Celebrando 70 anos da Asa Branca, sanfoneiros percorrem o Centro de Teresina
A 9ª Procissão das Sanfonas foi um verdadeiro encontro de gerações embalado ao ritmo contagiante do baião e pelas letras de Luiz Gonzaga.
Os acordes das sanfonas ecoaram ao longe pelas ruas do Centro de Teresina na tarde desta quarta-feira (02). Sanfoneiros de todas as idades se reuniram numa procissão para celebrar os 70 anos da música Asa Branca, composta por Luiz Gonzaga. A homenagem ao Rei do Baião já acontece tradicionalmente nos últimos oito anos e nesta sua 9ª edição reuniu fãs e admiradores da obra de Gonzaga num trajeto que seguiu da Praça Saraiva até o Museu do Piauí, na Praça da Bandeira.
Numa clara demonstração de que a música não tem idade, sanfoneiros com décadas de estrada se juntaram a iniciantes no baião. É o caso do senhor Artur Campelo da Costa, de 95 anos, que desfilou em um carro de som tocando sua sanfona, instrumento que escolheu há 76 anos. “Desde de jovem que eu sempre via meu pai tocando e comecei a me interessar pelo ritmo que é da nossa terra, é nossa raiz e Luiz Gonzaga representa isso. Depois dele a música nordestina não foi mais a mesma”, diz o sanfoneiro, que não interrompeu a música nem para dar entrevista.
Artur Campelo da Costa toca sanfona há 76 anos e é o mais experiente sanfoneiro da Procissão das Sanfonas (Foto: Jailson Soares/O Dia)
Os sanfoneiros Alisson Araújo e Sandrinho do Acordeon também são outros que se renderam aos encantos da batida da zabumba. Alisson toca há 15 anos e diz que foi influenciado pela família no gosto pela música. Ele, que vem de uma família de artistas, vê em Luiz Gonzaga um ícone e um exemplo a ser seguido. “A obra dele foi única e toda homenagem é pouco. Nós estamos enaltecendo o que é da nossa terra”.
E mais do que tocar a obra de seus ídolos, os sanfoneiros tentam levar ela adiante. Sandrinho do Acordeom, por exemplo, junto com seu pai, Salvador Nunes, montou o projeto Acordes do Campestre, que leva novas oportunidades a crianças, jovens, adultos e idosos de diversos municípios da região de São Raimundo Nonato com aulas de sanfona, zabumba, baixo, violão e triângulo. O sanfoneiro diz que vê no baião uma inspiração.
Foto: Jailson Soares/O Dia
“A gente tem que dar valor ao que nós criamos, às nossas raízes e aliar isso a oportunidades. Eu acho que essa procissão é mais do que uma celebração da obra do nosso Luiz Gonzaga. É também um reconhecimento da nossa cultura, de que somos isso aqui, nordestinos embalados pelo ritmo do baião”, diz o sanfoneiro.
E o encontro de gerações inspira meninos como Braydman Cruz, de 13 anos, e João Pedro Cabral, de 12. Alunos da Escola de Música da Dona Gal, os jovens, que tocam sanfona há apenas um ano, já mostram perícia no domínio do instrumento. O peso da sanfona some nas mãos dos dois e eles admitem serem fãs da obra de Luiz Gonzaga. Asa Branca foi a primeira música que João Pedro tocou de verdade na sanfona e desde então decidiu que não pararia mais.
Os jovens João Pedro Cabral e Braydman Cruz dizem que as músicas de Luiz Gonzaga são inspiração (Foto: Jailson Doares/O Dia)
Já Braydman define Luiz Gonzaga como um ídolo: “As músicas dele inspiram tanto pelo ritmo contagiante quanto pelas letras, porque elas falam da nossa realidade e a gente se vê nelas”, finaliza o sanfoneiro.