quarta-feira, 15 de abril de 2015

Mais de 60 mil são prejudicados diariamente com interdição da BR-343. Reparação tem atraso


Mais de 60 mil são prejudicados diariamente com interdição da BR-343. Reparação tem atraso

Mais de 60 mil pessoas são prejudicadas diariamente com a interdição da rodovia. A BR-343 atualmente é o acesso mais movimentado da capital do Piauí


Sair ou entrar em Teresina pela BR-343 já era complicado. Depois que uma parte da rodovia desabou semana passada a vida de quem mora na região ou precisa transitar por ela virou algo parecido a uma via crucis. O incidente ocorreu na altura do condomínio Mirante do Lago (Zona Leste, divisa com Zona Sudeste) após alagamento.
Obra na BR-343. Interdição provoca dor de cabeça diariamente para mais de 60.000 pessoas. Foto: Orlando Berti / O Olho
Mais de 60 mil pessoas são prejudicadas diariamente com a interdição da rodovia. A BR-343 atualmente é o acesso mais movimentado da capital do Piauí. São teresinenses, moradores da grande Teresina e viajantes que precisam apenas passar pela capital que têm padecido com o aumento considerável (em distância e tempo) das viagens pelos desvios da 343 interditada para obras.
Quem mora nas vizinhas Altos, Campo Maior, Alto Longá e José de Freitas está demorando o dobro de tempo para chegar e sair de suas cidades. Quem vem de outros municípios do Norte do Piauí demora até meia hora a mais para chegar ou sair de Teresina. Nos horários de pico o tempo dobra.
Trecho interrompido e fazendo com que transeuntes aumentem tempo para chegar em casa. Foto: Orlando Berti / O Olho
Diariamente mais de 10 mil pessoas das cidades da Grande Teresina deslocam-se para a capital, alguns fazem o trajeto inverso. São estudantes, trabalhadores e pacientes médicos da Grande Teresina que precisam passar diariamente pela BR-343.
Outras 50 mil pessoas prejudicadas são bairros da região do grande Planalto Uruguai, do grande Alto da Ressurreição e adjacências urbanas e, principalmente, rurais, que também precisam fazer deslocamentos para a região central da capital.
Engarrafamentos nos desvios: uma constante para o já caótico trânsito de Teresina. Foto: Orlando Berti / O Olho
O trecho que cedeu é de pouco mais de 50 metros. Mas, devido não haver desvios próximos (o lugar fica em uma baixada) termina por obrigar os motoristas a trafegarem por quase dez vezes mais extensão e por quase 15 vezes mais tempo do que simplesmente passar pelos antigos 1.700 metros que dividem os balões da Ladeira do Uruguai e da entrada da Estrada da Usina Santana (trechos da BR-343 atualmente interditados para a obra).
Em muitos casos uma viagem dos bairros que circulam o trecho e das cidades vizinhas triplicou temporalmente, sem falar no desconforto para quem precisa de transporte público.

Quem precisa fazer o trajeto diariamente é um martírio, afetando diretamente em qualidade de vida.

