado, que não fez nada. Fato que as investigações ainda vão confirmar ou descartar. Porém, a atuação no pós-crime vem deixando a desejar até o momento. Mas a polícia está trabalhando, é reconhecido, com esforços até pessoais.

Alexandre dos Santos Gomes, o assassino, não só espancou até a morte um senhor de 56 anos. Ele espancou e foi para o hospital público suturar um corte, fugiu do flagrante e vem dando um baile no estado até hoje. A promessa é que a prisão “é questão de tempo”. E é bom que seja.

OS ÚLTIMOS PASSOS
A trajetória do senhor Hélio Cortez naquele fatídico domingo (9) foi refeita pelo 180naquele com a ajuda de várias testemunhas. Ele fechou sua Casa de Ração por volta das 13h30no domingo (9), no bairro São Joaquim, e foi beber e comer algo no Bar e Restaurante Canto Alegre, que fica ao lado da sua pequena empresa, como sempre fazia neste dia da semana antes de ir para casa. Algo absolutamente normal.
Empresa de Hélio Cortez deve ser fechada pela família. Estado não consegue oferecer segurança na região.Empresa de Hélio Cortez deve ser fechada pela família. Estado não consegue oferecer segurança na região.
Mas desta vez foi diferente, segundo testemunhas. Neste dia sentou à mesa Alexandre dos Santos Gomes, e ainda um senhor de nome Manoelzinho, que seria ‘amigo’ de Cortez. Ao final, Hélio pede a conta, cujo valor foi R$ 110,00.
Daí pede a parte de cada um, mas Alexandre dos Santos Gomes disse que não iria dar nada, já que não teria bebido e comido muita coisa. A dona do estabelecimento desmente essa versão. “Embora ele tivesse chegado um pouco depois, comeu e bebeu muito”, relata.

Hélio, por sua vez, diz que se Alexandre não tem dinheiro então que vá embora. Ali foi o estopim que desencadearia a futura agressão. De início Alexandre já queria agredir o interlocutor ali mesmo. Mas foi contido pelos presentes e acabou se retirando do local.
Por volta das 17h30, Hélio Cortez sai do bar e vai para outro, no bairro Mafrense, onde passava o jogo Flamengo e Sport. Teria seguido de carro, um gol preto, junto com o ‘amigo’ Manoelzinho, que possui ao menos um frigorífico na região. Uma hora depois estava morto de forma violenta e covarde.
O deputado federal Osmar Júnior (Pc do B) esteve no velório e conferiu de perto as marcas da criminalidade no estadoO deputado federal Osmar Júnior (Pc do B) esteve no velório e conferiu de perto as marcas da criminalidade no estado
Nesse período de 1 hora, as histórias são meio desencontradas, sobre o que realmente ocorreu e é por isso que os depoimentos de Manoelzinho e da proprietária do bar, a Carla, previstos para essa semana serão esclarecedores.

Mas uma informação bate cabalmente ao ser contada separadamente por todas as pessoas ouvidas para esta matéria na rua do acontecimento. Hélio Cortez chegou a se levantar para ir embora, mas foi abruptamente sacado de dentro deste gol preto e de forma insistente, contundentemente agredido com socos e pontapés.

NINGUÉM FEZ NADA
As descrições sobre a violência por parte de quem a viu são assustadoras e provoca reações indignadas de quem as expõem. “Todos nós aqui ficamos muito assustados com aquilo. Nunca imaginávamos. Nunca tínhamos visto isso. Foi um absurdo”, diz um jovem que conhece Alexandre, o assassino.

Manoelzinho, que é apontado como ‘amigo’ de Hélio não foi encontrado em sua residência. Mas sua filha, Lívia, foi contactada por volta das 22h da noite de segunda feira (10), data em que Cortez foi enterrado. Por telefone, ela disse que o pai estava “dormindo” e que estava até em estado de “depressão” com o que viu. Indagada sobre o porquê de seu pai não ter tentado ajudar o senhor Hélio Cortez, já que era seu ‘amigo’, ela disse que também havia perguntado isso a ele.

Segundo Lívia, Manoelzinho teria dito: “minha filha, ele estava possesso. Eu tremi logo as pernas”. Manoelzinho correu do local e abandonou até seu carro. Sobre o fato de Hélio Cortez ter chegado ao lugar de carona no gol preto disse que “maiores esclarecimentos seriam dados no depoimento à polícia”.
O bar onde tudo ocorreu permanece fechado com cadeado pelo lado externoO bar onde tudo ocorreu permanece fechado com cadeado pelo lado externo
Lívia estava preocupada com o fato do seu telefone pessoal ter sido descoberto por esse jornalista e com o fato de não saber com quem realmente estava falando. Assustada, ela também chegou a questionar. “Mas vem cá, porque que o policial que estava lá não disparou para cima, e sim assistiu a tudo sem fazer nada. Por que ele podia ter atirado para cima”, questionou, em defesa do pai. Ela se refere a um policial militar que estaria no momento.
Moradores da rua onde ocorreu o crime sustentam, porém, que a dona do bar onde ocorreu a tragédia já tinha pedido para Manoelzinho tirar o senhor Hélio Cortez do local, para evitar alguma tragédia, já prevendo alguma possível violência, mas ela não foi atendida.

O senhor Hélio até chegou a entrar no carro e chamar o seu ‘amigo’, mas o tal do ‘amigo’ disse que não iria naquele momento. Essa é uma outra informação conflitante, nesta 1 hora que Hélio passou naquele recinto, e que precisa ser lapidada pela polícia.
A dona do bar, cujo nome seria Carla, não foi encontrada no local, mas é uma das que devem prestar depoimento à polícia sobre o que ocorreu. Na rua, em frente ao bar, ainda é possível ver pedaços de caco de vidro no chão, resultado das garrafas quebradas pelo brutal espancamento de Cortez.

