Dia de cão em Teresina: chuvas, alagamentos, queda de árvores e muita falta de energia elétrica
Duas chuvas torrenciais trouxeram vias congestionadas, alagamentos, muita falta de energia elétrica e um caos no trânsito a dar inveja a São Paulo
O dia 09 de abril de 2015 é uma data para ser esquecida por praticamente toda a população de Teresina e todas as pessoas que precisaram chegar ou sair da capital piauiense.
Duas chuvas torrenciais, uma ocorrida entre a madrugada e o amanhecer, outra ao entardecer: trouxeram vias congestionadas, alagamentos, muita falta de energia elétrica e um caos no trânsito a dar inveja a São Paulo (que comumente tem engarrafamentos de mais de cem quilômetros).
Bastou pouco mais de quatro horas de chuva para mostrar que a capital do Piauí tem carências urgentes de sistema de drenagem e que a maioria de suas vias não está adaptada para suportar uma chuva torrencial de mais de dez minutos.
Depois da segunda grande chuva desta quinta a reportagem de O Olho percorreu quase 150 quilômetros da cidade, principalmente nas zonas Sudeste, Leste e Norte, conhecendo e vivenciando um pouco desse caos. Viu motoristas estressados, alguns deles perdidos, com carros enguiçados e muita gente xingando as autoridades (principalmente a Prefeitura de Teresina) por conta de terem perdido horas para poder voltar para casa.
Dois graves problemas chamaram atenção depois da chuvarada: alagamentos em dezenas de vias, e até na principal rodovia que dá acesso a Teresina (a BR-343), e falta de energia elétrica.
Até que faltar energia na cidade não é novidade, mas dessa vez, tão logo o fornecimento era restabelecido faltava novamente. Em alguns pontos da zona Leste da cidade faltou energia quase dez vezes em menos de seis horas. E dessa vez pouco ventou.
Não pode dar uma chuva que falta energia elétrica
Várias avenidas e ruas da cidade ficaram às escuras. “É serviço demais. Todo mundo reclamando. Estou para ficar louco”, disse um dos responsáveis por religar o fornecimento de energia elétrica na avenida Nossa Senhora de Fátima (proximidades de uma escola de idiomas). “Aqui é zona dos ricos e o povo enche o saco mesmo. A gente não dá conta de tanto pedido”, relatou o prestador de serviço, baixando a escada e já indo atender outras religações na região.
Avenidas com a Raul Lopes (uma das mais movimentadas da Zona Leste) ficou às escuras. Só se via as luzes dos veículos. A mesma situação ocorreu nas avenidas João XXIII, Presidente Kenedy, Joaquim Nelson e Zequinha Freire, além de centenas de ruas.
A falta de energia elétrica prejudicou em mais de 70% o movimento de bares e restaurantes das avenidas Nossa Senhora de Fátima e Jockey Club, tradicionais polos gastronômicos e de entretenimento da cidade.
“Não é a primeira vez que isso acontece. Dá um pingo a gente sabe que falta energia”, contou um dos responsáveis por um estabelecimento especializado na venda de frutos do mar. “Quem paga o prejuízo”, questionou.
Árvore de 20 metros cai na Avenida Kennedy e prejudica desvio de veículos da já interditada BR-343
Um dos incidentes mais graves desta quinta-feira foi a queda de uma árvore de mais de 20 metros na avenida Presidente Kenedy, bairro São Cristóvão, entre a avenida Senador Área Leão e a rua Deputado Vitorino Correia. Por sorte ninguém ficou ferido. Parecia que tinha passado um furacão pela região.
O fato ocorreu no final da tarde e até o final da noite o que restou da árvore ainda não tinha sido retirada.
A queda provocou o desligamento de mais de 50 quarteirões na zona Leste da cidade. Destruiu seis postes de média e baixa tensão. Um dos fios de média tensão caiu na pista. Para evitar acidentes houve a interdição de toda a via e entornos.