A reportagem do portal foi conferir como estão as obras do trecho interditado e entender um pouco de como está o trânsito em horário de pico. Viu uma obra que demorará muitos dias para estar pronta, um trânsito caótico (impulsionado pela falta básica de informação) e muitas reclamações, além do risco de assaltos nas regiões de desvio.
Obras estão em ritmo lento
As obras do trecho problemático na BR-343 estão em ritmo lento. A responsabilidade pelo serviço é da construtora Getel. Segundo o diretor-geral do Departamento de Estradas de Rodagem do Piauí, José de Araújo Dias, a obra será entregue em 24 de abril. Ou seja, na semana que vem.
Ainda falta muito para a conclusão da obra. Promessa é para semana que vem. Foto: Orlando Berti / O Olho.
São menos de 50 metros de rodovia federal propriamente interditados. Esse trecho, de 20 metros de largura por oito metros de comprimento e quatro metros de fundura, teve estrutura levada por um alagamento após temporal na semana passada.
Foi cavado um grande buraco para dar sustentação à nova obra. Ele separa totalmente os trechos leste e oeste da BR, bem em frente à esquina do condomínio de luxo Mirante do Lago. Por conta disso nenhum veículo consegue passar de um lado para o outro. O percurso só é possível à pé, passando pelo buraco aberto e pelas obras.
Quatro barreira de cone para evitar trânsito no local da obra. Foto: Orlando Berti / O Olho.
Por conta do risco de desabamento total da rodovia, o lugar foi escavado para abrigar, abaixo da pista, uma obra de escoamento de água. É uma precaução caso haja novos alagamentos.
O entorno do trecho está lotado de materiais de construção. Mas o buraco propriamente dito continua aberto e com poucos avanços estruturais. O plano é fazer um sistema de escoamento de água com três grandes dutos (chamados de manilhas; cada uma tem, aproximadamente, um metro de altura). Nas imediações não está previsto nenhuma outra obra de escoamento.
Na tarde desta terça-feira (14 de abril) aproximadamente 20 homens trabalhavam na obra. Três tubulações estavam sendo instaladas. Dessa parte da obra somente 25% estava concluída.
Depois da instalação total dos dutos a área da BR-343 ainda precisa passar por compactação e asfaltamento, o que pode levar mais dias. Ninguém da obra não admite o atraso, mas é visível que ainda falta muito a concluir no trecho.
Trecho desviado. Mais tempo e mais distância. Foto: Orlando Berti / O Olho.
O mestre de obras que estava no local garante que a empreitada será entregue no prazo. Perguntado se com tanto material ainda por botar isso realmente era possível, preferiu ficar calado, pegando o telefone celular e fingindo fazer uma ligação.
Entre o balão da Ladeira do Uruguai até o trecho propriamente interditado são 700 metros, tendo quatro barreiras de cones nesse caminho. Até a última, já muito perto do buraco, ainda é possível transitar-se com um veículo, mas a última totalmente indica que o lugar realmente não é para veículos. Do outro lado, sentido Teresina-Altos, há duas grandes barreiras de cones. Na primeira, na altura do balão que dá acesso à estrada da Usina Santana, é praticamente impossível passar de carro por conta dos cones colocados pela Polícia Rodoviária Federal.
A obra tem despertado curiosidade de moradores da região e até de pessoas de outras regiões. Uma parte dos que mora perto faz questão de ir diariamente ao lugar para cobrar maior andamento da obra. Nesta terça-feira havia uma mulher com um cachorro exigindo do mestre de obras celeridade na obra.
Cadê a Strans e a Polícia Rodoviária Federal?
E, novamente, cadê a Strans – Superintendência de Trânsito de Teresina? Ela é responsável pela organização do trânsito nos trechos urbanos e usados como desvio do trecho interditado na BR-343. E cadê a Polícia Rodoviária Federal? Responsável pelo trecho rodoviário.
Av. Mirtes Melão com rua Professor Camilo Filho: único trecho a ter guardas da Strans. Foto: Orlando Berti / O Olho.
Durante os mais de 50 quilômetros percorridos nos trechos (durante duas vezes, em cada) pela reportagem do portal encontrou-se agentes da Strans apenas no cruzamento da avenida Mirtes Leão com rua Professor Camilo Filho (Estrada da Usina Santana). Quando a equipe chegou havia três agentes. Minutos depois um saiu. No mesmo trecho, 47 minutos depois, os agentes não estavam mais.
Somente foram encontrados outros, indo embora em um veículo Pálio, no cruzamento da avenida Mirtes Melão com a avenida Joaquim Nelson (um dos trechos mais complicados). Havia um engarrafamento de carretas e muitos carros parados.
Viatura da Strans deixando as ruas engarrafadas. Foram embora depois das 18h30. Foto: Orlando Berti / O Olho.
Os carreteiros eram os mais perdidos, pois não eram de Teresina e achavam muito estranho ter de adentrar uma rua extremamente urbana para continuar suas viagens.
