quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Motim na ‘Custódia’: fugas, feridos, boato de morte e destruição de pavilhões


Motim na ‘Custódia’: fugas, feridos, boato de morte e destruição de pavilhões

Com clima eminente de tensão, penitenciária está tomada pelos detentos e risco de fuga em massa aumenta, após presos chegarem ao pavilhão A, próximo a saída

É segundo motim que acontece essa semana na Casa de Custódia em Teresina, e nesta quarta-feira (16/12), a situação no local está sob alto clima de tensão. Desde a noite de terça-feira (15/12), os presos iniciaram o levante, reivindicando principalmente a volta das visitas e a resolução na questão da superlotação. Na manhã de hoje, a confirmação de feridos, boatos sobre morte e informação de que os presos estão no comando de todos os pavilhões fez a movimentação aumentar, dentro e fora da penitenciária.
Motim na Casa de Custódia iniciou na noite de terça-feira (15/12) / Foto: Vitor Sousa / O Olho
“O doutor Vidal de Freitas e a comissão da OAB estiveram aqui na Casa de Custódia negociando com os presos, só que a situação do presídio é que ele está totalmente destruído. As comissões que estão sendo formadas é para tentar dialogar com os presos, para que pelo menos se mantenham na área de contensão, já que as celas foram todas depredadas”, explicou Kleiton Holanda, diretor administrativo do Sindicato dos Agentes Penitenciários do Piauí.
SINPOLJUSPI CONFIRMA FUGAS
Ainda de acordo com Kleiton Holanda, a situação é difícil e não tem previsão para ser contida. “Esse início de rebelião começou de novo com uma tentativa de fuga, às 20h de ontem, que foi abortada. Os presos começaram o ‘quebra quebra’ para poder camuflar e também fazer com que conseguissem fugir. Não se sabe quem fugiu, nem quantos porque a conferência até a presente hora é difícil de ser feita".
Kleiton Holanda / Foto: Vitor Sousa / O Olho
Os pavilhões estão todos interligados por buracos nas paredes e nas lajes, feitos pelos detentos. “Todos os presos estão misturados, inclusive tentaram assassinar 44 presos do pavilhão A, que era dos que trabalhavam na limpeza”, contou o diretor do Sinpoljuspi. Esse detentos foram retirados local pelos agentes da Custódia. O fato aconteceu já na manhã de hoje.
No momento os presos controlam os nove pavilhões da penitenciária. “Eles conseguem migrar de um pavilhão para o outro devido os buracos feitos. Lá dentro tem um vão na parte superior da unidade. Eles caminham por esse vão e não tem como os militares ver, porque existe paredes, tetos. Eles vão pulando de pavilhão para pavilhão, conversando, se articulando e aumentando aí sua força”, completou.
FERIDOS, TIROS E BOATO DE MORTE
Desde o início da manhã é possível escutar vários disparos de armas dentro da unidade penitenciária. A cada nova barulho de tiro um drama para os familiares que se aglomeram do lado de fora. Também era possível ver em alguns instantes, subir uma fumaça do lado de dentro.
A informação oficial é de que apenas balas de contensão estão sendo utilizadas na tentativa de controlar a situação e que há cinco presos se feriram até o momento. Três ambulâncias estiveram no local somente pela manhã. Sempre que o barulho da sirene soava, começavam os choros de mães, esposas e irmãs de detentos.
Francisca das Chagas, irmã de um detento / Foto: Vitor Sousa / O Olho
“A gente fica sem notícias. Estou com três dias que venho para cá, moro em Altos, meu irmão está aqui vai fazer um ano. Pedimos para falar com o diretor, ele não dá informação nenhuma, vira as costas simplesmente. Queremos saber como ele está. Sai ambulância direto, gente ferida e eles ficam mentindo para a gente”, disse Francisca das Chagas, que espera do lado de fora por alguma informação a respeito do irmão preso.
A situação dela é semelhante à de Flávia Viveiros, ela tem um irmão e o marido presos. “Nessa rebelião aqui estão soltando é bomba, chamamos os policias aqui e falaram que iriam matar eles porque estão desrespeitando a lei, isso não justifica não”, conta, chorando.
