quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

THE | Suspeito some após receber para "agilizar" aquisição de imóveis pela Caixa

THE | Suspeito some após receber para "agilizar" aquisição de imóveis pela Caixa

Vítimas relatam que homem se passa até por funcionário do banco e da Prefeitura

Um grupo de pelo menos 26 pessoas está mantendo contato através de um grupo no aplicativo WhatsApp, se organizando em busca de providências contra José Luciano Castro Pompeu Neto. Ele é suspeito de aplicar golpes se passando por funcionário da Caixa Econômica Federal, da Prefeitura de Teresina, e ainda se diz parente de um Senador da República, tudo para tirar dinheiro das vítimas.
Boa parte destas pessoas já registraram Boletim de Ocorrência em delegacias da capital, a maioria no 6º Distrito Policial, onde o suspeito vem sendo investigado por uma equipe designada pela Secretaria de Segurança Pública.
Vítimas que procuraram o 180graus relatam basicamente o mesmo enredo. Que conheceram Luciano nas imediações de agências bancárias ou através de um amigo, diante da promessa de conseguir agilizar o processo de financiamento da casa própria junto à Caixa Econômica Federal, pelo programa Minha Casa Minha Vida. Oferecendo serviços como despachante, por exemplo, o suspeito diz que em troca de uma boa quantia vai resolver toda a parte de documentação, para que a pessoa vá apenas na Caixa assinar os papéis e finalizar a aquisição do imóvel.
Print de conversa via WhatsApp de Luciano com uma das pessoas que o denunciou na polícia
Print de conversa via WhatsApp de Luciano com uma das pessoas que o denunciou na polícia 
“Eu conheci ele através de uma amiga minha. Como eu estava precisando já há tempos, juntando dinheiro para comprar um imóvel, e eu já tinha falado para ela. (...) Ela disse, ‘olha, tem um rapaz que facilita, facilita assim, a documentação’. A gente pagar para ele resolver documentação de cartório, essas coisas, tipo despachante. (...) A gente pagou pra ele ajeitar a gente desta forma”, contou uma das vítimas que procurou o 180graus, e que preferiu não ter sua identidade revelada.
Para o serviço que ela acreditou que seria prestado, pagou R$ 4.628,00 (parte em depósito e parte em espécie). “Ele ficou só enrolando, até porque o serviço o valor não era esse todo. Quando ele conseguisse desenrolar a documentação, de tudo, eu ia ter que pagar mais R$ 3 mil pra ele (...) Ele ficou enrolando, até quando ele sumiu”, relata.
Carta apresentada pelo suspeito a algumas das vítimas indicando que as mesmas teriam sido sorteadas pela prefeitura 
Carta apresentada pelo suspeito a algumas das vítimas indicando que as mesmas teriam sido sorteadas pela prefeitura  
As vítimas já conseguiram até mesmo identificar onde o suspeito supostamente mora com a mãe, a falaram inclusive com a ex-esposa de José Luciano, que nega envolvimento com os supostos ilícitos do ex-companheiro. Em um áudio repassado ao 180graus, a mulher - cujo nome aparece como favorecida em conta na qual as vítimas fazem boa parte dos depósitos - diz não se beneficiar de qualquer golpe. A mulher chama ainda Luciano de “irresponsável”, e o acusa de sequer depositar o dinheiro que deve para sustento dos filhos. “Não tenho precisão de mentir. Nunca me envolvi nos negócios daquele rapaz. Sempre fez as coisas escondidas de mim”, diz a mulher. Sobre a conta, ela afirma que foi criada na época em que os dois estavam juntos, e que hoje não mais tem acesso, tendo Luciano ficado com seu cartão.
Não é de hoje que o homem é apontado como suspeito de aplicar golpes em Teresina. Vítimas identificadas pelo grupo relatam casos de até quatro anos atrás. Mas nem por isso Luciano faz questão de se esconder. “Inclusive até hoje ele nunca bloqueou ninguém no WhatsApp. Ele fica online o tempo todo. A gente escreve pra ele, pergunta pra ele. Eu já pedi o dinheiro de volta. Ele só visualiza e não responde”, conta a vítima.
Jairo Braz, advogado que representa o grupo, estima que o golpe possa chegar a R$ 200 mil. Ao 180graus foram repassados diversos comprovantes de depósitos feitos em contas à pedido de Luciano -inclusive a dele -, em valores que vão de 500 reais a 7 mil reais. O grupo conseguiu se reunir graças aos relatos feitos nas redes sociais.  “Ele vem lesando as pessoas de algum tempo, tem vítima dele de 2006. Agora em 2017 ele lesou 30 pessoas aqui em Teresina, aí essas pessoas entraram em contato e fizeram um grupo [no WhatsApp], postaram algumas coisas nas rede sociais, e foram aparecendo mais vítimas dele”, conta. Com a divulgação do caso na imprensa, o advogado acredita que certamente novas vítimas irão aparecer.
Em 2014 o mesmo homem foi apontado em reportagem de O Dia como suspeito de lesar um grupo de 15 pessoas, com a mesma promessa de agilizar o processo de aquisição de unidades habitacionais do Minha Casa Minha Vida, supostamente tomadas pela Polícia Federal e que estavam então sendo repassadas por valores menores. Já atualmente, o suspeito apresentava até mesmo cartas em nome da prefeitura de Teresina, indicando que a vítima teria sido sorteada no programa social, mas quando os supostos beneficiários procuravam a SDU, eram informados de que tudo não passava de fraude.
O advogado explica que o suspeito se passa por diferentes pessoas para conseguir enganar as vítimas. Em alguns casos, pessoas foram levadas para assinar documentos dentro de agências da Caixa, como forma de dar consistência ao golpe.  “Para algumas pessoas ele falava que era vendedor de ouro. Para outras pessoas era gerente habitacional da SDU. Para outras pessoas ele era gerente da Caixa Econômica. E sempre, em todos os golpes, tanto o de ouro o de gerente da Caixa Econômica, como de gerente Habitacional da SDU, todos ele fazia questão de frisar que era sobrinho de senador”, conta.
No passado, José Luciano Pompeu chegou de fato a trabalhar na prefeitura, quando foi nomeado em 2011 pelo então prefeito Elmano Férrer, para o cargo de Técnico de Nível Médio I da SDU-Sudeste, membro do Grupo Especial de Trabalho Técnico e Social do Projeto Morar Melhor, no âmbito do Município de Teresina, tendo sido exonerado em setembro do ano seguinte.
Quando se passava por vendedor de ouro, o suspeito oferecia produtos, mas após receber o depósito sumia, como relata o advogado. “Com algumas vítimas foi feito o seguinte. Ele prometeu uma peça tal, mostra as fotos, aí a pessoa se interessa, ‘gostei dessa aqui’, aí ele diz ‘pois você tem que me dá 3 mil com dez dias a peça chega. Aí ele some”, explica. Um dos boletins repassados à reportagem mencionam até mesmo cheques passados por Luciano no nome da mãe para pagamento de serviços em um comércio que acabaram sendo sustados.
O caso está agora sendo conduzido pelo 6º DP, onde foram registrados boa parte dos Boletins de Ocorrência. O 180 entrou em contato com a equipe de investigação que acompanha o caso. Joatan Gonçalves, chefe de investigação do distrito, disse que não poderia dar mais detalhes sobre a ação da polícia, sob pena de prejudicar os trabalhos já em andamento.