Presença da PRF na BR-343 só em forma de placas e cones. Nenhum agente. Foto: Orlando Berti / O Olho.
No restante dos trechos não havia nenhuma informação por parte do poder público municipal.
Somente cones, novos e bem reluzentes, e em quantidade suficiente (com nomes garrafais constando PRF), diziam que o trecho de BR estava interditado.
Sobre a Polícia Rodoviária Federal a reportagem só encontrou duas viaturas, que estavam em movimento (não em fiscalização) passando pelo bairro Planalto Uruguai.
Nenhum inspetor da polícia responsável pelas rodovias federais foi encontrado na rodovia para dar informações aos perdidos motoristas. O veículo da reportagem ajudou a guiar dois motoristas, um de Goiás e outra de Teresina, para sair da cidade via o labirinto do desvio pela região do Planalto Uruguai.
Buraqueira, falta de informação, e muito zigue-zague nos dois principais desvios da BR-343
A reportagem do portal também testou como estão os dois principais desvios da BR-343: o via Estrada da Usina Santana e Alto da Ressurreição e o via Planalto Uruguai, Dom Avelar. Ambos estavam cheios de veículos, com fluxo médio (nos dois sentidos) de 25 a 28 carros, motos e caminhões por minuto.
O mais preocupante eram carretas e ônibus circulando por vias extremamente urbanas e não preparadas para tanta movimentação de veículos pesados. A avenida Dom Helder Câmara e a rua Professor Camilo Filho já apresentam muitos desgastes no asfalto.
Um veículo demoraria em média, mesmo em horário de pico, menos de cinco minutos para fazer o trajeto de 1.700 metros entre o balão da Ladeira do Uruguai e balão que dá acesso à estrada da Usina Santana, trecho atualmente interditado na BR-343.
Desvio pela estrada da Usina Santana. Mais curto, mas mais engarrafado. Foto: Orlando Berti / O Olho.
Se optar pelo desvio via estrada da Usina Santana (rua Professor Camilo Filho) e avenida Mirtes Melão (que liga a estrada até a avenida Joaquim Nelson, passando por todo o Alto da Ressurreição) o motorista percorrerá 4,9 quilômetros. A reportagem demorou 16 minutos e 50 segundos (com velocidade média de 17,7 quilômetros por hora) para percorrer esse trecho. Pegou três engarrafamentos em horário de pico.
Se o motorista optar pelo desvio via avenida Zequinha Freire, passando pelo Planalto Uruguai e bairro Dom Avelar, percorrerá 6,4 quilômetros. A reportagem demorou 16 minutos e 52 segundos (com velocidade média de 23 quilômetros por hora). O detalhe é que por esse desvio há muito mais buraqueira, mas menos veículos engarrafados, já que há muitas vias extensas que permitem boa velocidade.
Desvio pelo Planalto Uruguai. Sem as placas colocadas pelos moradores: labirinto. Foto: Orlando Berti / O Olho.
Além de não haver ajuda de agentes de trânsito (Strans e PRF) havia pouquíssima sinalização. A maioria, via pichações e pequenas placas, foi colocada pelos próprios moradores. Uma delas estava na quadra 4 do Planalto Uruguai e foi colocada pelo garçom Eugênio Oliveira, 42 anos. “Coloquei no sábado, pois toda hora aparecia gente perguntando, e perdida, aqui. É carreta atrás de carreta. Ninguém da Strans nunca deu as caras por aqui”, relatou, enquanto observava a movimentação de veículos.
Buracos cada vez mais constantes no desvio via bairro Dom Avelar. Foto: Orlando Berti / O Olho.
Risco de assaltos
Os desvios do trecho interditado da BR-343 em Teresina, além de serem em locais afastados e já esburacados são um risco à segurança dos motoristas. Ficam em lugares ermos, tornando os motoristas alvos fáceis de bandidos.
O trecho mais crítico é a buraqueira da Avenida Dom Helder Câmara, entre o bairro Dom Avelar e a BR-343.
Avenida Dom Helder Câmara: desvio perigoso. Buracos ajudam bandidagem. Foto: Orlando Berti / O Olho.
Durante todos os quilômetros andados nos desvios pela equipe de reportagem foi visto apenas uma viatura do Rone (Rondas Ostensivas de Natureza Especial) da Polícia Militar do Piauí. O carro, uma L-200, transitava pela rua Professor Camilo Filho (estrada da Usina Santana). A viatura estava passando. Em todos os outros trechos: nada de polícia.
Tanto a estrada da Usina Santana quanto a avenida Dom Helder Câmara não há iluminação pública. Entre 18h30 e 5h é uma escuridão quase total. Por causa da buraqueira os motoristas terminam sendo alvos fáceis por terem de frear e quase parar os veículos.
No brêu (escuridão): assim são os desvios da BR-343 no período noturno. Foto: Orlando Berti / O Olho.
Já não bastava sofrer em ter de andar como barata tonta pelos desvios e também ser assaltado ou ter o carro avariado com tanta buraqueira. E assim continua a vida diária dessas 60 mil pessoas e tantas outras. Se correr cai no buraco ... se ficar o buraco pode fazer algum bandido ir te pegar.

fonte portal o olho