Encontro com crianças e adolescentes nas BRs é marcado pela internet
Nova dinâmica entre aliciadores e pedófilos dificulta flagrantes da PRF.
Se antes eram os postos de combustível os principais pontos vulneráveis à exploração sexual de crianças e adolescentes nas rodovias do Piauí, hoje a situação começa a mudar, e pra pior. A Operação Araceli, realizada nesta segunda-feira (18) pela Polícia Rodoviária Federal com o objetivo de combater esse tipo de crime, evidenciou uma nova dinâmica entre aliciadores e pedófilos.
Fotos: Assis Fernandes/ODIA
Segundo o inspetor Stanley Kaynes, do núcleo de Comunicação Social da PRF as redes sociais têm sido utilizadas pelos criminosos, o que dificulta a realização do flagrante. “Muitas vezes, quando chegamos nesses lugares, não conseguimos flagrar a situação. Isso porque o contato entre o aliciador e a pessoa que vai se encontrar com a criança ou o adolescente, já é feito através de telefone e internet”, conta Stanley.
Somente este ano, a PRF registrou três ocorrências contra crianças e adolescentes nas rodovias piauienses, sendo identificadas quatro vítimas. Em 2014, houve apenas uma ocorrência e uma vítima. Já em 2013 foram identificados quatro tipos de crimes e 16 vítimas.
De acordo com o Mapeamento de Pontos Vulneráveis à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes nas Rodovias Federais Brasileiras, o Piauí tem 31 municípios nessa condição. Desse total, 18 foram classificados como de risco alto ou crítico. Ao todo foram localizadas 110 áreas com algum risco (baixo, médio, alto ou crítico) para ocorrência de prostituição infantil.
As cidades mais localizadas nas divisas entre o Piauí e outros estados apresentaram altos índices de pontos vulneráveis, a exemplo de São João da Fronteira (4), Marcolândia (2) e Fronteiras (9). Parnaíba, Oeiras e Campo Grande do Piauí têm cinco pontos de risco.
Pontos vulneráveis são ambientes ou estabelecimentos onde os agentes da Polícia Rodoviária Federal encontram características - presença de adultos se prostituindo, inexistência de iluminação, ausência de vigilância privada, locais costumeiros de parada de veículos e consumo de bebida alcoólica - que propiciam condições favoráveis à exploração sexual de crianças e adolescentes.
PRF fez campanha com motoristas que passaram pela BR-343
A Operação Araceli foi realizada durante toda a manhã de hoje em parceria com a Polícia Militar e do Conselho Tutelar de Teresina. A mesma ação acontece em todas as rodovias do Brasil e tem como foco a realização de palestras de conscientização e a distribuição de informativos aos motoristas.
No Piauí, foram abordados os motoristas que passavam pelo Posto 01 da PRF, na saída de Teresina para Altos (BR-343). Todos os condutores são alvos da campanha, principalmente caminhoneiros, já que muitos estão ligados diretamente com o abuso de crianças e adolescentes nas estradas.
Segundo o inspetor Ricardo Farias, da PRF, durante a ação são informados números para denúncias e explicada a questão social envolvida. “Muitas crianças não tem aparato familiar adequado, condições financeiras, e se colocam em situação de vulnerabilidade. Então, ao invés de tirar proveito dessa situação, deve-se combater”, alerta o inspetor.
A denúncia dos casos aos órgãos competentes é de suma importância, pois eles são responsáveis por proteger e acolher os menores. “As pessoas têm que denunciar quando passarem nas estradas e identificarem casos exploração. Temos o disque 100 só para denúncias”, reforça a conselheira tutelar Cláudia Pires.
O motorista Adalto bezerra, de 65 anos, participou da palestra realizada na ação. “É importante este tipo de ação, pois dá mais conhecimento para que a gente, que está sempre na estrada, realmente possa contribuir e dar informações sobre onde está acontecendo alguma coisa errada”, conta.
Por que 18 de maio?
A Operação Araceli é para lembrar a trágica morte da criança Araceli Cabrera Sánchez Crespo, que foi brutalmente molestada e morta durante orgia em 18 de maio 1973, em Vitória, no Espírito Santo.
O corpo foi encontrado somente seis dias depois, desfigurado por ácido e com marcas de extrema violência e abuso sexual. Os possíveis autores do crime nunca foram condenados, mesmo com fortes evidências de que este não seria o primeiro crime.
A ideia de se celebrar o Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes surgiu em 1998, após uma grande mobilização que desencadeou um projeto de lei, que estabeleceu o dia da morte de Araceli como Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. O projeto virou a Lei N° 9.970, sancionada em 17 de maio de 2000 pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso.