Engenheiro aponta ligações irregulares como causa da falta de água na Capital
Vereadores promoveram audiência pública para discutir as causas e soluções deste problema que afeta diversos bairros da capital piauiense
Uma audiência pública, sediada na Câmara Municipal de Teresina, discutiu ontem (31) a questão da falta de água em diversos bairros da cidade. A possível privatização da Agespisa também esteve na pauta de discussões. Segundo Florentino Filho, presidente do Sindicato dos Engenheiros, o problema da falta de água em Teresina se dá pela grande quantidade de ligações clandestinas, que provocam desperdício de água.
“Os aglomerados subnormais são locais na periferia onde houve invasão e que não há infraestrutura, mas as pessoas utilizam em busca de sobrevivência. Nessa busca, elas precisam de água e energia e, assim, 16% da água que é produzida em Teresina é desperdiçada em ligações clandestinas. Isso representa 60 milhões de litros de água por dia”, afirma.
Por outro lado, as pessoas que vivem na região, e são regularizadas, não recebem a água porque há desvios. “Segundo o IBGE, Teresina é a única cidade com favelas no Piauí, um número três vezes maior que o número médio do Nordeste, que é 5,60% de favelas”, declarou Florentino Filho, que culpa os responsáveis pelo Plano Diretor de Teresina por não cumprirem as metas, fazendo com que a cidade cresça sem o planejamento adequado.
Foto: Elias Fontenele/ ODIA
“Nós não podemos cortar a água nesses locais porque não temos poder de polícia. A culpa é daqueles que buscam, além de resolver as questões da cidade, resolver as questões do Estado; que só pensam nos seus benefícios eleitoreiros e esquecem o povo”, completou Florentino.
Um dos moradores presentes na audiência, Antônio Corrêa dos Santos, presidente da Associação de Moradores do Parque Brasil III, afirmou que a comunidade precisa de água. “As crianças estão deixando de ir à escola porque não tem água em casa para tomar banho. Hoje, a água só veio por 7 minutos, e sem a pressão necessária para subir para caixa d’água”, disse.
Segundo Antônio, os moradores não apoiam a privatização da empresa. “Temos como exemplo hoje o SUS, apesar dos pesares, está melhor do que muitos planos médicos privados, que você precisa agendar com um mês. No SUS, se acordar de madrugada, consegue falar com o médico ainda no mesmo dia. Não concordamos com a privatização de empresas públicas que são do Estado, são do povo, o que nós queremos é o funcionamento delas”, acentuou.
Para a vereadora Teresina Medeiros, o Governo do Estado deve apresentar uma solução para resolver os problemas da Agespisa. “Encaminharemos um documento para contribuir com a resolutividade e amenizar os problemas que afligem a população de Teresina e do servidor”, afirmou.
“Declarar que a Agespisa está falida é levar a população a votar a favor da privatização”
Presente na audiência pública dessa segunda-feira, o presidente da Agespisa, Antônio Filho, falou sobre as dificuldades enfrentadas pela empresa, que são, principalmente, dívidas internas e inadimplência dos usuários. Segundo ele, o custeio da empresa é de R$ 28 milhões, mas a arrecadação não passa de R$ 23 milhões. A dívida da Agespisa chega a R$ 1 bilhão, enquanto que a inadimplência é de R$ 162 milhões. Antônio Filho também afirmou que, só com a folha de pagamento, a empresa gasta mais de R$ 13,5 bilhões.
Todavia, segundo o presidente do Sindicato dos Engenheiros, Florentino Filho, o uso político da Agespisa é o fator que mais prejudica a população. “Declarar que a Agespisa está falida tem como interesse degradar a empresa e levar a população a votar a favor da privatização. Não há decisão política para que se façam os cortes necessários, para que o povo passe a pagar a dívida que tem com a empresa e, assim, os fornecedores não querem mais fornecer de forma parcelada para a Agespisa”, declara.
Para o advogado Antônio de Deus Neto, funcionário da Agespisa desde 1988, a água é interesse coletivo, direito humano e, portanto, deve ser gerida pelo Estado. Segundo ele, esta questão deve ser analisada com mais aprofundamento. “Só podemos enxergar essa ideia da Agespisa para o capital privado como um crime. Com o governador do Estado envolvendo o prefeito de Teresina e o presidente da Agespisa, há um forte indicativo de formação de quadrilha, corrupção ativa e corrupção passiva”, finalizou.