Rei dos Cabarés. Polêmicas e histórias do Carlão do Copacabana
O portal conta a história de Carlão, Rei dos Cabarés. Paradoxal, educado, falastrão, paizão e boêmio revelou o curioso mundo do mercado pago da noite
Tímido no início da conversa. Falastrão depois de ganhar confiança. Sem papas na língua. Aberto à quase todo tipo de pergunta. Direto. Paciente. Bom pai. Um relações públicas nato. E praticamente um paradoxo em pessoa. Essas são algumas das características e impressões sobre o empresário Carlos Alberto da Silva, mais conhecido por Carlão, 53 anos, casado, pai de cinco filhos (uma de 13 anos, outra de um ano e meio; três garotos de 10, 11 e 12 anos).
O Rei dos Cabarés, Rei da Noite, ou ainda, Rei da Diversão Noturna Adulta de Teresina, títulos que disse não se importar, fazem parte da conversa que Carlão teve com o portal em sua casa noturna, a Copacabana Shows, na zona Sudeste de Teresina (proximidades do conjunto Dirceu Arcoverde). “Sou apenas um empresário da noite”.
De trato fácil, respondendo a praticamente todas as perguntas, Carlão só não falou quanto ganha, quanto cobram as garotas que atuam em seu estabelecimento, quanto recebe delas e como funciona o sistema de oferecimento em site de acompanhantes que tem o seu número telefônico como referência.
Carlos Silva também não fala muito sobre a clientela do estabelecimento. “Isso é questão de ética, questão de negócios. O que acontece aqui, fica aqui. Mas vocês têm todo o direito de conhecer a nossa casa”. Foi assim que abriu o Copacabana à reportagem do portal, revelando um dos lugares e tipo de estabelecimento que mais desperta a curiosidade de parte da sociedade piauiense: um prostítulo, cabaré, put...o (palavra impublicável), zona do baixo meretrício (ou qualquer outro nome que denote lugar em que pessoas buscam outras para sexo sem compromisso e, quase sempre, via pagamento, ou para verem shows de mulheres tirando a roupa).
A casa de diversão adulta comandada por Carlão existe há quatro anos. Atualmente disputa o mercado de cabarés com a famosíssima Beth Cuscuz (em decadência após operação da Polícia Civil que desmantelou alguns estabelecimentos do tipo, inclusive com prisão do próprio Carlão em 2012), com a também “novata”, e ascendente no ramo, Ellen Gaúcha e a conhecidíssima 69 Drinks (e sua sucursal popular 70 Drinks) e entre outros estabelecimentos mais populares que ainda sobrevivem ao tempo e ao sexo pago.
Durante metade da semana o Copacabana Shows oferece espetáculos de strip tease. Mulheres, praticamente todas de outros estados, tiram a roupa para marmanjos, alguns casados, que mantém essa diversão (ou tara) no anonimato. Outros procuram uma diversão diferente ou tentam matar a curiosidade de ver uma mulher de rosto bonito e corpo escultural despindo-se ao vivo.
Todos os clientes que a reportagem encontrou durante a visita ao Copacabana não quiseram falar o nome. Era como se fosse um tabu. Em um cabaré o anonimato é peça-chave.
“Tu é doido, se minha mulher sabe que estou aqui ela me mata”, falou um senhor de aproximadamente 50 anos, sotaque sulista, em uma mesa com direito a dois litros de uísque e uma loira com idade de ser quase neta. A garota, de corpo de parar quarteirão em termos físicos, parecia não estar muito contente com o senhor que tinha quase dez vezes uma barriga mais saliente que a sua.
“Aqui a gente se diverte, aqui a gente ama, aqui a gente curte”, falou outro senhor, também aparentando estar na casa dos 50 anos, acompanhado uma ninfeta (atributos físicos quase que cuidadosamente trabalhados para serem explorados pelo olhar da clientela), cabelos pretos e piercing no umbigo, com micro-short jeans e mini-calcinha preta à mostra sob o cóccix. O senhor estava com ar de semi-embriaguês. Ela dava alguns beijos no homem com idade de ser seu pai. Faltava entusiasmo. Os beijos pareciam ser mais falsos que uma nota de R$ 3,00.