Suspeito nega e diz "muitas mentiras"
180graus entrou em contato com o suspeito através dos números que Luciano usava para conversar com as vítimas. Após algumas horas, ele respondeu às mensagens, desconversando e negando as acusações contra ele, até que deixou de responder aos questionamentos da reportagem.
Confira o diálogo que foi mantido pelo WhatsApp
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180 - Olá Luciano, boa tarde (14h36)

Aqui é Apoliana Oliveira, do portal 180graus. Estou tentando contato com você. (15h19)
Luciano, estamos produzido uma reportagem em que vc é acusado de golpe por um grupo de pessoas de Teresina. Gostaríamos de falar com vc para um posicionamento. (20h28)
Luciano - O que é isso aí não entendi (20h45)
180 - Você é José Luciano de Castro Pompeu?
Luciano - Sim mais o que estão me acusando
180 - Fomos procurados por pessoas que registraram boletim de ocorrência acusando-o de tê-los enganado e recebido dinheiro por serviços que acabou não prestando. Se passando por funcionário da Caixa e PMT. Muitos dizem que lhe procuraram para agilizar documentação para compra de imóveis, mas que o senhor sempre sumia após receber pagamentos. Queremos um posicionamento seu. Essas acusações, o senhor tem conhecimento?
Luciano - Muitas mentiras. Aff. Isso é sem fundamento
180 - O senhor prestou os serviços pelos quais estas pessoas lhe procuraram?
Luciano - Fiquei sabendo q estavam falando em grupos através d uns amigos. Mais histórias sem nenhum fundamento
180 - Quem é (nome da ex-mulher), a quem segundo as vítimas, o senhor indicava a conta para realização de depósitos?
Luciano - (Nome da ex-mulher) é minha ex. E o q estão falando
180 - Então o senhor nega ter se passado por funcionário da Caixa e da PMT? E quanto ao dinheiro que estas pessoas dizem ter pago?
Luciano - Quem são essas pessoas
180 - As pessoas que se dizem vítimas temem represálias. Reforço meus questionamentos. O senhor nega ter se passado por funcionário da Caixa e da PMT? E nega ter recebido dinheiro por serviços que não realizou?
Luciano - Sim
180 - Porque essas pessoas têm o número do seu cartão? A sua ex-esposa nega saber dos depósitos no nome dela. E que o senhor quem estaria em posse do cartão cuja conta são feitos boa parte dos depósitos. O que o senhor tem a dizer?
- Ele para por alguns minutos de responder
180 - Não vai mais se manifestar?
Luciano - Ela não está sabendo
180 - Ela não está sabendo dos depósitos? E o senhor, está? Como diversas pessoas tem feito depósitos na conta dela? Se senhor me afirma que ela não está sabendo, como e porque estes depósitos são feitos?
- Até que o suspeito parou de responder

fonte 180graus.com