Gil Paraibano: conheça o “coronel” que está no centro da política no Sul do Piauí
Um dos homens mais ricos do estado, empresário Gil Paraibano, fala porque deve ser candidato a prefeito de Picos e mexer também com as eleições de 2018 no Piauí
O jeito simples, caboclo, mal vestido aos padrões da moda, de fala grossa e mansa, escondem que o empresário Gil Marques de Medeiros, 68 anos, seja o alvo das atuais atenções políticas de todo o Sertão piauiense. Gil Paraibano, como é mais conhecido um dos 50 homens mais ricos do Piauí, tem de tudo para ser o candidato das oposições na cidade e começar a dar as cartas para quem estará ao lado, ou contra, o grupo do governador Wellington Dias (PT). Apesar de negar, tem se articulado politicamente para tentar pela terceira vez ser prefeito da cidade e começa a fortalecer uma nova via para a disputa eleitoral ao Governo do Piauí em 2018.
O ex-prefeito de Picos recebeu a reportagem do portal em uma de suas revendedoras de veículos. Além de ser um dos campeões de venda de carros novos no Nordeste, é dono de milhares de cabeças de gado, tem várias fazendas, centenas de terrenos em várias cidades do estado, inclusive na capital, é proprietário de construtoras e dezenas de outros empreendimentos. Dinheiro não seria problema para entrar em uma disputa eleitoral, mesmo acirrada.
O patrimônio milionário do ex-prefeito começou a ser construído desde seus 11 anos de idade. Na juventude saiu do Sertão da Paraíba e veio morar na região de Picos, por isso recebeu o apelido de Paraibano. Hoje é o homem mais rico e um dos mais respeitados da cidade. Tem fama de durão, não tem papas na língua e seu vozeirão e jeito firme de encarar chega a meter medo em alguns interlocutores.
Depois de fumar vários cigarros e de responder praticamente a todas as perguntas, sem fugir das polêmicas, praticamente garantiu nas entrelinhas que será o candidato das oposições à prefeitura da cidade no ano que vem. As falas de Gil Paraibano iniciam o acirramento não só a disputa pelo comando do Palácio Coelho Rodrigues (sede do poder municipal picoense) mas também começam a dar as cartas para as eleições estaduais de 2018, já que o principal concorrente do empresário em Picos é o recém-empossado prefeito de Picos, padre Walmir Lima (PT), aliado de primeira hora do governador Wellington Dias e que fez o partido da presidente Dilma chegar pela primeira vez ao poder no terceiro maior e segundo economicamente mais importante município do Piauí.
Confira os principais pontos da entrevista feita em um pé de balcão e entremeio aos mais de 20 veículos novos expostos em uma das concessionárias do empresário. Nos quase 80 minutos de conversa ele fumou quase dez cigarros e sempre fez questão de olhar nos olhos do entrevistador.
SERÁ OU NÃO CANDIDATO A PREFEITO?
Gil Paraibano nunca perdeu uma eleição. Com o discurso de mudança, principalmente balizado em experiência administrativa de ter sido por mais de 30 anos na cidade um empresário bem sucedido, foi eleito prefeito da cidade e a governou, com estilo ímpar e polêmico, entre 2005 e 2012.
Em 2012 tentou eleger a sobrinha, atual deputada estadual Tazmânia Medeiros, mais conhecida por Belê (PSB), prefeita da cidade. O cansaço dos picoenses em relação à administração Gil Paraibano pedia mudança e com o discurso do movimento Muda Picos elegeram o então deputado estadual Kléber Eulálio (PMDB), amigo de longas datas e correligionário de Gil Marques, e o padre Walmir Lima, do PT. No final deste semestre Eulálio foi eleito para ser conselheiro do Tribunal de Contas do Estado e o padre chegou ao poder na cidade.
Sobre ser candidato ou não à prefeitura de Picos, Gil Paraibano desconversa. Alega ainda estar ocorrendo muitos pontos da reforma política. Diz sequer saber se haverá eleições municipais no ano que vem.
Mas recente movimentação política de sua filiação, com direito a muita pompa e divulgação, ao Partido Progressista (PP), encabeçado no estado pelo senador Ciro Nogueira, dá as caras que o ex-prefeito de Picos está se movimentando sim.
“Não tenho mandato. Quem vai dizer se sou candidato ou não é Deus. Nós não somos nada sem Ele”, destacou, menos messiânico apenas que o folclórico ex-governador e ex-senador Mão Santa, que usava o nome de Deus em cada duas frases.