Carlão só observava a movimentação. “Fiquem à vontade, podem fotografar e filmar”, mostrando o lugar como um verdadeiro relações públicas.
Constantemente o empresário é visto em sinais e lugares movimentados de Teresina distribuindo panfletos de shows de atrações nacionais. Faz questão de cuidar de cada detalhe das sedutoras apresentações e mostrando que o lugar é um dos que têm as mulheres mais corpudas da cidade.
EM TEMPOS DE “CINQUENTA TONS DE CINZA” POLE DANCE NO CENTRO DAS ATRAÇÕES
O Copacabana shows tem esse nome justamente em homenagem à célebre praia da cidade do Rio de Janeiro. “Adoro viajar e adoro aquela praia, por isso não pensei duas vezes em botar o nome”.
O lugar comporta aproximadamente cem pessoas, distribuídas em mesas de seis ou quatro lugares (todas de madeira, com toalhas verdes), com cadeiras também de madeira. Tudo muito simples, sem lembrar tanto as casas do tipo em filmes, seriados e novelas.
No meio do salão há um pequeno palco redondo (menos de 50 centímetros de altura) e com pouco mais de cinco metros de largura entre as extremidades. Um mastro vermelho destaca-se no meio desse lugar de apresentações. É o mastro do pole dance, geralmente o espaço mais usado pelas stripers (garotas que tiram a roupa). Lembra muito o que é descrito em livros a la Cinquenta Tons de Cinza.
“Aqui vive lotado. Tem garota que vem passar dois dias fazendo show e termina passando uma semana”, relatou o Rei do Cabaré. “Vem garota famosa, capa de revista. Recentemente recebemos uma das participantes da Fazenda (reality show da TV Record), recebemos cantoras e dançarinas de funk, gente muito famosa”.
Toda a diversão, desde entradas, às bebidas, bem como o serviço das garotas pode ser pago em cartão de crédito (fato que facilita os clientes a gastarem mais compulsivamente). Somente a mesa defrontada pelos clientes que falaram com O portal tinha mais de R$ 300 em bebidas alcóolicas entre uísques caros, energéticos e água de côco.
O Copacabana não funciona às segundas. Entre os dias de quarta a sexta os shows (strip teases) não são cobrados. Somente se o cliente quiser um show particular na Sala Vip (cubículo anexo ao salão principal) é que há pagamento extra. O lugar tem palco exclusivo (também com pole dance e dois sofás). Cabe confortavelmente três casais ou seis pessoas.
Inicialmente Carlão falou à reportagem nesse lugar. Depois que foi convidado a mostrar o restante do estabelecimento a sala vip foi ocupada por um cliente e uma das meninas, com direito a portas trancadas. Fisicamente era a mais bonita de todas. Uma morena de, aproximadamente 1,60m, nádegas avantajadas, com direito a olhares constantes de todos os presentes.
Nos outros dias de abertura da casa só há shows de strip tease se algum cliente pagar para alguma das “funcionárias”.
Cada show dura, em média, 15 minutos, tempo que a garota entra no mini-palco, faz performances e entre tirações de peças até ficar totalmente despida, com muita provocação para o público. “Às vezes temos até 15 shows por noite”, mostrando a abundância de apresentações no lugar e mostrando seu primeiro sorriso (fazendo parte de sua arcada dentada irregular – meio banguela – aparecer).
“LUGAR TURÍSTICO”
“Falta conhecimento à uma parte das pessoas o que é diversão. Esse tipo de lugar existe há milênios”, defendeu Carlão, em uma naturalidade invejável, ao explicar os motivos do funcionamento de seu estabelecimento.
“O povo devia era agradecer que existe essa casa, pois aqui é ponto turístico. Quando alguém de fora quer se divertir vem para cá. Teresina não tem muita coisa para se fazer para quem é de outro lugar. Homem gosta é de ver mulher e aqui tem um bocado. Tem show de strip tease, tem qualidade, tem 30 meninas, todas de outros estados”, relatou, como um bom comerciante sapiente da qualidade dos “produtos” que oferece.
