sexta-feira, 3 de junho de 2016

o portal 180 flagra criança vendendo 'crack' na zona Norte de THE

O portal 180 flagra criança vendendo 'crack' na zona Norte de THE

Procurados, órgãos responsáveis não assumiram competência diante do grave problema

Na semana passada, o portal 180graus publicou notícia onde os moradores do Bairro Primavera, zona Norte de Teresina,reclamavam da conivência da Polícia com traficantes. A situação, porém, parece ser muito mais profunda e o descaso do poder público com a questão é escandaloso.
Na noite da última quarta-feira (01/06), uma equipe de reportagem do portal flagrou uma criança vendendo pedras de crack nas imediações na rua José de Freitas, naquele bairro. Voltamos na noite de ontem em um veículo descaracterizado e o garoto estava no mesmo local. Registramos tudo com uma câmera escondida.
No vídeo, é possível ver uma criança que aparenta ter apenas 10 anos de idade oferecendo pedras de crack pelo valor de R$ 10. Chamamos a atenção dele falando pela janela do carro. Logo vem o garoto com a mão cheia de papelotes, prontos para a venda. Bem próximo do local também é possível ver outros vendedores, entre adultos e adolescentes, fazendo um 'mini' mercado de droga.
Para conseguir conversar com o garoto, tentamos negociar, pedir a droga por um valor um pouco mais baixo. Quando o vídeo já estava desligado, ele parecia perceber algo estranho, vendo que nada iríamos comprar, o menino reclama que estamos demorando e que a mãe dele pode logo vir brigar. Tem que ser tudo rápido, "papo reto", sem enrolação. Confira a transcrição da conversa.
Jornalista: Olha ali, é esse menino ali (que estava sentado na calçada)
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Jornalista: Yo! Tá rolando? (se dirigindo ao menino)Criança: O que?Jornalista: Pedra.Criança: Tá!Jornalista: Quanto é que tá aí? É 3 de 10?Criança: Dá 30.Jornalista: Eu vi mais barato ali embaixo.Criança: Eu só vendo de 10.Jornalista: É só de 10?Criança: É só de 10.Jornalista: Não dá certo fazer mais barato?Criança: Não tem não, é só de 10 reais.Jornalista: Pois eu volto já, vou pegar o dinheiro.

Não é normal, não dá para tratar como uma situação banal. E por isso fomos atrás das autoridades, dos ditos responsáveis por combater situações como estas. Impedir que elas aconteçam.
Nosso primeiro caminho, o Conselho Tutelar, que na região Norte tem Marcos Vinícius, como responsável, ele declarou à equipe de reportagem que desconhece denúncias de crianças vendendo drogas na região.
“Quando esse tipo de denúncia é recebida, e até o momento não temos nenhuma, notificamos a família para que venha ao Conselho apresentar sua defesa”, afirmou, de maneira quase surrealista, Marcos Vinícius.
Vinícius ainda afirmou que o Conselho não tem poder de polícia e por isso as investigações sobre denúncias são realizadas pela Delegacia de Proteção à Criança e Adolescente.
Nas delegacias, a reportagem foi jogada de um lado pro outro. Ninguém se manifestava como responsável. Na foto, as titulares pelas delegacias.Nas delegacias, a reportagem foi jogada de um lado pro outro. Ninguém se manifestava como responsável. Na foto, as titulares pelas delegacias.
Ao procurarmos a Delegacia de Proteção à Criança e Adolescente (DPCA), sob responsabilidade da delegada Ana Kátia Esteves, fomos informados que os responsáveis por esse tipo denúncia é a Delegacia do Menor Infrator, que fica logo ao lado.
Na Delegacia do Menor Infrator, o mesmo descaso, sob responsabilidade da delegada Thaís Paz, fomos novamente informados que esse tipo de caso não era da alçada da delegacia.
São filhos de quem então? Quem é por eles?
Sem lenço, nem documento...
Dados mais recentes sobre a situação de menores infratores no país, divulgados ainda ano passado pelo Mapa do Encarceramento, mostram que de 20 mil menores infratores internados em 2012, 9% cometeram homicídio. Já o Ministério Público Estadual informou no início do ano que cerca 200 processos envolvendo crianças e adolescentes foram registrados entre os meses de dezembro de 2015 e janeiro de 2016.
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Estes adolescentes são salvaguardados por um Estatuto frágil, e que ainda permite o abrandamento de penas em casos de crimes mais graves que eles possam cometer. Se condenados a medidas socioeducativas, são submetidos à internação em ambientes que não oferecem a ressocialização, e por muitas vezes acabam saindo de lá piores do que entraram.
E assim ficam os moradores do bairro Primavera: acuados diante da conivência da Polícia que pouco age sobre os traficantes, os conselheiros tutelares que, surrealisticamente, acreditam que podem “solicitar esclarecimentos à traficantes” e delegacias especializadas que se negaram a tomar a responsabilidade para si sobre um grave problema que toma conta das ruas de Teresina.

fonte 180graus.com