Moradores de bairros marcados pela violência cobram políticas públicas
Famílias que tiveram seus filhos mortos reclamam da falta de opções de lazer e trabalho para ocupar o tempo livre dos jovens teresinenses
O jovem que não tem a vida interrompida tem poucas opções para seguir um caminho diferente. Nessas regiões onde a violência comanda a rotina dos moradores, faltam quadras de esportes, oferta de cursos profissionalizantes, oficinas de arte e outras atividades de lazer e trabalho que envolvam a juventude. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública, de todas as mortes ocorridas no ano passado, 80% tiveram os jovens como vítimas.
No bairro Promorar, uma das regiões mais violentas da capital, o que se observa são casas e comércios com gradeados. Crianças e adolescentes só circulam pelas ruas do bairro acompanhadas por adultos. Pedir uma informação no bairro é um desafio. O medo acompanha a maioria dos moradores, que recordam como o bairro já foi um local mais tranquilo para morar.
A dona de casa Antônia Gomes confirma a sensação de insegurança. “Nós estamos presos dentro de nossas casas. Não se fica sequer na calçada de casa, com medo de assaltos ou até de assassinatos como já aconteceu com minha família. Os jovens do bairro também estão presos em suas casas, impedidos de transitar, porque os pais estão apavorados com a violência que tomou conta do bairro”, reclama.
Antônia Gomes teve o neto assassinado há nove meses e lamenta que a juventude, de uma maneira geral, esteja se envolvendo em crimes. “É preciso oferecer condições para esses jovens se afastarem dessa realidade, principalmente as crianças e adolescentes que estão trancadas em casa por medo. Porque esses jovens que já se perderam na violência, na minha opinião, não há como recuperar”, pontua.
Vítimas têm até 29 anos e são homens negros
O Mapa da Violência 2014 apontou que 100 a cada 100 mil jovens com idade entre 19 e 26 anos morreram de forma violenta no Brasil em 2012. O mapa considera como morte violenta a resultante de homicídios, suicídios ou acidentes de transporte. O estudo mostra que, nos anos 1980, a taxa de mortalidade juvenil de 146 por 100 mil jovens, e passou para 149, na mesma proporção, em 2012.
O percentual é um pouco maior que o de crescimento da população total do país: 11,1%. O estudo é feito pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos (Cebela), que se baseia no Sistema de Informações de Mortalidade (SIM) e em outros dados do Ministério da Saúde para fazer o levantamento.
Perfil
Ao todo, ao longo dessa década, morreram 556 mil pessoas vítimas de homicídio. A situação foi amenizada através da criação de políticas de enfrentamento à violência desenvolvidas no país como, por exemplo, a Campanha do Desarmamento e o Plano Nacional de Segurança Pública.
De acordo com o Mapa da Violência, entre 2002 e 2012, houve crescimento dos homicídios em 20 das 27 unidades da Federação. Sete delas registraram crescimento explosivo: Maranhão, Ceará, Paraíba, Pará, Amazonas, Rio Grande do Norte e Bahia, onde as taxas de mortalidade juvenil, devido a homicídios, mais que triplicaram.
Mãe de jovem morto teme pelos filhos
Adriana Conceição Gomes é mãe de três filhos. Um deles, Richardson, na época com 17 anos, foi assassinado por engano na porta de casa. Era início de noite e Richardson estava na esquina de casa com o avô quando um homem em uma moto se aproximou e atirou contra o adolescente. A polícia investigou e prendeu o acusado, mas ele foi solto seis meses depois.
Adriana e o marido Raimundo Nonato Gomes convivem, hoje, sem a presença do filho e temendo pelo futuro dois outros filhos adolescentes. “Meus filhos sempre foram orientados para o bem. Convivem em família, com os primos que são muito unidos. Essa tragédia abalou a nossa família. Hoje, temo pela segurança dos meus filhos”, contou.