Quadrilha de traficantes movimentou R$ 3 milhões nos últimos três anos
Donos da droga em avião que caiu tinham uma clínica de estética para lavagem de dinheiro.
A Polícia Civil do Piauí investigou todas as transações bancárias da quadrilha que transportava drogas no avião que caiu em abril, onde foi comprovado que eles movimentaram cerca de R$ 3 milhões nos últimos três anos. De acordo com o delegado Rodrigo Morais, titular do Laboratório de Lavagem de Dinheiro da Secretária de Segurança Pública do Piauí, os traficantes movimentavam no banco um valor 28 vezes maior que a renda que declaravam à Receita Federal.
Fotos: Elias Fontenele/O Dia
Delegado Rodrigo Morais, responsável pelo Laboratório de Lavagem de Dinheiro no Piauí
Toda a aplicação foi investida não apenas na clínica de estética que pertencia ao líder do grupo, Cleber dos Santos, mas, também, em imóveis e carros de luxo no estado do Paraná. Todos os bens foram sequestrados pela Justiça e estão á disposição das polícias do Piauí e do Paraná. "Nós pedimos a quebra do sigilo bancário e telefônico do Cléber e, a partir disso, conseguimos informações sobre as movimentações de todos os outros membros da quadrilha", explica o delegado Menandro Pedro.
Sobre a pista clandestina onde o avião iria pousar quando caiu em Assunção do Piauí, o secretário de Segurança, Fábio Abreu, informou que ela será destruída até o dia 15 de setembro. Abreu ressaltou ainda a atuação do Laboratório de Lavagem de Dinheiro, recém criado no Piauí com apoio da Secretaria Nacional de Segurança Pública e recursos da União. Essa foi a primeira vez que o laboratório atuou no estado e, a partir de agora, ele deverá ajudar nas investigações criminais das Delegacias Especializadas.
Secretário de Segurança, Fábio Abreu, disse que a pista clandestina onde o avião iria pousar será destruída este mês
"Era uma necessidade. Não dá mais só para prender. Prisão não resolve mais, porquê você prende e daqui a pouco a Justiça solta. Nós temos que acabar com qualquer forma de manutenção do crime e", disse. O secretário pontuou ainda que, no caso desta quadrilha, alguns dos presos continuavam comandando os negócios de dentro dos presídios.
Para o delegado Matheus Zanatta, responsável pelo inquérito policial, disse que a quadrilha era extremamente organizada e que os trabalhos eram divididos entre os integrantes. Alguns eram responsáveis por adquirir os entorpecentes, outros por lavar o dinheiro e os demais pelo transporte da droga. A lavagem do dinheiro era feita, segundo ele, através da mesclagem dos bens conseguidos com o tráfico com os ativos declarados à Receita Federal e em investimentos caros que justificassem o alto padrão de vida sustentado pelos membros da quadrilha.
Para o delegado Matheus Zanatta, o que mais surpreendeu foi a organização com que a quadrilha trabalhava
A Polícia Civil do Piauí, através da Delegacia de Entorpecentes, rastreou a movimentação financeira dos traficantes donos da droga encontrada no avião que caiu em São Miguel do Tapuio em 10 de abril deste ano. Ficou comprovado que eles movimentaram R$ 3 milhões nos últimos três anos e que o líder da quadrilha, Cleber dos Santos, tinha uma clínica de estética em Cascavel, Paraná, usada para lavagem de dinheiro.
De acordo com o delegado Menandro Pedro, coordenador da DEPRE, a quantia é totalmente incompatível com as rendas declaradas por Cléber à Receita Federal. “A clínica, ele adquiriu em 2012 com dinheiro do tráfico. Nós apresentamos os relatórios do inquérito à Justiça que declarou o sequestro de todos os bens pertencentes aos membros dessa organização criminosa”, explica o delegado.
Traficantes eram donos da droga que estava dentro de avião que caiu em pista de pouso clandestina numa comunidade Rural do Piauí
O delegado explica ainda que a investigação da movimentação financeira do grupo faz parte de um novo molde de investigação adotado pela polícia que permite não apenas a prisão dos suspeitos, mas a retirada de todo e qualquer bem que eles tenham que possa sustentar a organização criminosa financeiramente.
A polícia do Piauí trabalhou em conjunto com a Polícia Civil do Paraná para rastrear os bens da quadrilha e pediu, junto à Justiça, a quebra do sigilo telefônico e bancário dos acusados.
Entenda o caso
No dia 10 de abril deste ano, um avião monomotor carregado com 20 quilos de cocaína caiu na zona Rural de Assunção do Piauí, próximo a São Miguel do Tapuio. A aeronave explodiu após a queda matando o piloto, e a pista onde o pouso aconteceria era clandestina e usada por uma quadrilha interestadual de tráfico de entorpecentes. Os criminosos tinham conexões inclusive com outros países vizinhos ao Brasil.
O líder do grupo, Cleber dos Santos, foi preso em flagrante no dia seguinte à queda do avião junto com mais cinco pessoas e a polícia constatou que ele era o proprietário da droga no avião.