domingo, 5 de abril de 2015

Antes de viagem para o Piauí, pai de menino morto no Rio fala: 'Quero justiça'


Antes de viagem para o Piauí, pai de menino morto no Rio fala: 'Quero justiça'

Voo saiu na manhã deste domingo (5) do Rio para Teresina.

"Quero justiça", disse o pai de Eduardo de Jesus, 10 anos, que foi morto durante operação policial no Conjunto de Favelas do Alemão na última quinta-feira (2). José Maria e Teresinha de Jesus, pais de Eduardo, embarcaram na manhã deste domingo (5) com as outras duas filhas para o Piauí, estado natal da família, onde o corpo do menino será enterrado.
José afirmou ainda que a família pretende voltar em dez dias e ajudar nas investigações. Questionado sobre o reconhecimento do suposto policial que teria atirado no menino, ele disse "minha esposa é capaz de reconhecer sim".
Parentes do menino Eduardo embarcaram neste domingo para o Piauí (Foto: Fernanda Rouvenat/G1)Parentes do menino Eduardo embarcaram neste domingo para o Piauí (Foto: Fernanda Rouvenat/G1)
O pai do menino Eduardo, José Maria (Foto: Fernanda Rouvenat/G1)
O pai do menino Eduardo, José Maria (Foto: Fernanda Rouvenat/G1)
O voo saiu o Rio em direção a Teresina. De lá, Teresinha Maria de Jesus Ferreira, o pai de Eduardo e mais duas irmãs de Eduardo vão para o município de Corrente, no interior do Piauí.
De acordo com agentes da divisão, a mãe tinha o cuidado de monitorar o menino Eduardo e, nos dias em que não havia aula, ela o levava para o trabalho. Ainda segundo investigadores, haverá uma reprodução simulada do caso, ainda sem data.
A família estava sob a guarda de agentes da Divisão de Homicídios da capital desde este sábado (4). O horário que o corpo de Eduardo de Jesus será transferido para o Piauí ainda não foi informado.
Por determinação do governador Luiz Fernando Pezão, as despesas com o traslado e o sepultamento do corpo do menino Eduardo, assim como a viagem dos pais, serão arcadas pelo governo do estado. Técnicos da Secretaria estadual de Assistência Social prestam assistência e dão amparo psicológico à família do menino.
Entrevista com José Maria Ferreira de Sousa e Terezinha Maria de Jesus, pais do menino Eduardo de Jesus, de 10 anos, que morreu ontem após ser baleado durante operação do Batalhão de Choque no Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio (Foto: Fábio Gonçalves/Agência O Dia/Estadão Conteúdo)
José Maria e Terezinha, pais de Eduardo  (Foto: Fábio Gonçalves/Agência O Dia/ Estadão Conteúdo)
O delegado da Divisão de Homicídios, Rivaldo Barbosa, disse aos pais de Eduardo que a Polícia Civil não medirá esforços para punir os responsáveis pela morte do menino. "Vamos nos empenhar ao máximo para chegar aos culpados. Não vai ter proteção a ninguém. É preciso definir quem atirou e punir os responsáveis", disse o delegado.
Moradores fizeram caminhada contra a violência
A caminhada deste sábado (4) contra a violência no Conjunto de Favelas do Alemão, na Zona Norte do Rio, teve a presença de Teresinha, que em certo momento mostrou revolta diante de um carro da PM e foi contida por familiares e amigos.
Teresinha não foi a única a demonstrar seu descontentamento com as forças de segurança. As viaturas da Polícia Militar que passavam pelo local recebiam vaias dos manifestantes. Os moradores acusam os policiais de agirem com truculência e serem responsáveis pelas mortes de dois moradores nos últimos quatro dias. Para eles, as Unidades de Polícia Pacificadora deveriam se transformar em Unidades de Políticas Públicas. Na quinta, a mãe de Eduardo já havia demonstrado seu lamento em relação à atuação policial.
Terezinha Maria de Jesus, mãe de Eduardo, é contida por familiares diante de PMs (Foto: MARCOS DE PAULA/ESTADÃO CONTEÚDO)
Terezinha Maria de Jesus, mãe de Eduardo, é contida por familiares diante de PMs (Foto: MARCOSDE PAULA/ESTADÃO CONTEÚDO)
"Eu marquei a cara dele. Eu nunca vou esquecer o rosto do PM que acabou com a minha vida", disse na ocasião.
Por ser Sábado de Aleluia, os moradores pretendiam queimar um boneco de Judas no final do ato. De acordo com a assessoria da Polícia Militar, não houve confronto na madrugada deste sábado em nenhuma comunidade do conjunto de favelas.
Segundo a página do Jornal Voz da Comunidade no Facebook, o ator Paulo Betti esteve no conjunto de favelas do Alemão na manhã deste sábado para dar apoio ao protesto.
O policiamento na região está reforçado por policiais das UPPs do Alemão, de outras UPPs e de agentes do Comando de Operações Especiais, que envolve o Batalhão de Ações com Cães (BAC), o Grupamento Aeromóvel, o Batalhão de Operações Especiais (Bope), além de veículos blindados e helicóptero.
Durante o ato deste sábado, a Coodenadoria de Polícia Pacificadora afirmou que respeita qualquer tipo de manifestação, desde que ela seja pacífica. “Nós trabalhamos para garantir a paz na comunidade do Alemão e nas outras que nós estamos com trabalho de UPP e tem sido muito bom para o Estado do Rio de Janeiro. Eu espero que nós tenhamos também manifestações escrito: ‘fora traficante, fora marginais’”, afirmou o major Nogueira, assessor da coordenadoria.
Desde a última quarta, quatro pessoas foram mortas, entre elas um menino de 10 anos e uma mulher que estava em casa com a filha. As outras duas vítimas fatais são suspeitas de envolvimento com o tráfico de drogas. Além deles, outras três pessoas ficaram feridas nos confrontos.
Eduardo de Jesus Ferreira, de 10 anos, brincava no celular na porta de casa nesta quinta (2), quando foi baleado. A família da criança acusa os policiais militares, que faziam uma operação na comunidade, de ter dado o tiro que matou Eduardo. Nesta sexta (3), a morte do menino gerou protesto de moradores na região. Houve confronto entre a PM, que lançou bombas de gás e spray de pimenta, e manifestantes.
Pelo menos outras duas pessoas foram atingidas por balas perdidas no Alemão desde a tarde desta quarta (1º) – uma mulher morreu e a filha dela ficou ferida. No total, além de Eduardo, outras seis pessoas foram baleadas em dois dias – três morreram. 
Moradores se concentram para protesto no alemão (Foto: Renato Moura/Jornal Voz da Comunidade)
Moradores se concentram para protesto no alemão (Foto: Renato Moura/Jornal Voz da Comunidade)
Pela manhã, uma base da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), na Rua Canitá, foi atacada. Janelas da unidade, que funciona dentro de um contêiner, foram quebradas. Segundo o CPP, pessoas não identificadas também colocaram fogo em uma caçamba de lixo que fica ao lado da unidade. O fogo em um colchão chegou a atingir uma parte da base.

Fonte:portal o dia com informações G1