O ASSASSINO AINDA FOI TOMAR PONTOS ANTES DE DESAPARECER
Cerca de 45 minutos depois de entrar em sua residência, que fica a uns 15 metros do bar, para pegar roupa e fugir ajudado por sua mulher em uma moto, Alexandre dos Santos Gomes deu entrada no hospital de Buenos Aires para suturar um corte. Ele pegou três pontos na perna. Provavelmente o corte foi provocado por algum caco de vidro das garrafas quebradas pelo esforço físico impresso para golpear o oponente.
Alexandre: Livre, leve e solto ... e ao lado da mulher. Tempinho até de fazer uma sutura após o crime e antes de desaparecerAlexandre: Livre, leve e solto ... e ao lado da mulher. Tempinho até de fazer uma sutura após o crime e antes de desaparecer
É essa aberração, que já responde por agressões contra a própria mãe e a mulher - segundo a polícia do 7º -, que matou um senhor de idade sem lhes dar nenhuma chance de defesa e de forma desumana, que tem tempo para ir ao hospital depois de assassinar - provavelmente aconselhado pela mulher, e que usa frases em sua página pessoal no facebook como que sendo “o cara”, que tem deixado a polícia atônita, e mostrado o quão frágeis às vezes aparentam ser as corporações policiais do Piauí.

O TRABALHO DA POLÍCIA É SÓ PRENDER, PROVAS JÁ TÊM MUITAS
O assassino em questão só precisava ser preso nas primeiras 24 horas após o crime. Fatos, testemunhas aos montes nos dois bares que frequentou, exame pericial feito no lugar do crime, e uma gama de provas tão contundentes quanto os golpes deferidos, já existem, faltava somente a prisão em flagrante. Ela não aconteceu. Uma decepção geral e para família.

Neste período de 24h duas equipes do 9º Batalhão da Polícia Militar e um terceiro grupo estavam em campo, mas falharam na prisão em flagrante e estão falhando até agora. Não há respostas à sociedade. E se tem uma coisa que tem um certo grau de certeza é o ditado que diz que nunca algo é tão ruim que não possa ficar pior ainda.
Esposa prestou auxílio para a fuga de Alexandre. Informações: 190. Ou Delegacia de HomicídiosEsposa prestou auxílio para a fuga de Alexandre. Informações: 190. Ou Delegacia de Homicídios
Se a polícia do estado do Piauí, que já falhou na prisão em flagrante desse assassino, não o prendê-lo o mais rápido possível, estará passando não só um atestado de incompetência pública e falhas em suas investigações e movimentações – se é que elas existem como estão sendo anunciadas -, mas a ideia de que em território piauiense se tem uma grande chance de matar e fugir facilmente em muitas das vezes.

Ou seja, o Estado piauiense não está mais conseguindo proteger seus cidadãos, ao contrário, está atuando contra eles, ao incentivar os marginais e criminosos.

UMA BOA EQUIPE
No entanto, a equipe que está trabalhando no caso é uma excelente equipe, e é coordenada pelo delegado Bareta, um excelente profissional. Mas a família da vítima se assustou ao saber que falta gasolina para fazer diligências. É fato. Não tem como negar. E é de imprescindível importância que o governador de estado Zé Filho (PMDB), que durante a campanha brandava que as finanças públicas estavam em bom estado, garante o trabalho daquela importante repartição, criada por determinação do Ministério da Justiça.
Delegado Bareta é o profissional que coordena a caça ao assassinoDelegado Bareta é o profissional que coordena a caça ao assassino
HISTÓRICO
Em 2003, quando este jornalista começou - auxiliado pela família, o próprio delegado Bareta, que entrou depois, e uma importante figura do Tribunal de Justiça do Piauí - a cobrir o assassinato de um jovem - que não era um suicídio com três tiros no peito com uma arma de pequeno calibre como queria fazer crer a ex-mulher -, o difícil não era prender, era provar. O caso ficou conhecido como ‘Caso Gabriel Mendes’.
A ex-mulher desse jovem, acusada de assassiná-lo, acreditava que iria sair ilesa com uma história maquiavélicaA ex-mulher desse jovem, acusada de assassiná-lo, acreditava que iria sair ilesa com uma história maquiavélica
Depois de anos, o processo foi recentemente remetido do Supremo Tribunal Federal (STF) – onde a defesa recorreu com recurso protelatório – para a Vara de Execuções Penais no Piauí, determinando a execução da condenação proferida em última instância pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).

O QUE DIZ A CONSTITUIÇÃO
Hoje, provar o crime bárbaro praticado por Alexandre dos Santos Gomes é fácil, o difícil é prendê-lo. A Constituição não atribui a jornalistas a competência de efetuar prisões, no entanto, os atribui a competência de cobrá-las do poder público constituído usando todas as ferramentas possíveis.

Depois de preso, o juiz responsável pelo caso pode até querer soltar o assassino, mas aí estará pondo na rua um homem que chegou a “pular” em cima da cabeça da vítima já no chão. Dessa forma o magistrado levará consigo esse peso. Não houve legítima defesa. Houve um brutal assassinato, sem chances de defesa, e para todos verem.

A família já entrou em contato com o advogado Gilberto Ferreira. Também foi ele quem atuou no polêmico Caso Gabriel Mendes.

O lema dos envolvidos naquele caso era: ou caem os representantes do estado envolvidos com as investigações, ou cai a assassina. Aqui é um assassino. E todos os esforços para levá-lo ao Tribunal do Juri serão feitos.

fonte 180graus.com