Já por volta de meio-dia, algumas pessoas comentavam que haviam sido informadas que um dos presos levados ao Hospital de Urgência de Teresina morreu, mas que não teve sua identidade revelada. A informação não foi confirmada por nenhum órgão oficial.
RISCO DE FUGA EM MASSA
O pavilhão A, segundo informações da assessoria da secretaria Estadual de Justiça, até a manhã de hoje ainda não tinha sido tomado pelos detentos. Já no início da tarde foi confirmado que todos os pavilhões estavam sob comando dos detentos.
Foto: Vitor Sousa / O Olho
Este último é o que fica mais próximo da saída da Casa de Custódia, e apenas uma parede estaria separando os presos do portão que dá acesso à rua. A situação gera preocupação, e várias viaturas de todas as tropas da Polícia Militar chegavam em pequenos intervalos de tempo para ajudar no controle do motim.
A coronel Julia Beatriz também foi até a unidade para ajudar nas negociações com os presos. “Primeiro nós vamos averiguar e ver a situação, a gente não pode afirmar nada antes de ver. A gente vai tentar, se houver a possibilidade do diálogo, vamos através do diálogo, se não a gente parte para outra alternativa”, disse a coronel. Questionada se a outra alternativa sitada seria o uso da força, ela apenas informou que ainda precisaria analisar a situação.
SECRETÁRIO DE JUSTIÇA COMENTA SITUAÇÃO
Em entrevista a TV Cidade Verde, na tarde desta quarta-feira (16/12), o secretário de Justiça do Estado, Daniel Oliveira, disse que medidas estão sendo tomadas para garantir principalmente a segurança da população e para que os presos que estão com ordem judicial para tal, permaneçam nas unidades prisionais.
“Estamos trabalhando de forma emergencial, e um dia de cada vez. Qual é a estratégia de trabalho hoje? Essa aqui, de reforço, de atuação da Polícia Militar. E quando você compara e observa os números, vê que tanto a ação de segunda-feira [14/12] como essa de hoje te sido eficaz do ponto de vista operacional”, disse.
Muito reforço policial chegou à Casa de Custódia durante a manhã / Foto: Vitor Sousa / O Olho
O secretário também ressaltou que não houve casos mais graves de feridos, mortes ou reféns. “Garantimos também que essas pessoas não fujam ou não entrem em contato com a sociedade, pois estão lá porque lá devem estar. Esse também é o nosso compromisso com o povo”, completou.
COMISSÃO TENTA ARTICULAR NEGOCIAÇÃO COM PRESOS
O juiz da 2ª Vara Criminal de Execuções Penais, Vidal de Freitas e o promotor Eloi Pereira foram até a penitenciária, segundo informações da assessoria, a pedido dos detentos, para formar uma comissão e poder escutar os presos, que até então não teriam feito nenhum pedido para iniciar as negociações.
Após sair da unidade o juiz disse que estava indo falar com o desembargador Edvaldo Moura para tratar das exigências feitas pelos detentos. "Entre as principais exigências deles está o retorno das visitas e audiências. Estão escolhendo representantes para conversar com uma comissão nossa também, para tentar encaminhar uma solução para os problemas", contou o juiz.
Segundo Vidal, a situação dentro do presídio estaria se acalmando e a comissão que fará a negociação será formada por representantes de cada pavilhão, o Ministério Público e a OAB, juntamente com o Judiciário.
FAMILIARES TENTAM DERRUBAR PORTÃO DA CUSTÓDIA
No total há 876 detentos na Casa de Custódia, de acordo com a assessoria secretaria de Justiça do Estado, e a maioria deles está fazendo parte do motim. Familiares dos presos tentaram derrubar o portão de acesso da penitenciária e foram contidos pela Tropa de Choque, na manhã de hoje.
Além disso, a Casa do Albergado, situada na lateral da Casa de Custódia, teve o portão de entrada derrubado pelos familiares dos detentos da penitenciária no início da tarde desta quarta-feira após os agentes de segurança, que estavam na parte superior da Casa de Custódia, apontarem armas para o pátio do presídio. 
Os familiares dos detentos começaram empurrar o portão até que a grade presa na parede não suportasse a pressão e caísse. Agentes penitenciários e policiais contornaram a situação e conseguiram controlar os familiares. 
Portão da Casa de Albergado é derrubado (Reprodução/ TV Cidade Verde)

fonte portal olho