Sobre o assunto ele finaliza dizendo que pode ser candidato se o povo quiser e as pesquisas apontarem para isso, mas que não sente saudades da prefeitura.
Correligionários já espalham na cidade o movimento “Volta Gil”.
SOBRE O PADRE-PREFEITO DE PICOS
Outro ponto que mostra que Gil Paraibano tomou gosto pela candidatura são os comentários sobre seu possível adversário, o padre Walmir Lima (PT) atual prefeito da cidade. “Qual foi a empresa que ele já administrou? Ele é formado em quê? Ele foi preparado para ser o quê? A prefeitura é como se fosse uma empresa, só que é pública”, alfinetou, sobre o fato do prefeito da cidade ser um sacerdote católico e ter formação para ser líder religioso e não líder político, bem como nunca ter experiência política.
“Mas não vou intervir, nem atrapalhar. Se não está bem o povo tira, vivemos em uma democracia”, enfatizou.
Perguntado se foi essa vontade que tirou o grupo dele do poder em 2012 Gil Paraibano disse que eles não perderam a eleição, mas foi a vontade de Deus e do povo que fez isso.
O ex-prefeito complementa que não botou dinheiro do povo no bolso e cita a Bíblia, dizendo que é errado pegar no dinheiro da população. “Se aplicar errado, prestará contas é com Deus”.
Gil Paraibano diz que o padre-prefeito não pode roubar e nem deixar os outros roubarem. “Estou só assistindo, pois se fizer uma administração ruim o problema é dele, e não meu”, finalizou dizendo que não tem adversários políticos em Picos.
ADMINISTRAÇÃO PARALELA
Um dos pontos que levou Gil Paraibano a ser prefeito da cidade pela primeira vez foi quando começou a desenvolver série de trabalhos sociais na cidade, com distribuição de cestas básicas e outros alimentos em períodos como a Semana Santa e Natal.
Dono de várias máquinas: abriu estradas, consertou rodovias municipais , doou ambulâncias e fez vários trabalhos, que deram fama a fazer uma administração paralela.
Mesmo depois de eleito continuou fazendo esse tipo de atividade.
E, já em 2015 voltou a atuar socialmente. Uma de suas últimas peripécias foi mandar uma máquina patrol ajeitar os acessos ao terminal rodoviário de Picos (que também poderia ser facilmente confundido com um chiqueiro de porco – de tão imundo e abandonado). “Fiz como qualquer cidadão faria”.
Gil Paraibano diz que saiu da prefeitura de Picos sem dever e que teria tirado, do próprio bolso R$ 186.000,00 para complementar folha salarial dos servidores. “Não vou estar andando na rua para que me chamem de velhaco, por isso fiz a complementação”.
RELAÇÃO COM WELLINGTON DIAS
Sobre o governador do estado, Wellington Dias, hoje do partido do seu principal adversário em Picos, Gil Paraibano diz continuar tendo uma boa relação com o mandatário número um do Piauí.
“Votei nele. Converso com ele. Desde o primeiro dia de mandato a gente vem dialogando e elegemos como prioridades para Picos o mercado e o hospital”, destacou.
PROBLEMAS COM A JUSTIÇA
O ex-prefeito de Picos diz estar às avessas com a Justiça. Diz que tem, aproximadamente, 50 processos e que nunca deu parte de ninguém (denunciou alguém à Justiça). “Tudo isso é contra mim. A Justiça às vezes falha porque acata esses processos contra minha pessoa”.
Perguntado se acha que é um homem perseguido ele diz que não e que todos os processos que responde são para tentar cala-lo.
No dia que a reportagem do portal esteve com o ex-prefeito Gil Paraibano o mesmo teve de adiar a entrevista porque estava em uma audiência na Justiça em que é acusado de ameaçar o vereador e presidente da Câmara de Vereadores da cidade, Hugo Victor (PMDB). “Confio na Justiça”, destacou.
Cercado de funcionários, muitos deles com mais de 30 anos de casa, o ex-prefeito só se despediu após perguntar se todas as indagações tinham sido sanadas. Deu um aperto de mão bem forte e brincou dizendo que se o repórter que o entrevistou colocasse alguma coisa que ele não disse iria atrás para tirar satisfação. Esse é o jeito e a marca forte do homem que quer continuar a implementar a frase maçônica e positivista de “Ordem e Progresso”, lema da bandeira nacional e que foi o slogan de suas duas administrações.