O estabelecimento, além da média das 30 garotas, tem outros 15 funcionários (entre atendentes do bar, seguranças e responsáveis pela manutenção). O Copacabana tem dois pavimentos, além de área com estacionamento para quase 30 carros (em local fechado e longe do olhar de curiosos) e uma piscina para festas mais “privês”.
Mas o Rei do Cabaré destaca que o Copacabana não é frequentado apenas por homens. “Vem casal também, vem muita gente ver os shows, pois o povo tem curiosidade de ver como é um strip”. “Os shows não são pornográficos, são sensuais”.
“Aqui vem mulher casada buscar alguma striper para fazer show particular para o marido em suas casas”.
Carlão disse ser feliz com o que faz e revela que trabalhar com uma casa de diversão adulta é um hobby, pois, apesar de dizer que não tem prejuízos com o Copacabana suas principais fontes de renda são uma marcenaria (localizada nas proximidades do estabelecimento), além da criação de bovinos. “Não sou rico, viu, apenas não vivo só disso”.
DE CLIENTE DA BETH CUSCUZ A EMPRESÁRIO DO SETOR DE STRIP TEASE
Carlão conta que sua vida de empresário da noite nasceu justamente por conhecer o “mercado”. De tanto frequentar a histórica casa de diversão adulta Beth Cuscuz (na zona Sul de Teresina – a incríveis 50 metros do Quartel do Comando da Polícia Militar do Piauí) decidiu, de cliente, virar empresário do setor de diversão adulta.
“Passei vinte anos sendo cliente da Beth Cuscuz”, revelou, dizendo também que até hoje tem bom relacionamento com a hoje concorrente.
O empresário da noite diz que sentiu a necessidade de montar um negócio próprio porque tinha boas ideias, conhecia muitas “meninas”, principalmente pelo seu histórico de consumidor dos “produtos” oferecidos na Beth Cuscuz.
“Os concorrentes ficaram atrasados, principalmente em termos das ´meninas´ e do atendimento. Aqui temos as mais bonitas e as mais famosas”, fala com orgulho e publicizando seu principal produto.
Quando começou no ramo as stripers quem se apresentavam no Copacabana vinha por intermédio de empresários. “Hoje elas ligam e se oferecem para vir”, contou Carlão. Sem entrar em muito detalhes, depois de muitas perguntas e apertos, respondeu que paga as passagens (quase sempre aéreas – constadas pela reportagem por algumas malas com apetrechos de strip tease e etiquetas de despacho de bagagens aéreas), hospedagem e até academia para que as meninas mantenham a boa forma física. O investimento também consiste em constantes visitas a salões de beleza e a clínicas estéticas. Estar com o corpo em dia (entenda-se, no jargão do lugar, “gostosa”) é quase um mantra.
Quando o assunto é dizer o valor e porcentagens dos shows e das garotas Carlão se fecha. Foi a única vez, entre as quase quatro horas com a reportagem, que ele fechou a cara. Apertado por perguntas, ele disse que não fala por questões éticas, sendo que os acertos é um dos segredos do negócio.
Diz que pratica “bons preços”. “Aqui tudo é mais barato que nos concorrentes”.
Mas ao ser confrontado porque o preço médio de uma garrafa de cerveja ou litro de uísque beira até três vezes mais que um estabelecimento sem mulheres como principal atração ele diz que geralmente lugares do tipo, como o dele, as bebidas são muito mais caras por causa das despesas e os shows custam caros para serem produzidos.
“Mas dá para lucrar, mas não ganho muito dinheiro”. Perguntado se se acha rico, Carlão disse que não, pois ainda não ganhou 10 milhões de dólares.
LANÇAMENTO DE LIVRO QUE ABALARÁ TERESINA
Em primeira mão, assim como também revelou esta semana sua concorrente Beth Cuscuz, Carlão também disse que está escrevendo um livro de memórias sobre o seu estabelecimento e sua vida como boêmio, aficionado por prostitutas e empresário da noite.
O livro já tem até título “De raparigueiro a dono de puteiro”. Carlão revelou que a primeira vez que colocou os pés em um prostíbulo foi aos 13 anos, em sua terra natal, Marcos Parente. “Fui sozinho”. Indagado se consumiu algum serviço carnal: “ora, claro que sim, acha que ia sair de lá, sem”.