O fluxo de veículos no sentido Zona Leste – Centro foi totalmente interditado. Carretas formavam um congestionamento de mais de 500 metros. No lado oposto o trânsito ocorria de maneira lenta e por meia hora o trânsito ficou interditado também após um ônibus coletivo apresentar problemas mecânicos. Via-se no rosto dos passageiros dos lotados coletivos que transitavam pela região muito estresse e muito xingamento. A mãe do prefeito de Teresina era a mais ofendida. Sobrou até para o governador e sua mãe.
No balão que liga a BR-343 a avenida Kenedy havia um conjunto de cones e faixas impedindo o trânsito de veículos. Os carros só conseguiam fazer o percurso no sentido Centro – Zona Leste em vias alternativas, voltando à Kenedy depois de 200 metros do Balão do São Cristóvão.
Um dos detalhes é que a avenida Kenedy era usada como desvio da BR-343. A rodovia federal foi interditada desde o início da manhã desta quinta sob ameaça de desabamento por causa de alagamentos.
Ninguém para informar caminhoneiros sobre bloqueios. Carretas e caminhões perdidos na zona Leste da cidade
A equipe de O Olho encontrou vários caminhoneiros e carreteiros vagando, e perdidos, por ruas e avenidas de Teresina. Sem uma sinalização adequada, muitos terminavam seguindo o fluxo de veículos (a maioria com destino urbano) e terminavam se perdendo. Não havia ninguém para dar informações e nem explicar os motivos das interdições.
Foi encontrado uma carreta, do Paraná, perdida em frente à Uninovafapi. Outro caminhoneiro, com veículo de placas de Pernambuco, estava perambulando por ruas do Alto da Ressurreição. Um carreteiro, veículo com placas de Alagoas, não sabia como voltar após se perder no bairro São Cristóvão. “Minha carreta é grande, se entrar em uma rua estreita, quebra os fios”, contou.
Um caminhão tanque imprensou um Celta na avenida Joaquim Nelson. O caminhão era mais um a desviar da rodovia paralisada.
A BR-343 está interditada na altura do Balão que dá acesso à região do Dirceu Arcoverde e à região do Planalto Uruguai (do lado da saída de Teresina) e no balão de acesso à estrada da Usina Santana (do lado da entrada de Teresina).
Em ambos os locais há cones da Polícia Rodoviária Federal. Mas durante todos os momentos que a reportagem esteve nesses locais não foram vistos nenhum policial rodoviário federal dando instruções para os motoristas. Não havia placas.
No balão da Usina Santana, em plena 22h30, havia um rapaz perdido perguntando se ali passaria algum ônibus para Campo Maior. Os coletivos intermunicipais estavam circulando do lado oposto, entrando na avenida Zequinha Freire e pegando estrada da Cacimba Velha para sair nas proximidades do Posto da PRF da BR-343.
Passados mais de 24 horas: avenida Joaquim Nelson continua uma lagoa
Para quem não conhece a avenida Joaquim Nelson, entre o Dirceu Arcoverde e a BR-343, acha que ali é uma lagoa há tempos.
O lugar, desde o meio da noite desta quarta, ficou alagado. Duas empresas de material de construção foram totalmente tomadas. Até o muro de contenção da construção do Shopping Jardins rompeu com a força da água. Só veículos tracionados trafegavam pela região.
A área alagada da avenida Joaquim Nelson virou até ponto turístico. Alguns moradores da região peregrinavam ao local. Até selfie alguns faziam. Um brincalhão chegou a dizer que amanhã trará uma vara de pescar.
Até o final da noite desta quinta, passados 24 horas do alagamento, o lugar ainda continuava mais parecendo uma lagoa do que propriamente uma das avenidas mais largas e movimentadas da zona Sudeste da capital.
Com tanto alagamento os transtornos prometem continuar a acontecer nesta sexta-feira. O jeito, para alguns, é rezar para que não haja chuva. O que é bom para a agricultura, termina sendo um caos (cada vez mais presente) na já tão complicada vida de que mora em Teresina.