Ele disse que o livro ficará na história de Teresina. “Já faz dois anos que escrevo esse livro. Explicarei tudo. O que não falei aqui estará no livro. Vocês só saberão se comprar”, falou, em ar de mistério.
Apertado mais ainda, Carlão revelou alguns detalhes da obra que promete mexer com o mundo dos consumidores de sexo pago e fora de casa. Mas o livro só estará pronto em 2017. Perguntado porque ainda tanto tempo, disse que ainda tem muito a que escrever.
Uma das passagens que estarão no livro foi como conseguiu gastar com prostitutas todo o dinheiro de uma indenização do PDV – Programa de Desligamento Voluntário – durante o então Governo Mão Santa (algo hoje como mais de R$ 20.000,00). “Eu era da secretaria de Fazenda. Decidi pedir o PDV e o dinheiro eu gastei em três dias com putas”.
Ele destacou também que falará sobre as imputações de sua prisão em agosto de 2012 quando foi acusado de participar de esquema de prostituição em Teresina.
Na época a Operação Aspásia, desencadeada pela Polícia Civil do Piauí, prendeu Carlão e praticamente todos os empresários de estabelecimentos de diversão adulta da capital piauiense. “Disso também não quero falar muito”, fechou a cara pela segunda e última vez. Depois disso convidou para a reportagem conhecer outros lugares do Copacabana.
Outra revelação é que nunca se apaixonou por ninguém. Talvez por isso, como mesmo refletiu ao ser indagado, tenha gostado também da boemia e da p...aria (palavra impublicável). “Já tentei me apaixonar, mas nunca consegui”.
“Teve época que eu andava com dez mulheres. Lembra da Boite Templum (por anos a mais chique danceteria de Teresina – localizada na zona Leste)? Lá eu tinha um camarote só para mim. Podia perguntar, toda sexta eu estava lá com uma penca de mulher”, revelou.
Quase que parafraseando a célebre música de Martinho da Vila “Mulheres” (a famosa “já tive mulheres...”) disse já ter se relacionado com todo tipo de mulher, não só as da noite e que cobram para isso, mas muita mulher casada, muita mulher da sociedade. “Eu era um boêmio e aproveitei mesmo”.
UM PAI QUE DEDICA OS DOMINGOS À FAMÍLIA, QUE FAZ QUESTÃO DE COLOCAR FILHOS EM COLÉGIOS BONS E QUE NÃO SE IMPORTA SE AS FILHAS E OS FILHOS SEGUISSEM O MESMO NEGÓCIO
Carlão também revelou que sua atual esposa não gosta do que ele faz.
Bebedor convicto de cerveja, uísque, e vinho, “todos de boa qualidade”, como fez questão de frisar, diz que não trabalha aos domingos. “Esse é o dia que tenho com minha família, dia de estar com meus filhos e a esposa”.
Revelou também não se envolver com suas funcionárias, apesar do gosto antigo pelo tipo de profissional.
Por falar em família, ao ser indagado se seus cinco filhos sabem de sua atividade como empresário da noite, disse que tem uma relação aberta com todos, mas que o menino de 11 anos (o do meio) é o que mais comenta e pergunta sobre as atividades e o que acontece no lugar.
Indagado se caso um dos filhos quisesse seguir o mesmo rumo ele disse que aceitaria, pois a decisão seria deles. Confrontado se caso uma das suas duas filhas decidisse ser striper ou algo do tipo, na maior naturalidade, ele falou que também respeitaria a escolha delas, mas que atualmente dá uma boa educação aos filhos, inclusive com todos estudando nos melhores colégios da capital, justamente para terem consciência de que podem fazer uma boa escolha do que seguir no futuro.
Após falar da família, do Copacabana, da vida e das polêmicas, continuou calmo, paciente e perguntando se tinha algo a mais a perguntar.
Despediu-se convidando os repórteres a voltarem ao estabelecimento, dessa vez como clientes. Como todo bom e inteligente comerciante disse: “voltem, vocês têm um litro de uísque por conta da casa”.
O uísque continua lá!